Bolsonaro repete Collor com pedido a brasileiros que acabou mal em 1992

Acuado por conta de denúncias, Fernando Collor de Mello, em 1992, pediu que o povo fosse às ruas vestido as cores da bandeira para defendê-lo; povo vestiu preto e pintou o rosto de verde e amarelo

Postado em: 14-02-2024 às 11h30
Por: Yago Sales
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Bolsonaro pediu para a população ir às ruas vestindo a camiseta da Seleção Brasileira, assim como ele apareceu em vídeo | Foto: Reprodução

Circunstancial, há muita proximidade dos fatos envolvendo dois ex-presidentes separados por 30 anos: Fernando Collor de Mello e Jair Messias Bolsonaro. Encrencados, ambos, em algum momento, precisavam do apoio popular. 

Bolsonaro acabou de fazer um pedido em meio à ofensiva da Polícia Federal (PF) que, autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), tem devastado seu núcleo familiar e que esteve ligado ao seu mandato. Pediu para a população ir às ruas vestindo a camiseta da Seleção Brasileira, assim como ele apareceu em vídeo. 

A intenção é angariar apoio a ele e aos militares do alto escalão, ou seja, generais, que foram alvos por, segundo investigação, planejarem golpe sob a anuência do próprio Jair Bolsonaro – eleito pelo povo em eleições gerais em 2018. O ex-presidente teve o celular apreendido durante busca e apreensão.

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Na história recente da política brasileira, é a segunda vez que um presidente eleito, democraticamente, recorre ao povo com o pedido de ir às ruas vestindo verde e amarelo.  

Caras pintadas

Encharcado pelos escândalos de corrupção, que foram comprovados durante uma CPI após denúncias do irmão, Pedro Collor, Fernando, o presidente, não sabia o que fazer quando, aos berros, num evento governamental, pediu que brasileiros fossem às ruas vestidos com as cores da bandeira nacional: verde e amarelo. À época, não havia o vilipêndio da camiseta, pelo não massivamente, da Seleção Brasileira. 

Eleito sob a promessa de acabar com a roubalheira que imperava nas repartições públicas à época, o povo, revoltado, fez o inverso: vestiu-se de preto. E, para piorar, endossado por uma oposição barulhenta – com apoio da grande imprensa, evidentemente – pintaram os rostos. O movimento, que à época tinha um quê de popular, sem influência descarada de instituições – seja da direita ou esquerda -, ficou conhecido como os caras-pintadas. Era o fim do Collor no Palácio do Planalto. Ou com status de presidente na Casa da Dinda.  

O movimento demoliu Collor que, rastejando, deixou o poder pelas portas dos fundos, causando um receio nas instituições. Afinal, a democracia havia pouco voltara de 21 anos após uma feroz ditadura civil-militar. 

Collor, que espalhava por onde andava que era alvo de um complô de uma minoria, pediu que todos fossem às ruas: o que ocorreu. Mas num efeito contrário. Os caras pintadas intimaram a Câmara dos Deputados que desse a cabo logo ao mandato de Collor de Mello. E, durante três meses, o político, que há pouco desfrutava o mandato de senador da República, com amizade com o ex-presidente Jair Bolsonaro. 

O pedido de Bolsonaro, contudo, tem algum sentido em tempos de redes sociais, com o antagonismo e polarização com o Partido dos Trabalhadores – que ficou anos no poder – criado pelo homem escolhido pela direita para representá-los em Brasília. 

Outro fator: 30 anos depois, há mais meio de desinformação do que à época de Collor. As instituições foram mais destituídas, no sentido figurativo, de seu lugar de destaque, como a própria imprensa, cada vez mais desacreditada. O mesmo ocorreu com o judiciário, acusado de politização na pessoa, sobretudo, de Alexandre de Morais. E mais fortalecido canais acostumados a ganhar com fake news, inclusive elegendo parlamentares, por trás da proclamação do apoio de Bolsonaro. 

Quando a Câmara dos Deputados aprovou, em votação, o impedimento de Collor, que havia sido eleito pelo voto direto em 1989, o povo comemorou cantando o Hino Nacional. O resultado à época: 441 votaram a favor, 38 contra, 23 não votaram e um se absteve. Depois, no Senado, também foi aprovado. E Collor foi afastado. 

Nenhum observador da crônica política tem dúvidas que haverá, pelo País, manifestações favoráveis a Bolsonaro. Ele marcou no calendário para às 15h do dia 25, um domingo, na Paulista. “Um ato pacífico em defesa do nosso estado democrático de direito”, disse o ex-presidente vestindo uma camisa da seleção brasileira.

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