Marconi segue em modo ‘oposição solitária’

De 2023 para cá, Ronaldo Caiado pacificou opositores como Gustavo Mendanha e Major Vitor Hugo

Postado em: 14-02-2024 às 10h30
Por: Francisco Costa
Imagem Ilustrando a Notícia: Marconi segue em modo ‘oposição solitária’
Até o começo do ano passado, outros nomes ainda figuravam na lista de opositores, mesmo que moderadamente | Foto: Reprodução

O ex-governador Marconi Perillo, hoje presidente nacional do PSDB, segue na oposição solitária pelas redes sociais ao governador Ronaldo Caiado (União Brasil) – e também durante entrevistas, sempre que possível. Figura histórica da política goiana, o tucano utiliza o espaço democrático da internet para criticar a atual gestão, que sucedeu o tempo novo – que durou 20 anos.

Até o começo do ano passado, outros nomes ainda figuravam na lista de opositores, mesmo que moderadamente. O ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (PRD), que chegou a disputar o governo de Goiás, era um deles.

Antes do meio de 2023, entretanto, ele entrou em acordo com o governador Caiado e o vice Daniel Vilela (MDB), companheiro de longa data. Hoje, Mendanha tem laços estreitos com o gestor estadual e atua conjuntamente para ajudá-lo no pleito deste ano.

Continua após a publicidade

O mesmo pode se dizer do ex-deputado federal Major Vitor Hugo (PL), que também concorreu ao governo. Bolsonarista raiz, ele chegou a criticar Caiado nos momentos em que o governador se distanciou do bolsonarismo, sobretudo durante a pandemia da Covid-19, quando Ronaldo assumiu postura mais técnica, divergindo do ex-presidente.

Da mesma forma, hoje Vitor Hugo é visto como possível nome para estar na chapa de 2026 de Daniel Vilela para uma das vagas ao Senado. Seria uma forma de pacificar o PL e garantir uma união para que o emedebista busque a cadeira de governador.

Segue opositor

Marconi, por sua vez, mantém firme a oposição. No último domingo (11), por exemplo, ele publicou uma “marchinha” do “Bloco do Apagão” com a imagem do governador Ronaldo Caiado (União Brasil) segurando uma lamparina, no escuro. “Parece brincadeira, mas a situação dos apagões em Goiás é séria, refletem a má qualidade do serviço prestado pela Equatorial, impactando negativamente empresários e a população. Lamentável”, escreveu no X (antigo Twitter).

Em uma entrevista a uma rádio local, ele afirmou um “governador” disse que valorizar funcionário público era “salgar carne pobre”. “A gente veio com outra mentalidade, outro conceito, de governar para todos.”

Na última semana, também pelo X, ele criticou a taxa do agro. Segundo ele, recebeu de produtores rurais e resolveu compartilhar: “Amigo Marconi, põe nas suas redes sociais: já que o governador está fingindo que quer ajudar os produtores rurais, que ele então acabe com essa Taxa do Agro, só essa medida de emergência não vai resolver o nosso problema, não.”

Em Goiás, em 5 de fevereiro, Caiado decretou situação de emergência em 25 municípios do Estado por conta da falta de chuvas e do impacto considerável na produção agrícola. Além da ausência de precipitações, o documento considera calor excessivo e a perda de umidade do solo nas lavouras.

Ainda antes, no começo do mês, Marconi foi ainda mais incisivo. “O governador Ronaldo Caiado age cruelmente com os produtores rurais goianos. Mesmo com a previsão de queda de 20% da safra de grãos deste ano, Caiado insiste em arrecadar bilhões em cima do setor produtivo.”

Segundo ele, somente o agronegócio em Rio Verde desembolsou cerca de R$ 400 milhões pela taxa do agro. “É um absurdo com quem produz e carrega a economia goiana e brasileira nas costas”, critica. “Para piorar, o atual governo estadual não entrega obras de infraestrutura, como havia se comprometido, com os valores arrecadados. Caiado age pensando apenas em seus projetos pessoais e eleitoreiros e não tem diálogo e nem demonstra empatia com o agronegócio goiano.”

Análise

Professor e cientista político, Guilherme Carvalho aponta que Marconi aposta na tese que a base de Caiado irá se esfacelar. Por estar muito “inchada”, o grupo tem interesses que devem se chocar e, aos poucos, se tornar independentes, podendo optar entre o vice que tende a disputar a sucessão, Daniel Vilela (MDB), e o tucano, em 2026.

“Nós não sabemos ainda ao certo como será isso, então ele precisa defender o legado dele enquanto governador do Estado. Faz comparativos em relação à personalidade. O Daniel já foi visto como alguém muito controverso, alguém que setores políticos têm desconfiança. Já o Marconi vai tentar a todo momento rememorar os momentos áureos em que o grupo dele esteve no poder, em que pessoas que hoje estão com o grupo do Caiado fizeram parte disso, para tentar reconstituir essa base para 2026”, avalia que o ex-governador deve tentar retornar ao Palácio das Esmeraldas.

O segundo elemento, segundo Guilherme, é que, como presidente do PSDB, ele pode colocar a legenda como terceira via – nem Daniel e nem nomes do PL ou PT. “Eu eu vejo que ele ele tenta em primeiro lugar encampar uma posição ao centro, uma posição em que ele seja o líder desse bloco em Goiás, ao mesmo tempo em que ele tenta reconstruir o seu partido a nível estadual e nacional.” Inclusive, ele cita que, nacionalmente, o PSDB tentará ser uma alternativa ao bolsonarismo que está sem candidato no momento – apesar da tentativa de Caiado.

Veja Também