Orgulho e visibilidade lésbica: a história de luta travada por mulheres que amam mulheres

O mês de agosto possui duas datas de grande importância para o grupo representado pela primeira letra do movimento LGBTQ+; conheça a história por trás delas e entenda a luta travada por mulheres lésbicas

Postado em: 22-08-2021 às 13h23
Por: Giovana Andrade
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O mês de agosto possui duas datas de grande importância para o grupo representado pela primeira letra do movimento LGBTQ+; conheça a história por trás delas e entenda a luta travada por mulheres lésbicas. | Foto: Reprodução

O Mês do Orgulho LGBTQ+, celebrado em junho, se tornou uma data muito popular, em especial nos últimos anos, com a difusão do movimento pelos direitos desse grupo e principalmente graças ao espaço conquistado na mídia e à apropriação por grandes marcas, que apoiam e divulgam a celebração. Entretanto, uma parte da comunidade celebra a própria existência em outras datas, menos difundidas. Nos dias 19 e 29 de agosto são comemorados, respectivamente, o Dia do Orgulho Lésbico e o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica.

Isso acontece porque, assim como a própria comunidade LGBTQ+, o movimento político desse grupo também é diverso. A data em que se comemora o Orgulho Lésbico, por exemplo, foi escolhida em homenagem à primeira grande manifestação de mulheres lésbicas no Brasil, ocorrida em 1983, em São Paulo. Naquela noite de 19 de agosto, ativistas do Grupo Ação Lésbica Feminista (Galf) ocuparam o Ferro’s Bar para protestar contra os abusos e preconceitos que vivenciavam no local.

O acontecimento mostra que, ao contrário do que se pode acreditar, a discriminação contra lésbicas não se dá apenas em meios heterossexuais e amplamente homofóbicos, afinal, o Ferro’s Bar era um ponto de encontro para membros e ativistas da comunidade LGBTQ+. Lá, esse público, que ainda era perseguido pelo governo na época, nos últimos anos da ditadura militar, podia fazer suas performances e vender seu trabalho.

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No entanto, as lésbicas que frequentavam o bar não eram acolhidas como outros membros da comunidade LGBTQ+. Um mês antes da manifestação que veio a se tornar histórica, os donos do estabelecimento haviam proibido a distribuição do boletim “ChanacomChana”, a primeira publicação ativista lésbica do Brasil, e expulsaram as autoras do local.

Motivadas pelo veto, na noite da manifestação, integrantes do Galf conseguiram entrar no bar e obter a promessa dos donos de que não seriam mais impedidas de distribuir a revista ali. A data ficou conhecida como o “Stonewall brasileiro”, em referência à histórica manifestação de gays, lésbicas e travestis contra a repressão policial em Nova York, em 28 de junho de 1969, data que deu origem ao Dia Internacional do Orgulho LGBT.

O Dia do Orgulho Lésbico foi consagrado alguns anos mais tarde, em 2003, após a morte da ativista lésbica Rosely Roth, que liderou a manifestação no Ferro’s Bar. 

Já o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, comemorado no dia 29 de agosto, faz referência à data em que aconteceu o 1º Seminário Nacional de Lésbicas – Senale, realizado em 1996. O objetivo da data é se opor ao apagamento das mulheres lésbicas dentro do movimento LGBTQ+ e do movimento feminista. Criada por ativistas brasileiras, ela busca denunciar e combater a invisibilização de mulheres lésbicas, bem como as demais formas de violência sofridas por esse grupo.

Ambas as datas são de grande importância para as lésbicas tendo em vista que essas mulheres sofrem uma opressão muito específica, a lesbofobia, que é motivada tanto por questões de gênero quanto pela orientação sexual. Dessa forma, a opressão contra mulheres lésbicas se diferencia tanto daquela sofrida por mulheres heterossexuais quanto da sofrida por homens homossexuais, e faz com que sejam preteridas tanto no movimento feminista quanto no LGBTQ+. 

Os efeitos da lesbofobia vão desde o não reconhecimento das relações afetivas entre mulheres e da fetichização das mesmas, passando pela negligência quanto à saúde de mulheres lésbicas, até atos mais extremos, como o estupro corretivo — motivado pela intenção lesbofóbica de corrigir a sexualidade das lésbicas — e o lesbocídio.

No Brasil não são produzidos dados oficiais sobre a violência contra mulheres lésbicas, o que demonstra a falta de preocupação com esse grupo levando em conta suas especificidades. Essa ausência de dados concretos reforça outra consequência que é simultaneamente causa e resultado da lesbofobia: o apagamento sofrido por mulheres lésbicas.

O apagamento se dá na medida em que a sexualidade e as relações de mulheres lésbicas são constantemente desacreditados, sendo comum que casais precisem lidar com membros da família que insistem em tratar como amizade relações amorosas duradouras entre duas mulheres, ou ainda com a inconveniência de homens que se sentem no direito de invadir seu espaço, se convidando para um espaço em que definitivamente não são bem-vindos.

Assim, as datas que promovem o Orgulho Lésbico e a Visibilidade Lésbica se mostram indispensáveis, e é importante que a luta de mulheres lésbicas seja divulgada e apoiada, porque ainda há muito a se conquistar. A crença de que mulheres são lésbicas porque não “encontraram o homem certo”, ou ainda a afirmação de que o sexo lésbico é “incompleto”, são discursos violentos, que abrem espaço para o abuso físico desse grupo, além de ferirem sua existência e seu direito de amar quem quiserem.

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