Carnaval foi marcado por chuvas irregulares e repressão policial

Apesar da falta de incentivo público para as festividades, cerca de 50 mil goianienses mostraram o potencial da Cidade para a festa

Postado em: 22-02-2023 às 07h30
Por: Everton Antunes
Imagem Ilustrando a Notícia: Carnaval foi marcado por chuvas irregulares e repressão policial
Apesar da falta de incentivo público para as festividades, cerca de 50 mil goianienses mostraram o potencial da Cidade para a festa. | Foto: Walter Sales

Durante cinco dias de festejo em Goiânia, os goianienses – cerca de 50 mil pessoas, segundo dados da Guarda Civil Metropolitana (GCM) – saíram a comemorar um dos principais feriados nacionais, o Carnaval. A festividade, contudo, levantou não somente o ânimo dos foliões, mas também questionamentos sobre a gestão do feriado pelo Poder Público. 

Ainda conforme a GCM, no âmbito municipal, foram registrados cinco acidentes sem vítimas e, aproximadamente, 20 prisões – que envolveram casos de tráfico de drogas, violência doméstica, furto e embriaguez ao volante. Por outro lado, os foliões denunciaram a conduta das forças de segurança durante uma ação que visou evitar a “perturbação do sossego”. 

Além disso, diversos goianienses manifestaram, por meio das redes, o descontentamento com as autoridades municipais durante a folia. Para Douglas Gaspar, “o poder público, em especial a Prefeitura de Goiânia, precisa ter o entendimento de que a demanda por Carnaval vem crescendo nos últimos anos”. 

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Planejamento

“A impressão que se dá é que Goiânia está indo na contramão de outras metrópoles brasileiras”, observa Douglas. Para ele, o apoio público é essencial para consolidar o município como um destino carnavalesco, assim como aconteceu em Belo Horizonte, Brasília e São Luís.  

“Temos, em Goiânia, duas experiências de Carnaval: a primeira acontece no fim de semana de pré-carnaval, com o já tradicional Carnaval dos Amigos – organizado por bares de setores nobres –, que conta com todo o aporte do poder público. Já os eventos que acontecem na semana de Carnaval, não possuem a mesma estrutura. Cabe refletir o motivo de haver um trato tão diferente por parte do poder público”, avalia.

O economista considera que o apoio do município não atende mais à crescente demanda pela festividade: “a sensação é que o poder municipal atua para asfixiar o Carnaval goianiense”. Ele também reforça o potencial econômico que o feriado implica para a rede de hotéis e restaurantes, bem como para o aumento da arrecadação  tributária. 

“Truculência”

Na noite da última segunda-feira (20), a Guarda Civil Metropolitana (GCM) dispersou uma concentração de quase duas mil pessoas nas imediações da Rua 106, no Setor Oeste. Ao fazer uso de gás lacrimogêneo e balas de borracha, a corporação alega que os foliões descumpriram “os acordos para o bom andamento do período carnavalesco, além da utilização de carros com som automotivo”.  

“Eram quase 23h, chegaram várias viaturas da GCM, quando as pessoas correram e começaram os barulhos de tiro”, relata Rafaela Corrêa. “Presenciei, também, uma pessoa com deficiência quando a bomba de efeito moral caiu bem na frente da cadeira de rodas”, afirma.  

A DJ Bárbara Novais conta que vinha de outro evento e tocaria em um bar próximo ao local da intervenção da GCM, mas precisou cancelar o show. A artista avalia que “deixaram aglomerar pessoas com carro de som para depois intervir de forma violenta”.

Em nota, a Guarda Civil informou que “denúncias de armas de fogo, drogas e armas brancas foram repassadas pelos próprios integrantes da aglomeração.” Por outro lado, Rafaela conta que, no local, havia crianças, idosos, pessoas com deficiência e famílias: “estavam lá só para se divertir, pular carnaval – a maior festa de cultura popular do Brasil”. 

Clima carnavalesco 

Durante as celebrações do feriado, alguns pontos da cidade foram acometidos por chuvas na capital. Segundo André Amorim, gerente do Centro de Informações Meteorológicas e Hidrológicas de Goiás (CIMEHGO), “houve chuvas irregulares tanto em Goiânia quanto em Goiás”.

Amorim atribui o fenômeno meteorológico La Niña a esse cenário – que é responsável pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico e provoca a queda das temperaturas e aumento do volume de chuvas. O Gerente do CIMEHGO conclui que o feriado ficou marcado pela alternância brusca entre os períodos quentes e as chuvas. 

Ele aponta que na região leste da capital, precipitaram entre 30 e 40 milímetros de chuva, enquanto que nas regiões norte e noroeste do município, foi estimado o volume de até 50 milímetros, porém “de maneira muito irregular”. André pondera que o feriado de Carnaval prosseguiu com chuvas irregulares e espalhadas por toda a cidade.  

Bloquinhos

Marcos Silvério, presidente do Bloco do Esquenta LGBTQIA+ – que é atuante em Goiânia há sete anos – conta que o evento recebeu quase 20 mil pessoas. Ele explica que o projeto usa a cultura como ferramenta de diálogo com a juventude: “trabalhamos diversos temas transversais como machismo, racismo, homofobia, transfobia, violência doméstica, as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs)”. 

Ao ser questionado sobre a demanda do goianiense pela celebração do Carnaval, Marcos orienta que “o poder público ainda não está preparado para eventos que reúnem multidões nas ruas”. Segundo o presidente do bloco, Goiânia enfrenta uma adaptação das autoridades municipais para essa nova realidade. 

Marcos também reforça: “nós, organizadores dos blocos, temos corrido atrás, provocado o poder público, feito muitas reuniões”. Para ele, as autoridades devem enxergar o feriado como oportunidade de investimento: “o Carnaval não é apenas uma festa, é cultura, gera emprego, renda, oportunidade de negócio”.

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