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quinta-feira, 19 de junho de 2025
SAÚDE PÚBLICA

Goiás reforça luta contra meningite após registrar 30 casos da doença

No Dia Mundial da doença 24/04, o estado intensifica a vigilância e aposta na vacinação

Renata Ferrazpor Renata Ferraz em 24 de abril de 2025
Meningite
Foto: Reprodução

No dia 24 de abril, o mundo volta os olhos para a meningite, uma doença grave e potencialmente fatal que ainda desafia sistemas de saúde, mesmo sendo amplamente prevenível. A data marca o Dia Mundial de Combate à Meningite, uma iniciativa global criada para aumentar a conscientização sobre a doença, reforçar a importância da vacinação e ampliar o apoio às vítimas e seus familiares.

A meningite é uma inflamação das membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, conhecida como meninges. Pode ser causada por diferentes agentes infecciosos, como bactérias, vírus e fungos, além de outras causas mais raras, como agentes químicos. O tipo mais temido é o bacteriano, devido à sua alta taxa de mortalidade e risco de sequelas graves, caso o tratamento não seja iniciado de forma imediata.

De acordo com o infectologista Marcelo Daher, a doença deve ser considerada uma emergência médica. “A meningite pode evoluir rapidamente. Os sintomas principais incluem febre alta, dor de cabeça intensa, náuseas, vômitos em jato, sensibilidade à luz, rigidez na nuca e, em casos mais graves, convulsões e confusão mental. Nos bebês, os sinais podem ser mais sutis, como choro excessivo, sonolência e recusa alimentar”, explica.

A preocupação das autoridades de saúde com a doença se reflete nos números. Segundo dados do Ministério da Saúde, apenas em 2024, o Brasil registrou 14.352 casos suspeitos de meningite, com 7.706 confirmações e 974 mortes. Goiás aparece com 290 casos confirmados no mesmo período, número que reforça a necessidade de manter vigilância e ações preventivas constantes.

Entre janeiro e março de 2025, o estado de Goiás contabilizou 30 novos casos, de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO). O número é inferior ao registrado no mesmo período de 2024, quando houve 52 confirmações. No Hospital Estadual de Doenças Tropicais Dr. Anuar Auad (HDT), foram 127 casos confirmados durante todo o ano passado. Já nos primeiros quatro meses deste ano, 16 casos foram confirmados entre os 30 notificados. Ainda não houve óbitos em 2025, mas oito casos permanecem em investigação.

A infectologista pediátrica do HDT, Roberta Rassi, alerta que a meningite, sobretudo na forma bacteriana, pode deixar sequelas permanentes. “Sequelas como perda auditiva, dificuldades motoras, problemas na fala e até danos neurológicos irreversíveis são comuns quando o diagnóstico e o tratamento não são realizados de forma rápida”, ressalta.

A transmissão da meningite bacteriana ocorre principalmente por via respiratória, através de gotículas eliminadas ao falar, tossir ou espirrar. A doença pode surgir também como complicação de infecções não tratadas, como sinusite ou otite. Já a meningite viral depende do tipo de vírus envolvido. Vírus como os da dengue e da catapora, por exemplo, podem desencadear a inflamação das meninges.

O tratamento exige internação hospitalar e administração de antibióticos por via endovenosa. O tempo de internação varia de acordo com a gravidade do quadro clínico e a resposta do paciente ao tratamento. Já nos casos virais, o tratamento costuma ser sintomático, com acompanhamento médico.

Vacinação: a principal estratégia de prevenção contra meningite

A principal forma de se proteger contra a meningite é a vacinação. O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece gratuitamente vacinas eficazes contra os principais agentes bacterianos causadores da doença. O calendário vacinal inclui a vacina pneumocócica 10-valente e a pentavalente a partir dos dois meses de idade. Aos três meses, é administrada a vacina meningocócica do tipo C. A dose de reforço ocorre aos 12 meses. Adolescentes entre 11 e 14 anos recebem a vacina meningocócica ACWY em dose única.

“Manter o calendário vacinal em dia pode evitar internações, sequelas e mortes”, reforça a médica Roberta Rassi. “É essencial que pais e responsáveis estejam atentos às datas e garantam a imunização completa das crianças.”

A vacina meningocócica B, conhecida como Bexsero, está disponível na rede privada e também é recomendada para crianças a partir dos dois meses. O esquema vacinal inclui três doses, com reforço entre 12 e 15 meses. Para adolescentes, são duas doses com intervalo de um mês entre elas. A imunização contra a meningite é indicada inclusive para alguns adultos em situações específicas, como profissionais de saúde ou pessoas imunossuprimidas.

Rassi reforça ainda que, embora pessoas vacinadas possam contrair a doença, os casos tendem a ser mais leves. “A vacinação reduz o risco de complicações graves e contribui para o controle da circulação dos agentes infecciosos”, destaca.

Segundo Daher, a introdução de vacinas no calendário nacional provocou uma queda significativa na incidência da doença. “A vacina contra o Haemophilus influenzae tipo B, por exemplo, praticamente erradicou os casos de meningite causados por essa bactéria no Brasil. A vacinação é uma das ferramentas mais eficazes da medicina moderna”, afirma.

Dados do Ministério da Saúde apontam que, entre 2007 e 2020, o Brasil notificou 393.941 casos suspeitos de meningite. Destes, 265.644 foram confirmados, sendo a forma viral a mais comum (121.955 casos), seguida pela bacteriana (87.993 casos). A letalidade da doença continua alta: nesse período, foram registrados 5.581 óbitos por meningite bacteriana, o que representa uma taxa de letalidade média de 21%.

Outro dado relevante é a redução no coeficiente de incidência da doença meningocócica após a introdução da vacina meningocócica C. A média de casos caiu de 1,5 para 0,4 por 100 mil habitantes nos últimos anos. O sorogrupo C continua sendo o mais frequente, seguido pelos grupos B, W e Y.

O Ministério da Saúde e as secretarias estaduais têm investido em estratégias para ampliar o alcance da vacinação, inclusive com campanhas em escolas e postos volantes. A participação das famílias é decisiva para o sucesso dessas ações.

É importante lembrar que algumas vacinas contra a meningite estão disponíveis somente na rede privada, como a meningocócica B. Por isso, o acompanhamento pediátrico é fundamental para avaliar as indicações e garantir a proteção completa.

Vacinar é um ato de responsabilidade. Proteger as crianças e adolescentes contra a meningite é garantir um futuro com menos sofrimento, menos hospitalizações e menos mortes. No Dia Mundial de Combate à Meningite, o compromisso é com a vida.

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