CPI do Crime Organizado e do INSS servem como termômetro da gestão Lula
Governo teme que oposição consiga monopolizar o debate sobre segurança em CPI, assim como ocorreu nas investigações de descontos irregulares de pensionistas
As comissões parlamentares de inquérito (CPIs) abertas no Congresso Nacional têm servido como termômetro da gestão de Lula. Antes, o governo estava em apuros devido à ascensão da CPMI do INSS e, agora, pode ter equilibrado forças no comando da CPI do Crime Organizado, no Senado.
A primeira investiga descontos irregulares contra aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do Seguro Social e colaborou para desgastar a gestão de Lula. Sobretudo porque cinco requerimentos foram feitos para que Frei Chico, irmão do presidente, seja investigado pela comissão. Frei Chico é vice-presidente do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi), entidade investigada no esquema de fraude bilionário de descontos indevidos nas contas de aposentados e pensionistas do INSS.
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Já a segunda comissão, do Crime Organizado, possui cinco membros aliados do governo: Jaques Wagner (PT-BA), Otto Alencar (PSD-BA), Rogério Carvalho (PT-SE), Fabiano Contarato (PT-ES) e o suplente Randolfe Rodrigues (AP). A CPI deve funcionar por 120 dias e pretende apurar a estrutura e expansão de facções criminosas como o Primeiro Comando da Capital (PCC), Comando Vermelho (CV) e de milícias.
Outros alvos da comissão são as fontes de financiamento e lavagem de dinheiro das facções criminosas, o domínio territorial e prisional, as conexões regionais e transnacionais, a atuação e a possível infiltração no poder público. A CPI do Crime Organizado foi criada também para elaborar propostas de mudanças legislativas referentes ao assunto.
Apesar de a comissão ser formada por aliados estratégicos do governo Lula, o avanço de pautas ligadas à segurança pública é algo visto como negativo para a gestão do petista, já que o assunto é pauta da direita que, inclusive, tem reagido a cada fala de Lula sobre o tema.
Equilíbrio de forças
Para equilibrar as forças na CPI, quatro senadores da oposição decidiram participar da comissão: Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Sergio Moro (União-PR), Marcos do Val (Podemos-ES) e Magno Malta (PL-ES).
O petista Fabiano Contarato (ES) foi eleito presidente da comissão na última terça-feira (4), na primeira reunião no colegiado. O emedebista Alessandro Vieira (SE) foi definido como relator. Será Vieira o responsável por conduzir o inquérito e propor medidas como, por exemplo, indiciamentos e projetos de lei.
Já a vice-presidência da CPI ficou sob responsabilidade do senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS). O bolsonarista concorreu à presidência com Contarato, mas o petista obteve um voto a mais que Mourão.

Com a perspectiva de fazer com que a segurança seja um assunto abordado com mais frequência pela esquerda, Contarato afirmou que o tema não deve ser uma pauta apenas da oposição no Congresso. “Faço um apelo às lideranças progressistas: é hora de ocupar esse espaço de debate com coragem, técnica e empatia, porque enquanto hesitamos, o medo avança.”
O senador destaca sua compreensão sobre o significado de progresso e desenvolvimento nacional. “Progressismo, para mim, é enfrentar a realidade de frente, não ignorá-la. Eu acredito na ressocialização, mas não em impunidade disfarçada de compaixão.”
Crítica à base de Lula
Eduardo Girão, senador pelo partido Novo do Ceará, criticou a atuação dos parlamentares do governo para assumir a liderança da CPI, ocupada por Contarato. Girão afirmou que abrir CPIs é um direito da minoria e é necessário o apoio de apenas um terço dos senadores para sua abertura.
“Mais uma vez o governo Lula, que não assinou e não queria que essa CPI existisse, toma de assalto essa comissão. No momento que coloca algum senador do Partido dos Trabalhadores, que tem que investigar o próprio governo Lula, a gente perde a legitimidade”, reclama o parlamentar do Novo.
A instalação da CPI ocorreu uma semana após a operação policial que deixou 121 mortos nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro. Onze senadores integram a comissão, que terá R$ 30 mil para desembolsar em suas investigações. (Especial para O HOJE)