Prefeitas governam para apenas 9% da população brasileira
Com diversos obstáculos relacionados ao gênero, mulheres estão no comando de apenas 14,2% dos municípios de Goiás.
Por Thauany Melo
A Confederação Nacional de Municípios (CNM), em parceria com o Instituto Alziras, divulgou a segunda edição do censo das prefeitas brasileiras. O intuito do levantamento é contabilizar o número de gestoras municipais e traçar o perfil, prioridades políticas, divisão geográfica, entre outros pontos.
No levantamento, foram entrevistadas 42% das 673 prefeitas em exercício, incluindo as vices que assumiram após a morte de dezenas de lideranças municipais por Covid-19. Os dados foram tratados estatisticamente e ampliados para a totalidade do país.
Segundo a pesquisa, as mulheres somam 51% da população brasileira, mas governam apenas 12% dos municípios. Enquanto isso, negras são 28% da população, mas governam apenas em 4% das cidades Os homens seguem no comando de 88% das prefeituras do país.
Além disso, as prefeitas se concentram nos municípios menores, de até 20 mil habitantes, e governam somente para 9% da população brasileira. Apenas uma prefeita, eleita em 2020, está no executivo de uma capital – Cinthia Ribeiro (PSDB), de Palmas (TO).
Obstáculos
Na pesquisa, os principais obstáculos apontados pelas prefeitas foram: falta de recursos para campanha; desmerecimento de seus trabalhos ou de suas falas; assédio e violência no espaço político; falta de espaço na mídia em comparação com políticos homens e sobrecarga de trabalho doméstico, dificultando a participação na política.
Do total, 58% das prefeitas afirmaram ter sofrido assédio ou violência política pelo fato de ser mulher. Outros ataques também foram registrados, como os motivados pela aparência física e perseguição ideológica.
Goiás
Dos 246 municípios de Goiás, 33 são comandados por mulheres, um percentual de 14,2%. Em Bela Vista de Goiás, a prefeita Nárcia Kelly (PP) pontuou que a sua trajetória na política foi marcada por ofensas ligadas ao gênero, situação econômica e idade. “Além de mulher, eu reunia outras duas características incomuns para políticos: jovem e com poucas condições econômicas. Durante as campanhas, escutei muitas piadas desrespeitosas envolvendo essas três condições”
Nárcia Kelly ressaltou que, em diversas ocasiões, precisou se posicionar e chamar a atenção de colegas sobre comentários desrespeitosos. “Já aconteceu de eu chegar em um evento político e algum colega brincar que as mulheres foram para enfeitar o lugar. Eu costumo me posicionar e, se houver abertura, explicar para a pessoa o motivo do comentário não ser adequado”, afirmou.
Para a política, os desafios estão sendo, aos poucos, superados. “A gente vem de um histórico social em que a participação da mulher no mercado de trabalho é relativamente recente. Isso traz mais desafios para as mulheres não só na política, mas em todas as áreas. Mas estamos nos saindo muito bem, a cada dia ocupando mais espaços e provando que sim, elas podem”.