Sex Education: série da Netflix retrata importância da educação sexual e diálogos familiares

Especialistas entendem que tratar a sexualidade como um tabu estimula o desconhecimento sobre algo natural

Postado em: 07-11-2021 às 10h44
Por: Maria Paula Borges
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Especialistas entendem que tratar a sexualidade como um tabu estimula o desconhecimento sobre algo natural | Foto: Reprodução

A série britânica ‘Sex Education’ chegou à Netflix em janeiro de 2019 e, desde então, é um grande sucesso. Atualmente, a produção de Laurie Nunn, tem duas temporadas regadas de perspectivas realistas sobre curiosidade sexual entre adolescentes e adultos, além de tratar sobre infecções sexualmente transmissíveis (IST), disfunção, aborto, questionamento de preferências sexuais, orientação sexual, consentimento, assédio sexual, relações abusivas, exposição, e muito mais. A trama trata os tabus de forma honesta e direta.

Entre as personagens da série está o protagonista, Otis Milburn, filho de terapeutas sexuais, que não consegue tratar relações sexuais como sendo algo natural. Logo no início da trama, Otis, juntamente com Maeve Wiley, comandam uma espécie de clínica alternativa na escola para dar conselhos aos colegas sobre educação sexual. Apesar de ser filho de terapeutas sexuais, Otis usava a mesma fonte que a maioria dos adolescentes utilizam: a internet e conhecimento comum.

A relação entre Otis e sua mãe, Dra. Jean Milburn, reforça a importância do diálogo dentro de casa. Durante a trama, o protagonista tem traumas quando relacionado à relações sexuais, portanto o diálogo entre os Milburn mostra que, dentro de casa, é um lugar seguro para dissipar traumas gerados e ressaltar a naturalidade.

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Por mostrar o cotidiano adolescente, tanto na escola como fora dela, a série tem como temática principal a descoberta sexual de jovens, além de mudanças de atitude entre adultos.

Um exemplo claro da falta de conhecimento é uma histeria coletiva que toma conta da escola gerada por um surto de clamídia (IST) que leva os alunos a loucura e a busca pelo causador da infecção. Com isso, alguns tiram vantagem falando que o uso de máscaras era necessário para conter a crise e, aqueles que não sabiam que era sexualmente transmissível, aderiram. O fato mostra que a falta de informação pode confundir, assustar e levar a atitudes totalmente equivocadas.

A partir do episódio, Dra. Jean entra em cena e se torna orientadora sexual no colégio. Diante dos conselhos e diálogo, ela ganha confiança dos alunos, professores e familiares. Portanto, o simples fato de se sentar e conversar sobre sexualidade pode dar um choque de realidade em quem se baseia apenas em informações rasas.

Como a educação sexual é tratada

Ainda hoje, há quem pense que falar sobre sexo com jovens é um tabu, e muitas vezes visto como errado. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o amplo acesso à educação e informação, juntamente com serviços de saúde qualificados, são ferramentas fundamentais para evitar problemas como gravidez precoce. “A abstinência somente é saudável se for uma escolha genuína do adolescente e não uma imposição ou a única opção oferecida. É fundamental garantir espaço para a autonomia. Qualquer programa com o objetivo de reduzir a prevalência de gravidez precoce deve promover o acesso à orientação adequada”, diz a médica Luciana Rodrigues Silva, presidente da SBP, no comunicado.

Apesar de a gravidez precoce ser um problema enorme na sociedade, outro problema também importante em ser debatido é a exposição a ISTs. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), uma menina entre 15 e 19 anos é infectada, a cada três minutos, com o Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), causador da Aids. Além disso, a taxa de rapazes entre 20 e 24 anos com Aids cresceu 133% entre 2007 e 2017.

Diante dos dados, educar de maneira correta as gerações aumentaria a consciência da importância do uso de preservativos para evitar problemas maiores. Com educação sexual, até mesmo os casos de assédio poderiam diminuir. “Se todo mundo tivesse educação sexual, até os casos de assédio poderiam diminuir porque todos estariam cientes da questão do consentimento; de que ‘não é não’ e ponto”, analisa a pedagoga Adriana de Oliveira, professora da Escola de Aplicação da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP).

Em casa é onde começa a educação sexual. É comum que com a “novidade” surjam dúvidas em jovens, portanto é importante que os pais e responsáveis estejam abertos para tirar as dúvidas. A dica de especialistas é que tudo seja respondido normalmente. “Educação sexual não tem a ver com pornografia e promiscuidade. Pelo contrário, ela abre nossa mente para conhecermos nosso corpo e nossas limitações”, observa a psicóloga Bruna Zimmermann, especializada em sexualidade humana pela USP.

Além disso, de acordo com a psicóloga Mary Neide Figueiró, especialista em educação sexual e professora da Universidade Estadual de Londrina (UEL), a orientação deve acontecer para meninas e meninos. “Educação sexual é importante para que os garotos repensem essa questão, que cada menino tem seu tempo e autonomia, assim como as meninas. Devemos deixar claro para os garotos que eles são corresponsáveis destas questões”.

Para a especialista, é importante que jovens saibam identificar as situações para se posicionarem. “A educação sexual que eu defendo é emancipatória. Ensinar para que os jovens vivam bem com sua sexualidade, com liberdade e respeito, que sejam críticos e saibam identificar situações para serem capazes de se posicionar”, afirma Figueiró.

A ONU considera ainda que a educação sexual está diretamente relacionada à promoção de direitos humanos e que é favorável a implementação de um currículo nas escolas. “Educação sexual é um programa de ensino sobre os aspectos cognitivos, emocionais, físicos e sociais da sexualidade. Seu objetivo é equipar crianças e jovens com o conhecimento, habilidades, atitudes e valores que os empoderem para: vivenciar sua saúde, bem-estar e dignidade; desenvolver relacionamentos sociais e sexuais respeitosos; considerar como suas escolhas afetam o bem-estar próprio e dos outros; entender e garantir a proteção de seus direitos ao longo da vida”.

Então, tratar a sexualidade, que se entende como o conjunto de comportamentos relacionados ao desejo e relações sexuais, como um tabu estimula o desconhecimento sobre algo que é natural na vida do ser humano, gerando ignorância por parte de adolescentes. A série Sex Education permite enxergar a escola, e a própria casa, como um campo para aprender sobre orientação sexual.

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