Iceberg maior que a cidade de São Paulo pode colocar espécies em risco

Conhecido como A23a, o iceberg se separou da plataforma de gelo Filchner, na Antártica, em 1986. E durante muitos anos ficou preso no fundo do mar de Weddell. Mas, agora não mais

Postado em: 28-11-2023 às 15h38
Por: Cecília Epifânio
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Iceberg maior que a cidade de São Paulo pode colocar espécies em risco | Foto: Reprodução / Getty Image

Um dos maiores icebergs do mundo está à deriva para além das águas da Antártida, depois de ter ficado encalhado durante mais de três décadas, de acordo com o British Antarctic Survey.

Conhecido como A23a, o iceberg se separou da plataforma de gelo Filchner, na Antártica, em 1986. E durante muitos anos ficou preso no fundo do mar de Weddell. Mas, agora não mais.

Imagens recentes de satélite revelam que o iceberg, pesando quase um bilião de toneladas, está passando rapidamente pela ponta norte da Península Antártica, graças aos fortes ventos e correntes marinhas. O iceberg é três vezes maior que a cidade de São Paulo, medindo cerca de 4.000 km2.

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Segundo Oliver Marsh, glaciologista do British Antarctic Survey, é muito raro ver um iceberg deste tamanho em movimento, por isso os cientistas estarão observando sua trajetória mais de perto.

À medida que ganha força, o colossal iceberg provavelmente será lançado na Corrente Circumpolar Antártica. E isso o levará em direção ao Oceano Antártico por um caminho conhecido como “beco dos icebergs”, onde outros do seu tipo podem ser encontrados flutuando em águas escuras. 

“Com o tempo, provavelmente diminuiu ligeiramente e adquiriu um pouco de flutuabilidade extra que lhe permitiu levantar-se do fundo do oceano e ser empurrado pelas correntes oceânicas”, disse Marsh. A23a também está entre os icebergs mais antigos do mundo.

Andrew Fleming, especialista em sensoriamento remoto do British Antarctic Survey, disse em entrevista à BBC que o iceberg esteve à deriva durante o ano passado e agora parecia estar ganhando velocidade.

“Perguntei a alguns colegas sobre isto, perguntando-me se havia alguma possível mudança nas temperaturas da água da plataforma que pudesse ter provocado isso, mas o consenso é que a hora tinha acabado de chegar”, disse Fleming à BBC.

Fleming também disse ter avistado, pela primeira vez, o movimento do iceberg em 2020. O British Antarctic Survey disse que ele não encalhou e está se movendo ao longo das correntes oceânicas para a região subantártica da Geórgia do Sul.

É possível que o A23a fique encalhado na ilha da Geórgia do Sul. Isso representaria um enorme problema para a vida selvagem na região da Antártica. Milhares de focas, pinguins e aves marinhas se reproduzem na ilha e se alimentam nas águas circundantes, e o gigante A23a poderia acabar com esse acesso.

Em 2020, outro icebergue gigante, o A68, suscitou receios de que iria colidir com a Geórgia do Sul, esmagando a vida marinha no fundo do mar e cortando o acesso aos alimentos. Tal catástrofe foi finalmente evitada quando o iceberg se partiu em pedaços menores – um possível fim de jogo também para o A23a.

Mas “um icebergue desta escala tem potencial para sobreviver durante muito tempo no Oceano Antártico, apesar de ser muito mais quente, e poderia avançar mais para norte, em direção à África do Sul, onde pode perturbar o transporte marítimo”, disse Marsh.

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