Quase quatro mil pessoas desapareceram durante a pandemia da Covid-19 em Goiás

Quase quatro mil pessoas foram registradas como desaparecidas em Goiás durante o período de pandemia da Covid-19, a partir de abril do último ano. Os dados são da Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP-GO). Desde 2016, foram mais de 10 mil ocorrências de pessoas que ainda permanecem desaparecidas. 

Conforme explica a Secretaria, os dados são referentes ao número de ocorrências registradas junto às forças de segurança. Com relação ao total de pessoas localizadas, vale destacar que, em diversos casos, não há um retorno por parte do solicitante (familiar, amigo ou conhecido) informando sobre a localização do desaparecido, o que eleva o número de subnotificações.

O desaparecimento de uma pessoa acaba gerando angústia e desespero na família, já que ninguém sabe o que aconteceu. O caso mais recente é o do adolescente Wanderson Chaves Leite, 17 anos, que ficou mais de um mês desaparecido em Palmeiras de Goiás. Ele havia sido visto pela última vez no dia 25 de outubro e, desde então, começou a ser procurado pela polícia. As últimas imagens registradas do jovem mostram ele conversando com um homem e entrando em uma caminhonete. 

Três pessoas foram presas suspeitas de envolvimento no desaparecimento. Na quinta-feira (5), um fazendeiro, de 35 anos, confessou ter matado o adolescente após uma discussão por causa de um celular. Ele disse à Polícia Civil (PC) que enterrou o corpo de Wanderson a 8 metros de profundidade. 

De acordo com a delegada Silvana Nunes, a vítima e o suspeito estavam em um galpão consumindo bebidas alcoólicas e drogas. “Segundo Hélio Junior, ele teria sentido a falta do celular dele e teria começado uma discussão com a vítima. Essa vítima teria jogado o celular dele no chão, que estava em seu bolso. Então, o autor se sentindo lesado, já efetuou um disparo nele no peito e, logo em seguida, pegou uma espingarda e deu mais dois tiros na vítima, que morreu ali mesmo no local”, explicou ela. A Polícia Técnico-Científica atua para identificar se o corpo encontrado é de Wanderson. A delegada aponta que a mãe do adolescente reconheceu as roupas como sendo do filho. 

Violação de direitos humanos 

De acordo com o Ministério Público de Goiás (MP-GO), o desaparecimento de pessoas é um grave fenômeno que atinge famílias do Brasil inteiro, tornando-se uma violação de direitos humanos que reclama ações resolutivas visando o conhecimento e busca de soluções.

No Estado, há o Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos (PLID), do MP, que tem como objetivo a localização e identificação de pessoas desaparecidas, vítimas de crimes ou não, por meio da coleta de informações, registro em banco de dados e promoção de ações integradas que fomentem a melhoria na busca e identificação de pessoas desaparecidas.

Coleta de DNA

Uma forma eficiente de buscar a localização de desaparecidos é a coleta de material genético de familiares para ser inserido em um banco de dados nacional. O Ministério da Justiça aponta que, no Brasil, o Banco Nacional de Perfis Genéticos tem cerca de 3 mil amostras de familiares e mais de 4 mil restos mortais não identificados. 

No mês de junho deste ano, a Campanha Nacional de Coleta de DNA de Familiares de Pessoas Desaparecidas fez uma mobilização que colheu material genético de mais de duas mil famílias de desaparecidos e possibilitou, até agora, que 18 famílias tivessem informação sobre seus parentes. Elas são do Espírito Santo (1), Goiás (4), Maranhão (1), Minas Gerais (1), Rio de Janeiro (1) e Rio Grande do Sul (7) e no Distrito Federal (3).

A ação ocorre durante todo o ano. Para fornecer os dados e o DNA, parentes de pessoas desaparecidas deverão procurar o local indicado por cada uma das secretarias de segurança pública, nas 27 unidades da federação. (Especial para O Hoje).