Prisão de Milton Ribeiro e pastores goianos não afeta candidaturas evangélicas

Cientistas políticos comentaram a possibilidade das prisões recentes prejudicarem projeto político daqueles que irão se candidatar em nome do segmento

Postado em: 25-06-2022 às 09h38
Por: Felipe Cardoso
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Cientistas políticos comentaram a possibilidade das prisões recentes prejudicarem projeto político daqueles que irão se candidatar em nome do segmento

Felipe Cardoso e Francisco Costa

Nos bastidores do universo político goiano paira um temor sobre um possível prejuízo que os candidatos evangélicos podem ter a partir da prisão de lideranças do segmento no estado. Isso porque, recentemente, a Polícia Federal prendeu o religioso Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação do governo de Jair Bolsonaro, por suspeita de corrupção no MEC. Com ele, lideranças de outros estados também foram arroladas por suspeita de envolvimento no esquema.

Diante do imbróglio, a reportagem do jornal O HOJE consultou alguns cientistas políticos para entender os possíveis reflexos nas candidaturas, haja vista que muitos representantes da comunidade evangélica buscarão, em outubro, uma cadeira na Assembleia Legislativa, Câmara dos Deputados, Senado e até no Palácio das Esmeraldas a partir do ano que vem. 

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Na visão do cientista político Lehninger Mota, o prejuízo deve se restringir àqueles que posaram para fotos ao lado de Milton e dos demais envolvidos. “Isso pode ser trabalhado pela oposição, justamente nessa tentativa de descredibilizar. Mas de uma forma geral, o segmento é muito unido e tem essa percepção de que existem algumas pessoas não idôneas no seu meio, como existem em qualquer outro”. 

Segundo ele, o tema “conservadorismo” é muito maior do que os fatos de corrupção isolados para o segmento. “São casos que não envolvem o todo. Já vi algumas fotos de alguns políticos com esses líderes que foram presos. Esses sim tendem a sofrer mais diretamente esse impacto, mas não é uma coisa que vai se generalizar justamente pela pauta conservadora que é maior”. 

Já o cientista Pedro Mundim, disse que não é esse tipo de fato que motiva o eleitor a votar em um ou outro candidato. “Ainda mais no caso evangélico. Estamos falando de uma situação ainda restrita ao Milton, não necessariamente dos evangélicos de um modo geral. Ele é evangélico, mas também ocupa várias outras posições. Acho, na verdade, que não fará diferença alguma”. 

Para ele, nem mesmo Bolsonaro tende a ter prejuízo. “Não penso que irá perder votos porque o eleitor dele está consolidado”. Na interpretação do estudioso, diante de uma pandemia como a enfrentada nos últimos anos, talvez esse seja o menor “dos males”.  O fato é que fica, na visão de Mundim, cada vez mais difícil para o presidente “arrumar uma desculpa para falar que em seu governo não há corrupção”. 

Guilherme Carvalho, por sua vez, considerou o potencial do caso para “atrapalhar” candidaturas. Mas pontuou: “Jogar no balaio e dizer que vão ser afetados é um pouco simplista”.  A situação é complicada, segundo ele, até para a oposição que tentar construir um discurso contra esse grupo. 

“O voto evangélico constitui uma das mais importantes camadas do eleitorado brasileiro. O trabalho da oposição nesse momento, em especial daqueles que querem dinamitar essas candidaturas, seria o de desvincular os evangélicos dos candidatos evangélicos. (…)  Acontece que todo tipo de crítica ao segmento pode resultar em um efeito contrário. Há um discurso muito forte no segmento de que são um povo. E quando você mexe com um dos integrantes desse povo, isso pode resultar em uma rejeição completa.  Há uma linha de defesa do outro lado. Aqueles que podem alegar que estão sendo perseguidos em nome da religião”, pontuou o cientista político. 

Milton Ribeiro e pastor do MEC tinham telefones secretos

O ex-ministro do Ministério da Educação (MEC), Milton Ribeiro, o pastor Arilton Moura e o ex-gerente de projetos da Secretaria Executiva do MEC, Luciano de Freitas Musse, tinham telefones secretos, segundo relatório da Polícia Federal (PF) ao Ministério Público Federal. O portal Metrópoles teve acesso ao documento.

“Foi descoberto que os alvos Milton, Arilton, e Luciano possuem números de telefones celulares que até então eram desconhecidos e que devem constar de eventual nova decisão de interceptação”, diz o relatório.

A PF descobriu os aparelhos quando fez a primeira interceptação telefônica autorizada pela Justiça. Depois disso, pediu a prorrogação, além de autorização para interceptar outros celulares.

Vale citar que a Operação Acesso Pago, deflagrada na quarta-feira (22), investigou a prática de “tráfico de influência e corrupção para a liberação de recursos públicos”. Ela teve como base relatório e depoimentos da Controladoria-Geral da União.

A ação cumpriu 13 mandados de busca e apreensão e cinco de prisão. Os estados alvos foram: Goiás, São Paulo, Pará e ainda o Distrito Federal. Na ocasião, Milton Ribeiro, os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos, e outros foram presos. Na quinta-feira (23), eles foram soltos.

Relembre

Em março, a Folha de S.Paulo revelou um áudio que mostrava um suposto gabinete paralelo no Ministério da Educação, no qual Ribeiro dizia atender uma solicitação de Bolsonaro para priorizar a liberação de verbas a prefeitos que negociavam com Gilmar Santos e com o também pastor Arilton Moura – não foi informado se ele foi detido.

“Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar […] porque a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender todos os que são amigos do pastor Gilmar”, dizia trecho da conversa.

Em um dos casos, os pastores teriam pedido 1 kg de ouro para liberação de verba no MEC. Prefeitos também relataram outras demandas de propina. Logo após o vazamento dos áudios, Milton Ribeiro pediu demissão e negou envolvimento de Bolsonaro. Além disso, afirmou que as solicitações à pasta iam para avaliação técnica.

Os pastores negaram qualquer irregularidade. Gilmar disse: “Afirmo categoricamente à sociedade brasileira que nunca houve de minha parte interferência nas relações institucionais do MEC, para com os entes municipais, seja diretamente, com seus representantes legais, ou indiretamente, por delegatários de qualquer ordem. Assim, também, é repugnante a Fake News de que sou lobista, e, com isso, atuaria no afã de receber verba pública conforme noticiado em diversos veículos de comunicação.”

Vale citar, Gilmar é presidente, em Goiânia, da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros de Assembleias de Deus no Brasil Cristo para Todos. O Jornal O Hoje tentou novo contato com o religioso, por meio do perfil oficial dele no Instagram (que poderia ser administrado por terceiros), mas não teve retorno.

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