Sociedade brasileira é “patrimonialista” e “machista”, afirma Cármen Lúcia

As declarações da presidente do STF foram dadas durante um seminário sobre as mulheres na Justiça, realizado na Embaixada da França, em Brasília

Postado em: 26-10-2017 às 13h50
Por: Márcio Souza
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As declarações da presidente do STF foram dadas durante um seminário sobre as mulheres na Justiça, realizado na Embaixada da França, em Brasília

A presidente do Supremo Tribunal
Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, afirmou hoje (26) que o fato de ocupar a
chefia de um dos poderes da República não passa de um dado
“circunstancial” num país cuja sociedade permanece em grande medida
“patrimonialista, machista e muito preconceituosa com a mulher”.

As declarações foram dadas
durante um seminário sobre as mulheres na Justiça, realizado na Embaixada da
França, em Brasília. Compunham a mesa a procuradora-geral da República, Raquel
Dodge, e a advogada-geral da União, ministra Grace Mendonça.

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Cármen Lúcia respondeu a uma
felicitação do embaixador da França, Michel Miraillet, que destacou que o
Brasil é um dos poucos países com mulheres ocupando quatro cargos de cúpula no
Judiciário. Além das três que compunham a mesa, ele contou ainda a presidente
do Superior Tribunal de Justiça (STJ), ministra Laurita Vaz.

Cármen Lúcia ressaltou que a
presença de mulheres na cúpula do Judiciário pouco teria significado para além
de uma coincidência histórica numa sociedade “que não se acostumou que o
nome autoridade não se declina, não tem sexo”. Ela revelou já ter sido
barrada, por exemplo, de entrar na casa de amigos por funcionários que
esperavam por um homem, jamais imaginando a possibilidade de que a presidente
do Supremo fosse uma mulher.

A ministra lembrou que a presença
de mulheres na cúpula do Judiciário brasileiro não se reflete nos números do
Judiciário, que tem muito menos juízas e procuradoras mulheres do que homens.
Tampouco, disse, se reflete na representação política, ressaltando a baixa
presença feminina no Congresso.

Cármen Lúcia, Grace Mendonça e
Raquel Dodge foram unânimes em destacar a imposição de uma vida quase
“monástica” às mulheres que almejem cargos de liderança. De acordo
com elas, há um constrangimento constante da sociedade brasileira para que a
mulher priorize as relações afetivas e a família, acima da própria realização
pessoal, o que não ocorre, nem de perto, em relação aos homens.

“O simples querer feminino é
encarado como uma forma de ousadia”, disse Grace Mendonça. “Ainda que
ocupando um cargo que tenha uma percepção de autoridade, ainda somos vistas,
sim, com estranheza”.

Em sua fala, Cármen Lúcia fez
questão de destacar que a face mais grave desse constrangimento social em
relação à mulher se expressa no feminicídio.

“Continua havendo mulheres
mortas, e não apenas pelos companheiros , mortas por uma sociedade que não vê
que a mulher não é a causadora do feminicídio, que é um homicídio causado
somente por ela ser mulher”, disse. 

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