Pesquisas trabalham com opiniões, não convicções

Nildo Viana O resultado da Paraná / Record pode ser, para muitos, surpreendente. No entanto, as pesquisas eleitorais trabalham como opiniões e

Postado em: 15-06-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa

Nildo Viana


O resultado da Paraná / Record pode ser, para muitos, surpreendente. No entanto, as pesquisas eleitorais trabalham como opiniões e não com convicções. As opiniões são momentâneas, enquanto as convicções são mais arraigadas e mudam com muito mais dificuldade. 

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No contexto atual, o índice de eleitores que manifestam suas opiniões é bem maior do que quando estivermos diante da disputa eleitoral, pois agora reina falta de informações, não começou a propaganda política (o que tende a alterar a imagem dos candidatos, os desconhecidos ficando um pouco mais conhecidos, os que estão na frente sendo mais criticadas e atacados, etc.), entre outras questões. 

Por isso, o resultado é bastante superficial e dificilmente será o que veremos nas eleições do ano que vem, inclusive devido ao quadro caótica da política e sociedade brasileira ainda, o que a torna ainda mais vulnerável para mudanças drásticas de opinião. O resultado da pesquisa aponta para três aspectos que chamam a atenção: os primeiros colocados, Lula e Bolsonaro, mais ainda o segundo e por sua posição de quase empate com o primeiro; os índices de votos de Lula junto à população de idade mais avançada, especialmente acima de 60 anos e Bolsonaro diante dos eleitores mais jovens; o alto índice de futuros eleitores que não votam em nenhum dos candidatos listados.

Lula tem ampla rejeição de vários outros setores da sociedade, como diversos setores da juventude e certos grupos e intelectuais, por causa de seus governos anteriores e não ter efetivado uma política voltada para mudanças sociais mais amplas. Por outro lado, ele tem eleitores fiéis, como os petistas e simpatizantes, além de outros setores da esquerda, da burocracia e intelectualidade, bem como setores de movimentos sociais que foram beneficiadas pelos governos petistas.

O caso de Bolsonaro é diferente. Ele é mais surpreendente. No entanto, também não é um candidato tão forte assim e está sendo beneficiado pela conjuntura e falta de outros candidatos mais expressivos. Bolsonaro tem setores da sociedade que são fiéis e manterão o voto, mas no conjunto, é percentualmente muito pequeno. 

O fato  do deputado do PSC ter conseguido ficar em segundo lugar e com uma votação expressiva é explicado pela distância do processo eleitoral, pela falta de opções e informações, bem como pela rejeição de Lula que em grande parte vai migrar para o segundo lugar ou para o seu antagonista no plano moral.

O início da campanha deve gerar um candidato mais adequado para unir os setores antipetistas, pois muitos destes não gostam e não confiram em Bolsonaro. Seria muito difícil ele conseguir ser um segundo Collor. O início da campanha deve mostrar uma rejeição maior em relação a ele, da mesma forma que no caso de Lula. 

Em síntese, a pesquisa mostra um momento de predominância de determinadas opiniões eleitorais que tende a se allterar com o desenvolvimento da campanha eleitoral e da situação do país. Esse momento não deve iludir as pessoas pensando que teremos um segundo turno com Lula e Bolsonaro. Os candidatos que estarão no segundo turno são ainda imprevisíveis e uma das possibilidades é que nenhum dos dois chegue ao segundo turno.

*cientista político e professor da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Federal de Goiás (FCS-UFG) 

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