Expulsão de Ibaneis divide emedebistas
Enquanto uns brigam pelo afastamento imediato do governador, outros pedem cautela
O MDB está dividido. Depois dos ataques ao Congresso Nacional, Planalto e Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, e, consequentemente, o afastamento do governador Ibaneis Rocha (MDB) do cargo, lideranças da sigla divergem agora sobre a culpabilidade do gestor.
Enquanto uma ala do partido pede a expulsão imediata de Ibaneis por suspeitar que o governador fez vista grossa à situação, uma outra parcela clama por cautela. Isso porque nem todos acreditam que Ibaneis tenha sido, de fato, conivente. Pensam que simplesmente falhou na função de impedir o pior.
O presidente do MDB metropolitano, Henrique Alves, é um deles. Em entrevista ao jornal O HOJE, o emedebista disse ser contrário a uma expulsão sumária, seja de Ibaneis ou qualquer outro membro da sigla. “O mínimo que uma pessoa tem que ter é o direito a defesa. Ele precisa explicar os motivos que o levaram a agir daquela maneira, precisa explicar os motivos que o levaram a conduzir o cenário daquela forma”, argumentou.
Em outro trecho, Alves ainda chamou atenção para o prazo de 90 dias em que o gestor permanecerá afastado do cargo de governador do DF. “Nesses três meses teremos a oportunidade de apurar e tomar a melhor decisão. Sem contar que estamos falando de um governador, não é uma figura qualquer”, destacou ao defender que qualquer ato seja tomado com a devida cautela. Depois, arrematou: “Conheço o Ibaneis da OAB [Ordem dos Advogados do Brasil], sempre foi um democrata”.
No cenário nacional, porém, a situação é diferente. Um dos influentes que defende a expulsão de Ibaneis é o senador Renan Calheiros. O emedebista chegou a declarar que o governador agia em “benefício de Bolsonaro e dos terroristas há bastante tempo”.Conforme mostrado pelo Correio Braziliense, o senador pede não apenas o imediato afastamento do colega de partido como também que o gestor seja investigado pela CPI que será instaurada no Congresso.
Calheiros conta com uma ala do partido que não concorda com as posições do governo de Ibaneis. O senador, vale destacar, começou a recolher assinaturas para instalação da CPI dos Atos Antidemocráticos ainda na noite do último domingo (8/1) enquanto a Força Nacional tentava varrer os radicais da Esplanada dos Ministérios, na Capital Federal.
Outro ponto relevante é que Ibaneis agiu a contragosto de parte importante do MDB na eleição do ano passado. Na contramão de alguns caciques que trabalhavam na tentativa de emplacar o nome da senadora Simone Tebet (MDB) como terceira via na corrida pela presidência, Ibaneis ficou do lado de Bolsonaro e trabalhou pela reeleição do ex-presidente até o último minuto. Nos bastidores a informação é que parte dessa cúpula pode, agora, tentar retaliar o governador.
Um dia depois da decisão de Moraes, o MDB-DF se posicionou sobre o assunto. Sem mencionar qualquer possibilidade de expulsão do gestor, pediu, na verdade, a recondução de Ibaneis ao posto de governador. “Respeitamos a decisão do eminente ministro. Todavia, ousamos discordar, por considerar que tal decisão representa uma intervenção contra a autonomia política e administrativa do Distrito Federal, sem a devida apuração dos fatos”
“Informações equivocadas”
A governadora em exercício, Celina Leão (PP), saiu em defesa do governador Ibaneis ao comentar o afastamento do titular. Conforme mostrado pela reportagem do Correio, ela assegurou que o emedebista recebeu informações equivocadas sobre os atos. Isso, segundo ela, será provado. “No bojo do inquérito, isso vai ficar bem claro, e as pessoas vão ser punidas. Temos certeza que não tem a participação do Ibaneis”, disse.
O MDB goiano também foi procurado para comentar o assunto, mas até a publicação desta reportagem não respondeu aos questionamentos.