Parlamentares goianos avaliam que não cabe a Bolsonaro acabar com pandemia em uma canetada
Presidente da República disse que Ministério da Saúde deve reduzir classificação de gravidade da crise sanitária por meio de portaria em abril
Por: Augusto Diniz

O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta semana que a crise sanitária da covid-19 no Brasil deve deixar de ser considerada uma pandemia em abril. De acordo com o chefe do Executivo nacional, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, pode publicar uma portaria em abril. “Não se justifica mais todos esses cuidados no tocante ao vírus, praticamente acabou. Parece que acabamos a situação da pandemia”, afirmou Bolsonaro.
De acordo com o deputado federal José Nelto (Podemos), o presidente da República só poderá reduzir a classificação da gravidade da covid-19, seja em abril ou maio, “se tiver dados científicos, se a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] declarar”. “Ele [Bolsonaro] não pode declarar por decreto pela vontade dele. Se ele ouvir as autoridades sanitárias do País e tiver o apoio, terá o meu apoio. Caso contrário, não terá o meu apoio esse decreto ou o que ele queira fazer para acabar com a classificação da covid-19 como pandemia no Brasil.”
José Nelto reforçou que a gravidade da doença não depende da vontade do presidente, de um governador ou do Congresso Nacional. “Só ela pode dizer se a pandemia acabou no Brasil. Acabar com essa classificação [sem a devida comprovação] é colocar em risco a saúde da população brasileira”, avaliou o parlamentar.
Para o deputado federal Rubens Otoni (PT), a declaração de Bolsonaro demonstra “o total despreparo do presidente”. “Fim de pandemia não se dá por decreto. A ciência tem normas e protocolos para as suas classificações”, observou Otoni.
Também do PT, o vereador Mauro Rubem disse apenas uma palavra para definir a proposta apresentada pelo ocupante do Palácio do Planalto: “Absurdo!”. O senador Jorge Kajuru (Podemos) afirmou que não ouviria o presidente da República se o assunto for covid-19.
Responsabilidade
A vereadora Aava Santiago (PSDB) afirmou que, até o contato da reportagem do O Hoje, desconhecia a afirmação do presidente sobre o assunto. “Não consigo fazer uma avaliação sem entender melhor os critérios utilizados.” Mas observou que, a princípio, “nada que vem do Bolsonaro aponta para uma responsabilidade com a saúde pública na vida das pessoas”.
Para o deputado federal Célio Silveira (PSDB), a pergunta de quando a crise sanitária da covid-19 deixará de ser uma pandemia precisa ser respondida pelos especialistas da área, “que se dedicam dia a dia buscando as respostas deste mal que afeta tanto a humanidade”. “A ciência é soberana”, afirmou o tucano.
De acordo com a deputada federal Flávia Morais (PDT), é natural que a redução da classificação de pandemia para endemia ocorra em algum momento pelo avanço da vacinação e a diminuição dos casos de covid-19 no Brasil. “Mas é importante que qualquer decisão tenha como base dados científicos”, avaliou a parlamentar.
“Eu não sou médico. Quero ouvir o que os cientistas têm a dizer”, respondeu o deputado federal Delegado Waldir (União Brasil) ao O Hoje. O parlamentar disse que não cabe a ele fazer uma classificação porque é preciso dar ouvidos aos especialistas, verificar o nível de vacinação em todos os Estados, a situação da pandemia e se não vem uma nova onda de casos da covid-19. “É uma série de análises”, ponderou Waldir.
“Não sou Mãe Dináh ou João de Deus”
O deputado do União Brasil lembrou que há poucos dias a China passou a adotar regras mais restritivas em decorrência do aumento de casos da covid-19. “Fixar data é exercício de adivinhação. Não sou Mãe Dináh, João de Deus nem tenho bola de cristal para ficar fazendo adivinhação nessa área. Prefiro aguardar a manifestação dos conselhos de medicina, dos cientistas, da Anvisa, dos órgãos competentes nessa área.”
De acordo com Delegado Waldir, a prioridade deve estar voltada para o uso da máscara em locais fechados e manter o hábito adquirido na pandemia de higienizar as mãos com álcool em gel. “Tem muitas pessoas que ainda não têm a imunidade completa, que são mais sujeitas a formas graves da doença. O que temos pensar é na continuidade da proteção da vida.” O parlamentar afirmou que existe um “grande passivo” de estruturas hospitalares. “Mas isso não é suficiente. Precisamos continuar pensando na proteção de vidas. Toda vida é importante”, concluiu.
Voz contrária
Para o deputado federal Adriano Avelar, o Adriano do Baldy (PP), o momento é de necessidade de políticas públicas, como estimular a geração de emprego e renda no País. “É preciso ter uma certeza: que a pandemia chegou ao fim para não começar tudo de novo”, declarou o parlamentar do PP.
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