As faces do instrumento caipira no ‘Moda é Viola’

Violeiros da antiga e da nova geração se apresentam no Teatro Sesc Centro nos dias 25 e 27 de outubro

Postado em: 24-10-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Violeiros da antiga e da nova geração se apresentam no Teatro Sesc Centro nos dias 25 e 27 de outubro

Bruna Policena*

Nos dias 25 e 27 de outubro, o Teatro Sesc Centro vai ser ocupado pelo festival A Moda é Viola. Serão quatro atrações com foco na viola caipira, que vão se apresentar a preços acessíveis, explorando as possibilidades do instrumento por meio da mistura de diversos estilos musicais. Nos shows, violeiros da antiga e da nova geração reinventam e retomam o significado da viola em apresentações que inevitavelmente levam o imaginário a um lugar mágico: o sertão.

“Estou pedindo licença

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Pra mim ‘caba’ de chegar

Nasci pra ser violeiro

Transformo o mundo inteiro

Traduzindo meu lugar…”

(‘Herança’ – Domá da Conceição)

Programação

Nesta quarta-feira (25), subirão ao palco Galvan e Galvãozinho, conhecidos como ‘os reis da catira’ e considerados uma das principais duplas tradicionais na ativa. Com mais de 40 anos de carreira, eles personificam a história da música caipira e fazem uma verdadeira viagem às raízes da viola, cantando modas, pagodes e toadas que remetem ao interior. O violeiro Pedro Vaz também se apresenta no show autoral inédito, Dê Espaço ao Tempo, que dá nome ao CD, cujo lançamento está previsto para dezembro próximo. O trabalho instrumental propõe uma pausa na agitação diária para a apreciação musical. Para ele, a música deve ser considerada não apenas entretenimento, mas uma possibilidade de contemplação.

Outra experiência surpreendente para os apreciadores da música do Cerrado se dará na sexta-feira (27). O grupo Encontro Violado se apresentará em clima de confraternização e emoção. Os integrantes do grupo mostrarão  composições individuais e coletivas fazendo uma espécie de brincadeira musical. No mesmo dia, o ícone do rock rural e da folia de reis Domá da Conceição se apresentará com o disco Anjo Alecrim, homônimo ao premiado documentário que conta fala sobre seus 20 anos de carreira.

Raiz 

O festival A Moda é Viola nasceu em março de 2015 juntamente com a Violada Produções, ambos com a intenção de produzir trabalhos e eventos ligados à viola. Apenas uma edição foi realizada, no mesmo ano, no Teatro da Caixa, em Brasília (DF). O grupo goiano Cega Machado, o violeiro mineiro Luiz Salgado e o brasiliense Cacai Nunes foram algumas das atrações. O festival visa a apresentar ao público a diversidade e a riqueza do instrumento, seja por meio de duplas tradicionais, violeiros solo ou músicas instrumentais modernas.

Neste ano, o festival é produzido pela Violada Produções em conjunto com a Mitema Projetos Culturais & Soluções Sustentáveis, e conta com o apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Goiânia. Taiana Martins, da Mitema, conta que a ideia partiu do “desejo de criar uma cena da viola caipira que apresente sua diversidade de estilos que fuja do convencional”. “Dessa forma, viola rock, moda de viola e viola contemporânea se mesclam numa riqueza de estéticas musicais fugindo da indústria do sertanejo”, conta.

Instrumento

A viola foi trazida ao Brasil pelos jesuítas e colonos portugueses, e foi consolidada como importante instrumento no País na segunda metade do século 20. A palavra ‘viola’ pode fazer referência a vários tipos de instrumentos, daí a necessidade de diferentes denominações como viola caipira, viola de arame ou viola brasileira. Embora seja usado muitas vezes de forma pejorativa, o termo ‘caipira’ foi incorporado como uma referência ao homem do campo, que utiliza o instrumento não apenas em confraternizações, mas também em rituais tradicionais de devoção.

O tamanho da viola, que é bem menor, é a principal distinção dentre os instrumentos de corda; além disso, de formato singular, por seu posicionamento das cordas – dez delas conectadas aos pares, resultando em cinco parelhas. As duas simetrias mais agudas são afinadas no mesmo conjunto de sons, a mesma nota em altura idêntica. Os outros pares são apurados em oitavas, ou seja, nota igual, com distintas alturas de uma oitava. O executante da viola caipira usa suas cordas bem frouxas, o que, ao lado do processo de afinação, da forma de se extrair sons destacados, e de seu toque, lhe confere uma sonoridade única. Como suas cordas são fabricadas com o aço, demanda-se o uso de palheta, dedeira ou então longas unhas para sua execução.

Atrações

Galvan e Galvãozinho – Naturais de Anápolis, com mais de 30 anos na estrada, personificam a história da música caipira cantando as modas de viola, pagodes e toadas que caracterizam o clima do interior goiano. Herdaram o título de ‘os reis da catira’. Eles têm aproximadamente mil músicas gravadas, e é uma das duplas mais tradicionais do Estado de Goiás. As vozes de Galvan e Galvãozinho personificam a história da música caipira. Os músicos mantêm os pés fincados nas tradições como as raízes mais resistentes da cultura popular regional.

Pedro Vaz – Desenvolveu a relação com a viola com tempo, disciplina, pesquisa e, principalmente, motivado pela paixão pelo instrumento. A intimidade com a viola foi construída por diversos caminhos: no convívio com as manifestações da cultura popular do Centro-Oeste, na audição de vasta musicografia da música de viola, na composição de músicas e arranjos para viola. O violeiro, que compõe duo com o baixista Jefferson Amorim, é também integrante da Banda Judas e produtor cultural. Dentre seus projetos, estão os encontros de duos com os músicos BC Araújo e Paulo Rogério (Duo Salaminga). Recentemente, os duos se encontraram para uma apresentação no Clube do Choro.

Encontro Violado – trata-se de um coletivo de violeiros vindos de outros grupos musicais como Cega Machado (Diego Lobo e Pedro Vaz), Sertão e Umbando (Olavo Telles), Chapéu di Paia (Billy), Erotori (Paula de Paula), Duo Goiás (Alexandre Nonato) e Cia. Bambulengo (Rodrigo Gorgumã). A apresentação ocorre em formato de roda de viola, onde cada violeiro compartilha suas músicas, ora solo, ora em duplas, trios e com o grupo todo. Olavo, um dos integrantes, explica que este ‘encontro’ já existe há cinco anos, e o que o torna especial é que cada um tem seu estilo e influência individuais. Todos são compositores; uns gostam mais da viola contemporânea, outros mais da tradicional. E, juntos, apresentam um “repertório rico e autoral”, como define o violeiro.

Domá da Conceição – Filho de violeiro e folião, Lindomar – ou simplesmente Domá da Conceição – é cantor, instrumentista e compositor. Bebeu das fontes do rock para reencontrar seu porto seguro na música folclórica, em Goiás, e foi premiado em diversos festivais nos anos 1980, no auge do rock rural. Típica figura do caipira, explora ritmos como folia de reis, guarânia, chamamé e congada. E foi com esta nova roupagem que Doma embrenhou pelos festivais da década de 80. “Comecei a tocar violão de 12 cordas depois que vi Jimi Page (guitarrista da extinta banda inglesa Led Zeppelin) fazer o mesmo; eu tinha vergonha de falar que tocava viola caipira”, contou Domá. As primeiras participações em festivais em Goiás e outros estados já traziam traço da sua transformação. Ele ‘bebeu’ de tudo com vontade, de Bob Dylan a Irom Maiden”. 

*Integrante do programa de estágio do jornal O HOJE sob orientação da editora Flávia Popov

SERVIÇO

Festival A Moda é Viola

Quando: 25 e 27 /10 (quarta e sexta-feira)

Onde: Teatro Sesc Centro (Rua 15, Setor Central – Goiânia)

Horário: 20h

Ingressos: valores de R$ 7 a R$ 20 em www.bilheteriadigital.com/sesc-projeto-a-moda-e-viola-25-de-outubro 

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