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quinta-feira, 25 de dezembro de 2025
OPINIÃO

Caiado faz há 7 anos o que Lula quer agora no transporte

Empresas de ônibus quebram porque o modelo é ineficaz e o mercado não colabora, daí a necessidade de intervenção do poder público, como acontece em Goiás; em Goiânia, a prefeitura não dispõe sequer de projeto de melhoria

Nilson Gomespor Nilson Gomes em 25 de dezembro de 2025
Caiado
Em Goiás, o governador Ronaldo Caiado segura em R$ 4,30 a tarifa do transporte há sete anos Foto: Hegon Corrêa e Benedito Braga

A especulação imobiliária em Goiânia, como em todas as regiões metropolitanas do mundo, distanciou os endereços e encareceu os deslocamentos. Por isso, cabe a cada governo corrigir com subsídio o erro cometido em décadas anteriores. Em Goiás, o governador Ronaldo Caiado segura em R$ 4,30 a tarifa do transporte há sete anos. No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende, para um eventual 4º mandato, adotar a gratuidade em ônibus, metrôs, balsas. O custo da iniciativa seria de R$ 90 bilhões por ano. Ou seja, o que para um é perspectiva, para o outro é realidade – e uma realidade dispendiosa.

O problema parece insolúvel. Apesar dos incentivos fiscais, de o poder público bancar benefícios como as meias para estudantes e 100% para idosos e pessoas com deficiência, as empresas quebram. O saldo negativo entre receita e despesa produz ônibus velhos, com pneus carecas, salários defasados e pepinos nas mesas dos administradores públicos. Dezenas de praças, algumas delas imensas, foram tiradas da sociedade e repassadas para o sindicato do transporte. Na Vila Nova, a Praça da Bíblia. Em Campinas, a Praça OK. No Setor Pedro Ludovico, a Praça Isidória. Entre tantas outras. Ainda assim, as ruas vizinhas a esses logradouros ficam lotadas de ônibus estacionados, pois seus donos não investem na compra de estacionamentos.

No Brasil, só pobre anda de ônibus

Trata-se de algo básico: no Brasil, sobretudo em Goiás, só quem anda de ônibus é pobre e pobre paga, em proporção, mais imposto que rico. O mendigo que ganha uma moeda e compra um pão acaba de contribuir mais com o Estado que um banqueiro. Por essa tese, que não é especulatória nem esquerdista, os R$ 90 bilhões anuais para pagar a tarifa zero no transporte são um mal menor. As mesmas máfias dos loteamentos que, no País inteiro, forçaram a implantação de bairros longínquos também estão ligadas ao transporte, por seu turno com relação umbilical no setor de combustíveis. Enfim, fecham-se os 360º das organizações.

É um mercado tão ruim que não se veem os grandes grupos investindo no transporte público. Qual o nome da empresa de ônibus do Itaú? E a do Bradesco? A última licitação nas linhas do transporte da Grande Goiânia, realizada quando o prefeito ainda era Iris Rezende Machado (1933-2021). Sabe quantos concorrentes de outros Estados apareceram para disputá-las? Exatamente nenhuma: as mesmas concessionárias de sempre venceram as mesmas linhas de sempre. Foi desnecessário combinar ou fraudar o processo, pelo motivo de ninguém se interessar.

Tema vai gerar bons debates entre Caiado e Lula

Será um bom embate entre Caiado e Lula, pois o governador vai começar seu 8º ano de mandato e até hoje a União ficou fora das ajudas no transporte de passageiros urbanos. Nenhum deputado federal ou senador enviou qualquer emenda para, digamos assim, subsidiar o subsídio. A Assembleia Legislativa de Goiás torra bilhões de reais dos repasses sem se interessar pela mobilidade das vítimas da Região Metropolitana. As prefeituras não se cansam de espernear. Em resumo, estão se lixando se o trabalhador vai para o serviço se sacolejando num ônibus velho e ainda tem de pagar mais de R$ 12 pelo deslocamento – que seria para quanto saltariam os R$ 4,30 se não fossem os subsídios.

As experiências internacionais de tarifa zero ainda não alcançaram nações populosas, como o Brasil – começaram no minúsculo Luxemburgo, uma monarquia europeia menor em área que o município goiano de Alto Paraíso (2.586km² a 2.593km²) e população pouco maior que a de Aparecida (660 mil a 527 mil). Centenas de cidades importantes, espalhadas pelo globo inteiro, implantaram a novidade, inclusive a goiana Luziânia, no Entorno do Distrito Federal. O segredo é um só: põe dinheiro que funciona. Transporte exige recurso. E recurso alto. À vista. Dia e noite, 247, 24 horas por dia, 7 dias por semana.

Qualidade reduz poluição e melhora trânsito

Não adianta correr da causa nem subestimar suas consequências. O presidente da República, governadores e prefeitos têm de equacionar a operação que envolve pessoas jurídicas que precisam de empregados, trabalhadores que dependem de acesso a seus clientes, lojistas à espera de fregueses etc.. No meio disso tudo está o transporte público. Sem ele, as ruas não suportam os carros, o ar não aguenta a poluição, os pulmões não têm espaço para tanto gás carbônico. Um ônibus lotado carrega 80 passageiros, a média de um veículo de passeio, mesmo que seu motorista esteja a trabalho, é de 1 ocupante.

Caiado
Foto: Jota Eurípedes e Junior Guimarães

Sem transporte público de qualidade, é vã a tentativa de melhorar o trânsito alargando ruas, acabando com praças, tirando passeio. As maiores concentrações urbanas de Goiás, a Grande Goiânia, Anápolis e o Entorno de Brasília, ainda estão na pré-história quando o assunto é a interface entre os modais. Aqui não existe metrô nem trem e o tal BRT, o tal ônibus rápido, virou piada de tão igual às demais tartarugas. O prefeito Sandro Mabel não dispõe sequer de projeto mínimo de melhoria do gargalo. (Especial para O HOJE)

 

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