Lula e Bolsonaro têm empate técnico no 1° turno, diz Instituto de pesquisa contratado pelo governo
Em março deste ano, o governo federal assinou um contrato de R$ 1,6 milhão com o Paraná Pesquisas, que irá fazer sondagens sobre políticas públicas, com a vigência de um ano
O Instituto Paraná Pesquisas divulgou, nesta terça-feira (13/9), um levantamento que aponta empate técnico entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). No primeiro turno, Lula aparece com 39,6% das intenções de voto, enquanto Bolsonaro está com 36,5%.
Com pequenas diferenças, esse resultado se repete desde maio. No entanto, instituições como Datafolha, Ipec e Quaest, apontavam liderança de Lula no período.
O Paraná Pesquisa, desde o início da disputa, já realizou 38 sondagens de intenção de voto. Diferente de outras pesquisas, os levantamentos do instituto têm resultados menos negativos para o atual presidente.
Em março deste ano, o governo federal assinou um contrato de R$ 1,6 milhão com o Paraná Pesquisas, para fazer sondagens sobre políticas públicas, com a vigência de um ano.
Segundo Murilo Hidalgo, um dos donos do instituto, essa decisão fez parte de um planejamento estratégico e a empresa nunca disputou uma concorrência pública. “Temos confiança no trabalho que realizamos e a margem de acerto do instituto pode ser verificada em pesquisas realizadas em outras eleições”, disse Hidalgo à Folha.
A empresa declarou, ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ter financiado 17 de suas próprias pesquisas eleitorais para a Presidência da República até o início de setembro, que configura 46% do total, uma postura que gera desconfiança no setor.
Leia também: Ciro Gomes critica autonomia do Banco Central
“É estranho que um instituto que vive de vender pesquisas financie demais seu trabalho”, disse Duilio Novaes, presidente da Abep (Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa).
Assim, para Novaes, esse acordo possibilita a ocultação de um eventual contratante, abrindo caminho para caixa dois. De acordo com dados da Abep, a quantidade de pesquisas financiadas pelos próprios institutos teve um crescimento maior, que pulou de 5 para 54, de janeiro a junho.
Já as contratadas, passaram de 18 para 96 no mesmo período. O critérios técnicos dos estudos feitos pelo Paraná vinham despertando suspeitas da Abep e seus associados. Em 2017, a associação questionou um levantamento do instituto, que mostrava o suposto apoio da população brasileira a uma intervenção militar.
“Dois meses depois, publicaram uma explicação sobre os nossos questionamentos na página deles na internet”, conta Novaes. A empresa teria ouvido entrevistados de forma on-line, projetando dados nacionais.
“Por essa metodologia, eles teriam de possuir uma base digital de dados de toda a população brasileira, algo que nem as maiores empresas do país possuem”, afirma o presidente da Abep.
Leia também: Lula é presidenciável que mais gastou com propagandas eleitorais
Relação do Instituto com Bolsonaro
À Folha, Murilo Hidalgo disse que atua há 32 anos no mercado e que sua relação com Bolsonaro é “meramente institucional”. Ele ainda disse que mantem “contato com os demais políticos de outras correntes”.
O empresário afirma que o financiamento de pesquisas próprias “não é algo exclusivo do instituto”. “Faz parte da estratégia de marketing da empresa. Vale lembrar que nas últimas eleições municipais, o Ibope [hoje Ipec] e outras empresas utilizaram-se da mesma estratégia e não temos conhecimento de que essas empresas foram também questionadas”, explicou.
Em março deste ano, também, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, que hoje é vinculada ao Ministério das Comunicações, assinou um contrato de R$ 1,6 milhão com a empresa de Hidalgo. O intuito seria de realizar pesquisas sobre “opinião pública”, ligadas à reputação do governo.
Sobre esse contrato, Hidalgo alega ser a primeira vez que trabalha para um órgão público e disse que os serviços ainda não foram prestados. Além disso, em relação aos questionamentos da Abep, a instituição achou melhor “se desvincular, pois não houve retorno sobre outras demandas”.
O secretário de Comunicação Social, coronel André de Sousa Costa, conta à Folha que o governo necessitava dessas pesquisas para a melhor alocação de recursos publicitários. Costa negou, ainda, o uso político ou eleitoral do instituto. “A Secom definirá as perguntas [relativas ao contrato] e não haverá nada de cunho eleitoral”.
“Eu preciso saber a avaliação dos brasileiros sobre as políticas públicas do governo para decidir quais os melhores canais de veiculação de propaganda ou de esclarecimentos sobre as ações e medidas que são tomadas”, ressaltou.