Parlamentares goianos avaliam que não cabe a Bolsonaro acabar com pandemia em uma canetada

Presidente da República disse que Ministério da Saúde deve reduzir classificação de gravidade da crise sanitária por meio de portaria em abril

Postado em: 18-03-2022 às 19h51
Por: Augusto Diniz
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Presidente da República disse que Ministério da Saúde deve reduzir classificação de gravidade da crise sanitária por meio de portaria em abril | Foto: Wilson Dias/Agência Brasil

O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta semana que a crise sanitária da covid-19 no Brasil deve deixar de ser considerada uma pandemia em abril. De acordo com o chefe do Executivo nacional, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, pode publicar uma portaria em abril. “Não se justifica mais todos esses cuidados no tocante ao vírus, praticamente acabou. Parece que acabamos a situação da pandemia”, afirmou Bolsonaro.

De acordo com o deputado federal José Nelto (Podemos), o presidente da República só poderá reduzir a classificação da gravidade da covid-19, seja em abril ou maio, “se tiver dados científicos, se a Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] declarar”. “Ele [Bolsonaro] não pode declarar por decreto pela vontade dele. Se ele ouvir as autoridades sanitárias do País e tiver o apoio, terá o meu apoio. Caso contrário, não terá o meu apoio esse decreto ou o que ele queira fazer para acabar com a classificação da covid-19 como pandemia no Brasil.”

José Nelto reforçou que a gravidade da doença não depende da vontade do presidente, de um governador ou do Congresso Nacional. “Só ela pode dizer se a pandemia acabou no Brasil. Acabar com essa classificação [sem a devida comprovação] é colocar em risco a saúde da população brasileira”, avaliou o parlamentar.

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Para o deputado federal Rubens Otoni (PT), a declaração de Bolsonaro demonstra “o total despreparo do presidente”. “Fim de pandemia não se dá por decreto. A ciência tem normas e protocolos para as suas classificações”, observou Otoni.

Também do PT, o vereador Mauro Rubem disse apenas uma palavra para definir a proposta apresentada pelo ocupante do Palácio do Planalto: “Absurdo!”. O senador Jorge Kajuru (Podemos) afirmou que não ouviria o presidente da República se o assunto for covid-19.

Responsabilidade

A vereadora Aava Santiago (PSDB) afirmou que, até o contato da reportagem do O Hoje, desconhecia a afirmação do presidente sobre o assunto. “Não consigo fazer uma avaliação sem entender melhor os critérios utilizados.” Mas observou que, a princípio, “nada que vem do Bolsonaro aponta para uma responsabilidade com a saúde pública na vida das pessoas”.

Para o deputado federal Célio Silveira (PSDB), a pergunta de quando a crise sanitária da covid-19 deixará de ser uma pandemia precisa ser respondida pelos especialistas da área, “que se dedicam dia a dia buscando as respostas deste mal que afeta tanto a humanidade”. “A ciência é soberana”, afirmou o tucano.

De acordo com a deputada federal Flávia Morais (PDT), é natural que a redução da classificação de pandemia para endemia ocorra em algum momento pelo avanço da vacinação e a diminuição dos casos de covid-19 no Brasil. “Mas é importante que qualquer decisão tenha como base dados científicos”, avaliou a parlamentar.

“Eu não sou médico. Quero ouvir o que os cientistas têm a dizer”, respondeu o deputado federal Delegado Waldir (União Brasil) ao O Hoje. O parlamentar disse que não cabe a ele fazer uma classificação porque é preciso dar ouvidos aos especialistas, verificar o nível de vacinação em todos os Estados, a situação da pandemia e se não vem uma nova onda de casos da covid-19. “É uma série de análises”, ponderou Waldir.

“Não sou Mãe Dináh ou João de Deus”

O deputado do União Brasil lembrou que há poucos dias a China passou a adotar regras mais restritivas em decorrência do aumento de casos da covid-19. “Fixar data é exercício de adivinhação. Não sou Mãe Dináh, João de Deus nem tenho bola de cristal para ficar fazendo adivinhação nessa área. Prefiro aguardar a manifestação dos conselhos de medicina, dos cientistas, da Anvisa, dos órgãos competentes nessa área.”

De acordo com Delegado Waldir, a prioridade deve estar voltada para o uso da máscara em locais fechados e manter o hábito adquirido na pandemia de higienizar as mãos com álcool em gel. “Tem muitas pessoas que ainda não têm a imunidade completa, que são mais sujeitas a formas graves da doença. O que temos pensar é na continuidade da proteção da vida.” O parlamentar afirmou que existe um “grande passivo” de estruturas hospitalares. “Mas isso não é suficiente. Precisamos continuar pensando na proteção de vidas. Toda vida é importante”, concluiu.

Voz contrária

Para o deputado federal Adriano Avelar, o Adriano do Baldy (PP), o momento é de necessidade de políticas públicas, como estimular a geração de emprego e renda no País. “É preciso ter uma certeza: que a pandemia chegou ao fim para não começar tudo de novo”, declarou o parlamentar do PP.

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