Marcas mostram incômodo com patrocínio na Copa do Catar

Há pouco mais de seis meses do início da Copa do Mundo, dúvidas sobre condições de trabalho e respeito a direitos humanos afastam marcas do evento.

Postado em: 15-05-2022 às 13h00
Por: Augusto Diniz
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Há pouco mais de seis meses do início da Copa do Mundo, dúvidas sobre condições de trabalho e respeito a direitos humanos afastam marcas do evento | Foto: Reprodução

O Catar, país mais rico do mundo, tentou ao longo dos últimos anos, mas não conseguiu esconder seus problemas do resto do planeta. Com os holofotes do globo voltados para essa península localizada no Oriente Médio pela realização da Copa do Mundo a partir do dia 21 de novembro, o país é alvo de protestos e, até mesmo, preocupação de empresas em atrelarem suas marcas à competição em 2022.

O próprio presidente da Federação Internacional de Futebol (Fifa), Gianni Infantino, até quando tenta ser conciliador, assume que o Catar tem problemas que precisam passar por um processo de evolução. Mas, na visão de Infantino, a Copa do Mundo no Catar ajudou a dar mais rapidez às mudanças sociais que o país necessita.

O responsável pela realização do evento, Nasser Al Khater, rebate as críticas com dúvidas sobre se essas pessoas conhecem o país. “Alguém da seleção da Inglaterra já esteve no Catar? O sr. Southgate já esteve no Catar? Ou ele está se posicionando publicamente sobre algo baseado apenas no que leu?”, questionou Al Khater o técnico da seleção inglesa, Gareth Southgate, que tem adotado um tom contrário à nação-sede da Copa do Mundo.

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No final de março, o Congresso da Fifa, realizado na capital do Catar, a cidade de Doha, veio acompanhado de preocupações externadas pela presidente da Federação de Futebol da Noruega, Lise Kleveness. A dirigente do país europeu que não se classificou para a competição deixou evidente suas dúvidas sobre a segurança e respeito aos torcedores LGBTQIA+ que forem ao Catar, reclamou de o país não permitir partidas de futebol feminino e disse que operários estrangeiros que trabalharam nas obras da Copa teriam sido submetidos a condições desumanas.

Preocupação de empresas

O problema é que a preocupação não é apenas das pessoas. Marcas já se posicionaram contra ligar suas imagens à Copa do Mundo no Catar. Enquanto o The Guardian, jornal britânico, noticiava que aproximadamente 6,5 mil trabalhadores, entre indianos e paquistaneses na sua maioria, morreram para que as arenas da Copa do Mundo fossem construídas, o ex-jogador inglês e apresentador de TV Gary Lineker, artilheiro da competição em 1986, se negou a apresentar o sorteio dos grupos da Copa do Catar em Doha no mês passado.

Lineker é um dos críticos constantes da realização da Copa do Mundo no país peninsular do Oriente Médio. Assim com o ex-jogador teme que sua imagem de apresentador de TV seja arranhada ao se ligar a um evento que será realizado em uma nação considerada controversa, a empresa ING Group, que patrocina as seleções da Bélgica e Inglaterra, não vai manter o contrato com as duas delegações durante a competição.

Ao jornal The New York Times, o ING Group disse que, “dada a discussão e as preocupações em torno da situação dos direitos humanos da infraestrutura do tornei, achamos inadequado” participar como patrocinadores. Ao invés de investir na aparição da marca no Catar, a empresa irá investir no campeonato europeu de futebol feminino, que neste ano será disputado na Inglaterra.

Patrocinadores da Bélgica

Outra patrocinadora da seleção da Bélgica, a GLS, que atua no setor de remessas, afirmou ao New York Times que manterá o contrato com os “Red Devils”, como é conhecida a equipe masculina belga, mas não pretende aceitar ingressos promocionais para distribuir aos clientes. Nem mesmo aceitou colocar a marca envolvida em campanhas publicitárias no país-sede da Copa do Mundo de 2022. A preocupação da empresa, assim como de representantes do futebol, está no respeito aos direitos humanos. E todo mundo sabe que, hoje em dia, a imagem representa queda ou crescimento no número de compradores.

Enquanto a federação dos Estados Unidos, a U.S. Soccer, passou a discutir qual será o discurso adotado por atletas e a delegação durante a Copa caso sejam questionados sobre direitos humanos no Catar, a seleção alemã decidiu estampar no uniforme as palavras “direitos humanos” antes de entrar em campo em um dos jogos das Eliminatórias da Copa do Mundo do Catar.

Dois patrocinadores da Dinamarca não querem nem ver seus nomes estampados na camisa da equipe durante a Copa do Mundo. A Danske Spil, loteria nacional dinamarquesa, e o banco Arbejdernes Landsbank, decidiram deixar o espaço pago nos uniformes de treino para ser usado com mensagens de defesa dos direitos humanos enquanto a delegação da Dinamarca estiver no Catar. Alegando outras questões, o Arbejdernes Landsbank encerrou o contrato com a seleção dinamarquesa.

Contratos atraem outras empresas, que ignoraram críticas

Por outro lado, os contratos oferecidos pelo comitê organizador da Copa do Mundo no Catar são bem volumosos, o que fez com que muitas marcas aceitassem os valores, independente do possível desgaste em aparecer como parceiras ou patrocinadoras do evento. A rede de supermercados francesa Carrefour, que tem loja no Catar, informou que “o Carrefour e suas subsidiárias não estão envolvidos em nenhum tipo de boicote” à competição, em resposta ao New York Times.

David Beckham, ex-astro da seleção da Inglaterra, aceitou ser contratado para promover o Catar e apoiar as ações do comitê organizador da Copa do Mundo. Há duvidas no mundo corporativo sobre os termos do contrato entre Beckham e o país do Oriente Médio. Há 18 meses, o ex-jogador, que é empresário, visita com frequência a nação-sede da competição, mas nunca falou publicamente sobre os motivos que o levaram a se tornar uma espécie de garoto-propaganda do Catar.

A fabricante de material esportivo Adidas, que tem o inglês como contratado da marca, afirmou que o ex-jogador “é um membro valioso da família Adidas e nossa parceria continuará como tal” sobre um possível arranhão na marca ser for indiretamente ligada a questões contraditórias que envolvem o Catar. Com todos os problemas, a Copa do Mundo começará no dia 21 de abril. O Brasil estreará no Grupo G às 16 horas, no horário de Brasília, contra a Sérvia no Estádio Lusail, na cidade de Lusail, no Catar.

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