Hormônio liberado durante exercício pode ser terapêutico em casos de Covid-19

Uma pesquisa da Unesp, realizado com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, investiga a influência da irisina no organismo de pacientes com a doença | Foto: Reprodução.

Postado em: 16-08-2020 às 17h00
Por: Nielton Soares
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Uma pesquisa da Unesp, realizado com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, investiga a influência da irisina no organismo de pacientes com a doença | Foto: Reprodução.

Nielton Soares

Um estudo desenvolvido pela Universidade
Estadual Paulista (Unesp) indica que o hormônio irisina, liberado pelos
músculos durante a atividade física, pode ter efeito terapêutico em casos de Covid-19.

Os pesquisadores analisaram a expressão
gênica de células adiposas, apontando que a substância tem efeito modulador em
genes associados à maior replicação do novo Coronavírus (SARS-CoV-2) dentro de
células humanas.

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A descoberta teve como base os dados
de transcriptoma (conjunto de moléculas de RNA expressas em um tecido) de
células adiposas não infectadas por SARS-CoV-2 que receberam doses de irisina,
durante os testes.

“Confrontamos as informações
sobre os genes importantes na COVID-19 com nossos dados do transcriptoma para
fazer correlações. O resultado representa uma sinalização positiva para a busca
por novos tratamentos nesse momento de emergência com a pandemia”, diz Miriane
de Oliveira, pesquisadora da Faculdade de Medicina da Unesp, em Botucatu, à
Agência Fapesp.

A cientista acrescenta ainda que:
“É preciso ressaltar que se trata de dados preliminares, uma sugestão do
potencial terapêutico da irisina para casos de Covid-19. Estamos indicando um
caminho de pesquisa para comprovar ou não o efeito benéfico do hormônio em
pacientes infectados”.

O artigo foi publicado na revista
Molecular and Cellular Endocrinology descrevendo os dados gerados no estudo de
pós-doutorado de Oliveira, que analisou a ação da irisina e de hormônios
tireoidianos em adipócitos, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo (Fapesp).

Metodologia

Os pesquisadores utilizaram técnicas
de sequenciamento e identificaram 14.857 genes expressos em uma linhagem de
adipócitos subcutâneos. Ao tratar as células com irisina, observaram que a
expressão de vários genes foi alterada.

Devido à pandemia, os cientistas decidiram
investigar possíveis efeitos da irisina em genes relacionados à replicação do
SARS-CoV-2. A partir do cruzamento de dados, eles descobriram que o tratamento
com a irisina em células adiposas diminuiu a expressão dos genes TLR3, HAT1,
HDAC2, KDM5B, SIRT1, RAB1A, FURIN e ADAM10, reguladores do gene ACE2 –
fundamental para a replicação do vírus em células humanas.

Foi positivo também quando a irisina
triplicou os níveis de transcrição do gene TRIB3. Em outo estudo anterior foi
demonstrado a importância da manutenção da expressão de TRIB3. Em indivíduos
idosos é comum ocorrer a diminuição da expressão desse gene, o que pode estar
relacionado à maior replicação do SARS-CoV-2 e ao risco aumentado dessa
população à COVID-19.

“Um terceiro aspecto importante
está no achado de outros grupos de pesquisa sobre o tecido adiposo
aparentemente servir como repositório do vírus. Isso ajuda a entender por que
indivíduos obesos têm maior risco de desenvolver a forma grave da COVID-19.
Fora isso, indivíduos obesos tendem a ter níveis menores de irisina, assim como
maiores quantidades da molécula receptora do vírus [ACE2], quando comparados a
indivíduos não obesos”, afirma a pesquisadora.

 

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