“Eu queria que parecesse real”, diz fotógrafo sobre ensaio de restos de alimentos

Ensaio “Mercado da Fome” é uma crítica social à fome no Brasil

Postado em: 21-10-2021 às 17h46
Por: Maria Paula Borges
Imagem Ilustrando a Notícia: “Eu queria que parecesse real”, diz fotógrafo sobre ensaio de restos de alimentos
Ensaio “Mercado da Fome” é uma crítica social à fome no Brasil | Foto: Flávio Costa

O fotógrafo recifense Flávio Costa produziu o ensaio “Mercado da Fome”, que consiste em uma crítica social sobre a situação de mais de 19 milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar. As imagens de sobras de alimentos etiquetadas com preço tiveram que ser explicadas pois as pessoas estavam acreditando que eram reais ao vê-las na internet.

Segundo o fotógrafo, sua intenção foi atingida. “Eu queria que parecesse real, mas a situação é surreal. No Brasil de hoje, se você vê uma bandeja com um resto de comida sendo vendido, se não tiver legenda, você acredita que é verdade”, declarou.

Na última segunda-feira (18/10), um vídeo de moradores de Fortaleza coletando comida de um caminhão de lixo viralizou nas redes sociais. Além disso, a venda de ossos bovinos também se tornou realidade no Brasil.

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Nas fotografias feitas por Flávio Costa, ele coloca os restos de alimento em badejas de isopor, com uma etiqueta com preço fixada. “Vi matérias falando sobre a venda de ossos e carcaças de peixe. Fui ao açougue vizinho e ele tinha deixado de doar os ossos para vender. Viram na fome uma oportunidade de negócio, é desumano. Foi aí que surgiu a ideia do ensaio, que era a de vender o que sobra”, conta.

De acordo com Flávio, ele pretende fazer dez fotos para o ensaio e, até o momento, foram publicadas quatro. A primeira foto foi do resto de um hambúrguer, publicada no Twitter no dia 10 de outubro. Na série de imagens tem ainda o resto de uma melancia, metade mordida de uma fatia de pizza e a carcaça de um galeto. As imagens geraram indignação em muita gente, fazendo com que o fotógrafo tivesse que explicar a crítica.

“Depois que vi ossos e carcaças de peixe sendo vendidos ao invés de serem doados, resolvi criar uma série de fotografias sobre o assunto. Essa é a primeira delas. O absurdo é tanto que, sem legenda, a imagem é crível”, diz um tweet publicado em seguida, repetido a cada foto que faz parte da série.

As fotos são feitas com o consumo do próprio fotógrafo, que trabalha com fotográfica e design focados na questão social desde 1996. Para Flávio, inúmeros fatores contribuíram para que a fome voltasse a ser uma realidade de milhões de brasileiros. “O que vivemos é um processo que resulta de um monte de coisa. Fake news; uma Justiça e imprensa que não são imparciais; o fascismo latente, que ficou escondido por muito tempo num certo grupo de pessoas; esse tipo de política em que você não quer dar assistência a ninguém, em que é cada um por si; a questão da meritocracia. É um conjunto de coisas que culminaram onde estamos e para sair disso vai demorar muito”, declarou.

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