Com baixa fecundidade histórica, Japão planeja dar estímulos financeiros para casais terem mais filhos

No país, casais vêm tendo cada vez menos filhos e o número de homens e mulheres que chegam à velhice solteiros também se alastra

Postado em: 06-03-2023 às 09h14
Por: Ícaro Gonçalves
Imagem Ilustrando a Notícia: Com baixa fecundidade histórica, Japão planeja dar estímulos financeiros para casais terem mais filhos
No país, casais vêm tendo cada vez menos filhos e o número de homens e mulheres que chegam à velhice solteiros também se alastra | Foto: Reprodução/Freepik

O Japão vem enfrentando há décadas uma queda acentuada na fecundidade do país. Casais vêm tendo cada vez menos filhos e o número de homens e mulheres que chegam à velhice solteiros também se alastra.

Para o primeiro-ministro japonês, Fumio Kishida, chegou o momento do “agora ou nunca”, se referindo à necessidade de adotar medidas urgentes para incentivar casais a terem filhos. Há algumas semanas, Kishida afirmou que o Japão está prestes a não conseguir funcionar como sociedade devido à invenção da pirâmide etária.

No ano passado, pela primeira vez em mais de um século, o número de bebês nascidos no Japão ficou abaixo de 800 mil, segundo estimativas oficiais. Na década de 1970, esse número passava de 2 milhões.

Continua após a publicidade

“Focar a atenção em políticas relacionadas às crianças e ao cuidado infantil é uma questão que não pode esperar ou ser adiada”, declarou Kishida, acrescentando que está é uma das questões mais urgentes da agenda do país neste ano.

Leia também: Registro de nascimentos diminui ano após ano em Goiás

Causas

Atualmente, a média de filhos de uma mulher japonesa é de 1,3, uma das taxas mais baixas do mundo (a Coreia do Sul tem a menor, 0,78). E as causas dessa crise demográfica são diversas, algumas comuns em países desenvolvidos e outras são típicas da cultura japonesa. Entre elas, estão:

  • Desigualdades de gênero no trabalho doméstico e na criação dos filhos;
  • Pequenos apartamentos nas grandes cidades que não oferecem espaço para uma família extensa;
  • Alto custo e forte pressão para que as crianças frequentem as melhores escolas e universidades;
  • Aumento do custo de vida;
  • Maior participação de mulheres no mercado de trabalho;
  • Alta demanda de trabalho e pouco tempo para se dedicar à criação dos filhos;
  • Mulheres jovens mais instruídas que preferem permanecer solteiras e não ter filhos;
  • Mulheres que decidem adiar a gravidez até uma idade mais avançada, reduzindo o número de anos férteis.

Estas são algumas das razões que contribuem para diminuir as taxas de natalidade, explica Tomas Sobotka, vice-diretor do Instituto de Demografia de Viena, na Áustria.

“No Japão existe uma cultura de trabalho punitiva que exige longas jornadas de trabalho, alto nível de comprometimento e alto desempenho dos funcionários”, deixando pouco espaço para ter filhos.

“Está claro que o apoio monetário às famílias pode resolver apenas parcialmente as razões por trás da baixíssima fecundidade no país”, acrescenta.

Busca por solução

O plano do premiê Kishida é dobrar os gastos públicos em programas dedicados a apoiar a criação de filhos. Mas alguns analistas, aumentar os gastos fiscais para estimular a natalidade não funciona.

Em Cingapura, o governo luta contra a tendência implacável de queda na fecundidade desde os anos 1980. Em 2001, introduziu um pacote de incentivos econômicos para aumentar a taxa de natalidade.

Atualmente, o pacote inclui licença-maternidade remunerada, subsídios para creches, isenções e abatimentos fiscais, bônus financeiro e subsídios para empresas que implementam contratos de trabalho flexíveis.

Apesar desses esforços, a taxa de fecundidade continuou caindo, alegam especialistas. E, assim como vem diminuindo no Japão e em Cingapura, também está caindo na Coreia do Sul, Taiwan, Hong Kong e cidades chinesas de alta renda como Xangai.

Uma sociedade presa ao passado

Para além de incentivos financeiros, também é necessário melhorar as condições de vida das pessoas com medidas com maior flexibilidade no trabalho, creches públicas de boa qualidade, licenças maternidade e paternidade bem remuneradas ou moradia a preços acessíveis.

Outro ponto é cultural, uma vez que as mulheres ainda hoje são vistas como as únicas responsáveis ​​por cuidar da família, pelos afazeres domésticos, pelo bem-estar, educação e sucesso escolar dos filhos.

Veja Também