Motta ignora pressão sobre anistia e pauta outros temas
Alvo de retaliações, presidente da Câmara não cede a pressão bolsonarista

O coro bolsonarista a favor do projeto de lei que visa anistiar os presos pelo 8 de janeiro de 2023 repercute na bolha dos apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas não causa o impacto desejado. Aliados e apoiadores mais radicais de Bolsonaro pressionam o Congresso Nacional, entretanto, o resultado não tem sido o esperado.
No último domingo, 6, o ato na avenida Paulista reverberou a insatisfação bolsonarista com o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB). O escolhido para atacar o presidente da Casa Baixa foi o pastor Silas Malafaia, que organizou a manifestação. Os ataques partiram do líder evangélico – visto que os deputados presentes não pretendiam se indispor com Motta publicamente.
Malafaia afirmou que o presidente da Câmara pediu para que os líderes partidários não assinassem o pedido de urgência do projeto da anistia. Segundo ele, Motta envergonha o “honrado povo da Paraíba”. Antes da manifestação, em entrevista ao Metrópoles, Malafaia declarou que o chefe da Casa Baixa era um “opositor” à matéria da anistia “porque pediu aos líderes para não assinarem”. “Ele não é um aliado, mas tomara que mude depois dessa manifestação. Eu espero que ele mude, mas até aqui, não é”, disse o pastor, horas antes do ato na Paulista.
Porém, a má notícia para a oposição é que a pressão não parece incomodar o paraibano. Ao invés disso, Motta segue cumprindo e pautando matérias do governo federal. Acusado de se aliar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pela oposição, o presidente da Câmara receberá a visita do ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, em sua residência oficial. A reunião será para tratar da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, que será encaminhada à Câmara nesta terça-feira, 8.
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Além disso, em palestra na Associação Comercial de São Paulo (ACSP) na última segunda-feira, 7, Motta disse ser necessário “sensibilidade para corrigir algum exagero que vem acontecendo com quem não merece receber uma punição”. Ademais, garantiu que não trabalha “para agravar uma situação do país que já não é tão boa”. “Não podemos ficar uma Casa de uma pauta só”, explicou. O parlamentar prometeu discutir uma solução que pacifique o país, com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e representantes do Executivo e Judiciário.
Motta também pautou urgência em quatro projetos ligados ao Supremo Tribunal Federal (STF). O simbolismo do gesto foi uma resposta para os bolsonaristas, que os ataques e a pressão não mudaram a percepção do presidente da Câmara sobre o projeto. A objeção do paraibano em pautar a anistia levou os deputados do PL a obstruir projetos na Casa Baixa – paralisando e retardando discussões -, uma estratégia utilizada para dar visibilidade ao projeto da anistia, mas que tem causado revolta nos presidentes das comissões.
A falta de apelo popular também pesa contra a oposição. A manifestação na avenida Paulista reuniu cerca de 55 mil pessoas, segundo a estimativa do Datafolha. O número é muito abaixo do que esperava a cúpula de apoiadores do ex-presidente, que não alcançou o número esperado mesmo com a presença de sete governadores. O público não foi impactante o suficiente para pressionar pelo projeto como desejava a oposição, agora, resta saber se a pressão sobre Motta e o Congresso surte algum efeito, caso contrário, o projeto da anistia pode caminhar para um fim não desejado por Bolsonaro e companhia. (Especial para O Hoje)