China leva tarifas dos EUA à ONU e acusa Trump de “pressão extrema”
Escalada tarifária acende alerta e representa desafio significativo para a economia global. Potenciais efeitos nos demais países são esperados

Depois de novo aumento das taxas impostas pelos Estados Unidos aos produtos chineses, o país asiático convocou, na última quarta-feira, 16, uma reunião no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU). O objetivo é tentar estabelecer um freio às investidas do governo americano, encabeçado por Donald Trump, que, economicamente, tem gerado insegurança não apenas à China, mas à economia de diversos outros países.
A China alegou, ao convocar a reunião, que o governo Trump tenta “lançar uma sombra sobre os esforços globais pela paz e pelo desenvolvimento”. Em outro trecho da carta enviada aos países membros da ONU o país considera que “todos, particularmente os países em desenvolvimento, são vítimas de unilateralismo e práticas de bullying”. Segundo os asiáticos, Donald Trump tem usado as tarifas como arma de “extrema pressão”. “Os EUA violaram gravemente as regras do comércio internacional e provocaram choques e turbulências severos na economia mundial e no sistema de comércio multilateral”, considera. =
Em um movimento que reacendeu as tensões comerciais globais, os Estados Unidos anunciaram um aumento significativo nas tarifas sobre produtos chineses, chegando a 245% e afetando setores estratégicos como veículos elétricos, baterias, aço e minerais críticos. A medida, que eleva as tarifas sobre veículos elétricos de 25% para 100% e dobra as taxas sobre semicondutores para 50% até 2025, visa pressionar a China a eliminar práticas comerciais consideradas desleais, como subsídios à produção e transferência forçada de tecnologia .
A China vinha respondendo às investidas americanas com aumentos das suas próprias tarifas, que chegaram a 125%. Especialistas alertam que essa escalada tarifária pode desencadear uma crise no comércio internacional, com impactos negativos sobre o crescimento econômico global. O Fundo Monetário Internacional já revisou para baixo as previsões de crescimento econômico global, e há preocupações de que os EUA possam entrar em uma recessão, com a possibilidade de estagflação como cenário mais otimista.
Para além dos envolvidos
No Brasil, as consequências já são sentidas. A indústria siderúrgica, por exemplo, teme uma “inundação” de aço chinês no mercado brasileiro, caso os EUA restrinjam as importações do produto. O CEO da ArcelorMittal no Brasil, Jefferson De Paula, alertou que essa sobreoferta pode afetar diretamente as empresas brasileiras, levando a cortes de investimentos e prejudicando a competitividade da indústria nacional .
Além disso, a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) reportou uma queda de 8% no faturamento do setor em 2024, enquanto as importações cresceram 10%, com um aumento de 33% nas importações de produtos chineses. Esse cenário pode pressionar a inflação e forçar o Comitê de Política Monetária (Copom) a adotar uma postura mais rigorosa em relação aos juros .
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Diante desse contexto, o governo brasileiro e representantes da indústria têm buscado diálogo com os EUA para evitar que o país seja afetado pelas novas tarifas. A Embaixada do Brasil em Washington e membros da indústria brasileira do aço têm trabalhado intensamente para dissuadir o governo americano de aumentar as taxas sobre o aço ou deixar o Brasil de fora da medida .
A escalada tarifária entre EUA e China representa um desafio significativo para a economia global, com potenciais efeitos adversos para países em desenvolvimento como o Brasil. A situação exige uma resposta coordenada e estratégica para mitigar os impactos e preservar a estabilidade econômica.