“Evidências mostram que não há nível de álcool seguro para a saúde”, afirma Federação Mundial do Coração

Doença cardiovascular é a principal causa de morte no mundo. O álcool também afeta negativamente a saúde mental

Postado em: 21-01-2022 às 10h45
Por: Alexandre Paes
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Doença cardiovascular é a principal causa de morte no mundo. O álcool também afeta negativamente a saúde mental. | Foto: Reprodução

Em um movimento ousado, a Federação Mundial do Coração (WHF, na sigla em inglês) divulgou um guia, nesta quinta-feira, dizendo que nenhuma quantidade de álcool é boa para o coração.

“Na Federação Mundial do Coração, decidimos que era imperativo nos pronunciarmos sobre o álcool e os danos à saúde, bem como danos sociais e econômicos, pois há uma impressão na população em geral, e até mesmo dentre os profissionais da saúde, que é algo bom para o coração”, disse Beatriz Champagne, presidente do comitê de advocacia que produziu o relatório.

“Não é, e as evidências têm mostrado cada vez mais que não há nível de consumo de álcool que seja seguro para a saúde”, complementa Champagne, que é também diretora executiva da Fundação InterAmericana do Coração (IAHF, na sigla em inglês), uma organização dedicada à prevenção de doenças cardíacas e AVC nas américas.

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Divergência de Opinião Cientifica

Críticos foram rápidos em atacar a postura da federação, dizendo que o documento estava ignorando estudos que mostram pequenos benefícios em algumas condições cardíacas quando uma quantidade moderada de álcool é consumida.

Um desses estudos sobre os riscos do álcool, publicado na revista Lancet em 2018, foi extensivamente usado no documento da WHF, “mas distorce seriamente e reporta seletivamente suas descobertas”, disse David Spiegelhalter, Professor de Compreensão Pública do Risco da Universidade de Cambridge.

“Existem alguns estudos científicos que apoiam a posição deles, mas baseado no meu trabalho sobre o Estudo de Carga de Doença Global, que reúne todas as evidências disponíveis até hoje, a alegação feita pela WHF não é apoiada pelas evidências científicas disponíveis atualmente”, explica Emmanuela Gakidou, professora do Instituto de Métricas e Avaliação de Saúde.

A Associação Americana do Coração (AHA, na sigla em inglês), disse que a “moderação é a chave” quando se fala do álcool, que é definido como não mais que um drink por dia para a mulher e dois para o homem.

A Dra. Mariell Jessup, chefe de ciências e médica da AHA, disse que o instituto revisou recentemente evidências sobre álcool e risco cardiovascular para a sua Declaração Científica de Orientação Dietética de 2021 e “concluímos que quem não bebe álcool, não comece; e se alguém bebe álcool, limite o consumo“.

Cresce número de problemas cardiovasculares

Segundo o relatório, ingerir álcool aumenta o risco de vários problemas cardiovasculares, incluindo doença arterial coronariana, insuficiência cardíaca, hipertensão arterial, acidente vascular cerebral e aneurisma da aorta. Qualquer quantidade de álcool, não apenas em grande quantidade, pode levar a perda de uma vida saudável, diz.

“Nas últimas décadas, a prevalência de doenças cardiovasculares quase dobrou, e o álcool tem sido protagonista na incidência de grande parte delas”, reporta o documento.

Doença cardiovascular é a principal causa de morte no mundo, afetando desproporcionalmente pessoas de baixo nível socioeconômico. Em 2019, quase 2,4 milhões de mortes — não somente relacionadas ao coração — podem ser atribuídas ao álcool, segundo o relatório. O álcool também afeta negativamente a saúde mental.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu uma redução relativa de 10% no uso per capita de álcool entre 2013 e 2030, mas o relatório disse que a falta de investimento em estratégias comprovadas de redução de álcool, além da desinformação da indústria, impediu o progresso em direção a esse objetivo.

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