População colabora para mapeamento digital de espaços ‘invisíveis’ em Goiânia

O projeto estimula o registro da localização de patrimônio arquitetônico art déco, árvores frutíferas, edificações abandonadas e arte urbana, em Goiânia, por meio de mapeamento digital

Postado em: 31-10-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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O projeto estimula o registro da localização de patrimônio arquitetônico art déco, árvores frutíferas, edificações abandonadas e arte urbana, em Goiânia, por meio de mapeamento digital

Quando a cidade cresce e a rotina fica mais corrida e individualista para quem vive nela, é comum deixar de apreciar espaços e elementos que compõem o território urbano coletivo. Diante desta percepção, o projeto Cidade (In)visível estimula o registro da localização de patrimônio arquitetônico art déco, árvores frutíferas, edificações abandonadas e arte urbana, em Goiânia, por meio de mapeamento digital. Com apoio do Fundo de Arte e Cultura de Goiás, a Sobreurbana realizou a etapa inicial do trabalho, que está disponível em website aberto à colaboração da população: www.goianiacidadeinvisivel.com.br.

Com intuito de subsidiar o projeto comemorativo dos 84 anos de Goiânia, durante setembro e outubro deste ano a Sobreurbana promoveu oficinas gratuitas, uma delas destinada à criação de um guia colaborativo de ruralidades urbanas, com interesse na origem e no desenvolvimento de práticas de cultivo, criação de animais e apropriações vinculadas à população que sai do campo para residir na cidade – além de quatro ações de formação em mapeamento digital com os temas Vazios Urbanos, Arte Urbana, Cidade Comestível e Art Déco.

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A concepção do Cidade (In)visível parte do princípio de que só se tem afeto e cuidado por aquilo que se conhece. “Goiânia possui um importante patrimônio art déco, que boa parte da população desconhece, e o mapeamento é estratégia de sensibilização para sua preservação”, comenta a arquiteta urbanista Carol Farias, cofundadora da Sobreurbana.

Também vão sendo invisibilizados na cidade os chamados ‘vazios urbanos’, áreas ou edificações inutilizadas ou subutilizadas que representam desperdício de espaço e infraestrutura. Para Carol, são pontos deflagradores de violência urbana que precisam ser conhecidos para serem discutidos, apropriados e reconvertidos para alguma função social. “Em novembro de 2016, a Câmara Municipal de Goiânia aprovou, em primeira votação, lei que propõe que os vazios urbanos sejam destinados a projetos de Economia Criativa”, lembra.

Já a arte urbana cumpre o papel de dar vazão à voz e sentimentos da juventude, muitas vezes reprimida na sociedade. Goiânia possui um acervo respeitável de arte urbana, que elevou alguns de seus artistas ao reconhecimento internacional, como Kboco e Bicicleta sem Freio. No entanto boa parte dessa arte, especialmente aquela ainda marginal, está disponível em becos e áreas de pequeno acesso.

O Museu Zoroastro Artiaga, na Praça Cívica, está cercado de mangueiras. No Setor Universitário, tem cajueiro na Rua 227 e mamoeiro na 1ª Avenida. Jambo do Pará podem ser encontrados no Setor Bueno e Parque Amazonas. “Precisamos respeitar e valorizar a vegetação contida entre os espaços construídos. As árvores frutíferas são importantes elos entre pessoas e a natureza”, opina a arquiteta urbanista. Para quem acessar o site, o mapa digital Cidade (In)visivel poderá se revelar como maneira interessante de reconhecimento de Goiânia. A ferramenta foi criada em código aberto. “O mapeamento vai se tornar cada vez mais atrativo à medida que os dados forem sendo publicados, a partir da colaboração de seus usuários.”, ressalta o jornalista André Gonçalves, cofundador da Sobreurbana.

Cartografia

Em parceria com pesquisadores do Indisciplinar, grupo de pesquisa vinculado ao CNPq e sediado na Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Cidade (In)visível também capacitou estudantes, pesquisadores e profissionais para a elaboração da Cartografia Colaborativa para construção da Plataforma Urbanismo Biopolítico. “Um assunto bastante oportuno no momento em que Goiânia debate a operação urbana consorciada no Setor Pedro Ludovico e a revisão do Plano Diretor”, avalia Carol.

No trabalho realizado por quatro dias, a pesquisa foi estendida para Goiás, a partir de investigações inicialmente realizadas em Belo Horizonte. Lá,está sendo cartografado o conjunto das diferentes forças políticas, econômicas, sociais, que constituem disputas do território. Segundo Carol, a Plataforma de Urbanismo Biopolítico é fundamental para organizar a informação existente, coletar a que não existe, e disponibilizar à população. 

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