O que explica o crescimento de Bolsonaro nas pesquisas?
Depois de amargar níveis históricos de rejeição, Bolsonaro tem recuperado os danos a sua imagem.
Boa parte do crescimento do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas pesquisas de intenção de votos e avaliação no desempenho do seu governo está relacionada com a entrega das emendas parlamentares para deputados da base e as chamadas emendas do relator -que ficaram conhecidas como orçamento secreto. Outro fator que faz a aprovação ou rejeição do presidente variar é a inflação e o preço dos combustíveis. A tendência, revelada nas pesquisas, é que quando o preço da gasolina sobe, sua rejeição sobe junto. O oposto também ocorre.
Depois de amargar níveis históricos de rejeição durante a pandemia, especialmente pelo negacionismo da doença e rejeição à vacina, Bolsonaro tem recuperado os danos a sua imagem desse período. Se as pesquisas são retratos do momento e o brasileiro tem memória curta, o presidente tem se beneficiado dessas duas máximas na política.
Apesar de se manter atrás do ex-presidente Lula (PT), a recuperação de Bolsonaro tem sido notada em diversas pesquisas de intenções de voto. Um levantamento da XP/Ipesp divulgada após a saída do ex-ministro e juiz da Lava-Jato Sergio Moro (União Brasil) da corrida eleitoral, mostrou Bolsonaro com 30% das intenções de votos e Lula com 44%. No último levantamento do mesmo instituto, o presidente aparecia com 26%.
A saída de Moro, por sinal, é uma, mas não a única explicação, para a retomada. O eleitor de Moro era, em grande parte, o mesmo eleitorado de 2018 insatisfeito com os governos petistas e, agora em 2022, estava insatisfeito com o governo de Bolsonaro. Mas na volta dos que não foram, a saída do ex-Juiz do páreo devolveu uma margem de segurança para que o atual presidente se mantenha firme na disputa.
Em busca da consolidação, o presidente tem feito uma corrida contra o tempo para entregar obras e benefícios à população. É que nos três meses que antecedem as eleições, nenhum candidato pode aparecer em inaugurações de obras. Importante recurso da base do presidente no Congresso Nacional, as emendas do relator têm sido utilizadas como carro chefe das benfeitorias do governo de Jair.
O cientista político Guilherme Carvalho explica que o presidente Lula estagnou nas pesquisas pela falta da caneta de aplicação de recursos e, enquanto busca competir pelas redes sociais, o presidente já está nas ruas. “O prisma econômico é aquele que mais favorece ao crescimento do presidente, mesmo que não seja um crescimento sustentado. Benefícios que não são constantes, também influenciam”, avalia.
Apesar da tentativa de colar no eleitorado de classe de renda baixa, com a extensão do programa Auxílio Brasil, saque FGTS, empréstimo para endividados, Carvalho avalia que o presidente não conseguiu capitalizar esses programas como sendo seus. A avaliação de Carvalho é que, por se postar como alguém muito ideológico, e por causa da falta de continuidade desses programas, a imagem do presidente não está atrelada aos benefícios.
Para o cientista político Paulo Kramer, o fato do presidente ter conseguido as principais lideranças do centrão para o seu governo mostra, mais do que as pesquisas, que a canoa de Bolsonaro não está furada. “O posicionamento de Lula nas pesquisas tem a ver, ou teve a ver até pouco tempo atrás, com aquilo que os publicitários chamam de recall. A lembrança que as pessoas tinham dos bons tempos dos mandatos do Lula era que as pessoas tinham mais dinheiro no bolso e o bem estar. Mas à medida que a campanha avança, o ex-presidente vai estar cada vez mais confrontado com fatos e versões de que ele presidiu o maior esquema de corrupção da história da humanidade”, comenta.