MPCE denuncia Wesley Safadão e outras três pessoas por corrupção passiva e peculato
Além de Safadão, foram acusadas a esposa do cantor, a assessora e a servidora da SMS de Fortaleza
Por: Maria Paula Borges
O cantor Wesley Safadão e outras três pessoas são denunciadas pelo Ministério Público do Ceará (MPCE). O motivo da denúncia é corrupção passiva e peculato em investigação sobre o caso de fura-fila na vacinação contra a Covid-19. Na ocasião, foram indiciados o cantor, a esposa dele, Thyane Dantas Oliveira, a assessora do músico, Sabrina Tavares Brandão, e a servidora da Secretaria de Saúde de Fortaleza (SMS), Jeanine Maria Oliveira e Silva.
Na manhã desta sexta-feira (5/2), o documento foi protocolado no Poder Judiciário, dois dias após o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) decidir pela continuação das investigações. Anteriormente, a investigação foi paralisada por meio de um habeas corpus impetrado por Safadão em novembro de 2021.
A acusação é assinada por oito promotores de Justiça, resultado de um procedimento investigatório criminal que teve início em julho de 2021, após o casal e a produtora serem beneficiados com o imunizante contra o coronavírus, mesmo sem estar na lista do local. Além disso, a ação teve a participação de servidores efetivos e terceirizados da Secretária de Saúde, e assessores e amigos de Safadão.
Em resposta ao MPCE, a esposa do cantor, Thyane, afirmou que o tratamento diferenciado é justificado por serem “pessoas diferentes”. “No sentido de ser público e ter esse cuidado de não aglomerar. Talvez se ele [Wesley] sentasse ali na fila ia ter pedido de foto. Eu acredito que por isso que ele teve esse cuidado de colocar ali na frente”, explica.
Caso
O caso aconteceu em julho de 2021, no North Shopping Jóquei, à época, um dos locais de vacinação da capital cearense. Segundo a Secretária Municipal de Saúde de Fortaleza, o cantor estava agendado para receber a primeira dose do imunizante no dia, entretanto no Centro de Eventos do Ceará.
A assessora do cantor também estava agendada para o mesmo dia e local que Safadão, mas pelo drive-thru. A esposa do músico, por sua vez, não havia registro de agendamento no sistema Vacine Já, da Secretaria de Saúde de Fortaleza. Além disso, estavam sendo imunizados os cearenses com data de nascimento até 1988, entretanto, Thyane apresenta ano de nascimento em 1991.
As investigações apontam que a escolha pelo local diferente foi motivada por um interesse de Safadão em um imunizante específico. No Centro de Eventos, local que ele estava agendado, a vacina distribuída era do laboratório AstraZeneca. Já no North Shopping Jóquei, o imunizante era do laboratório da Janssen.
Na época, a Janssen era aceita para entrar nos Estados Unidos, e Wesley teria uma turnê com shows em novembro em cinco cidades norte-americanas, fato divulgado nas redes sociais do próprio músico.
Para o Grupo de Trabalho do MP, o cantor teria procurado a vacina aceita no exterior e, para isso, mobilizou servidores efetivos e terceirizados, além de assessores próximos para que a imunização fosse viabilizada. O cantor aproveitou ainda para contribuir para o desvio de doses em favor da assessora e da empresa.
De acordo com a denúncia, a articulação para o desvio dos imunizantes contou com a participação de oito investigados. Estes são os três beneficiados diretos, além do envolvimento de Marcelo da Silva Matos, funcionário do cantor; Ellen Cristina Oliveira, amiga e ex-funcionária de Marcelo; Jorge Luís Alves de Freitas, integrante da equipe de vacinação; Danilo Fernandes da Silva, supervisor do posto de vacinação; e de Jeanine Maria Oliveira e Silva, servidora da SMS.
Os autos apontam que Marcelo teria entrado em contato com Ellen por saber que a amiga tinha conhecidos e influência na rede municipal de saúde de Fortaleza. Com isso, Ellen teria acionado Jeanine, com atribuições no setor de logística de vacinas da Regional III da Prefeitura.
Jeanine, por sua vez, teria ligado para Jorge Luís, que no dia estava em serviço no Posto de Vacinação do North Shopping Jóquei, o informando que Ellen iria ao local levando três pessoas para serem vacinadas – sendo estas Wesley, Thyane e Sabrina. Os fatos foram confirmados por Jorge Luís em seu depoimento constante da Sindicância da SMS de Fortaleza.
A dinâmica dos fatos foi elaborada a partir dos depoimentos dos denunciados tanto no Procedimento Investigatório Criminal (PIC) do MPCE quanto na sindicância da SMS de Fortaleza, além de vídeo do circuito interno de TV do estabelecimento, anexadas à investigação.
