“Transformar o trabalho bonito que fazíamos em crime é ridículo”, diz denunciado por maus-tratos em clínica de reabilitação de Anápolis

Sede do Centro Terapêutico Luminnus, em Anápolis, focado na reabilitação de pessoas com dependência química

Postado em: 03-03-2023 às 09h09
Por: Ícaro Gonçalves
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Sede do Centro Terapêutico Luminnus, em Anápolis, focado na reabilitação de pessoas com dependência química | Foto: Divulgação/MPGO

Ministério Público de Goiás (MPGO) denunciou nesta semana quatro pessoas por sequestro, cárcere privado e maus-tratos de internos em clínica de reabilitação em Anápolis. Os denunciados faziam parte do Centro Terapêutico Luminnus, focado na reabilitação de pessoas com dependência química.

Conforme relata na denúncia a promotora de Justiça Yashmin Crispim Baiocchi de Paula e Toledo, a comunidade teria vitimado vários pessoas, incluindo duas que ficaram privadas de liberdade por mais de 15 dias, em meados de julho de 2021. O caso foi alvo de inquérito policial com a constatação das irregularidades.

De acordo com a denúncia, os gestores do estabelecimento também colocaram em perigo um menor de 18 anos e outros três internos da comunidade.

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Funcionamento da clínica foi analisado para a denúncia

Durante a investigação, a promotora de Justiça apurou que o Centro Terapêutico Luminnus tem como representante Fernando Fernandes. Segundo ela, o estabelecimento não possui alvará de localização e funcionamento.

Os outros três denunciados, ainda que não constem na documentação da comunidade, eram responsáveis por sua gestão. Dois ordenavam a busca dos internos de forma compulsória, enquanto um outro figurava como coordenador do Centro Terapêutico, compartilhando uma função de chefia no estabelecimento.

Segundo o Ministério Público, o local onde as vítimas eram mantidas apresentava as seguintes irregularidades:
– prescrição e guarda de medicamentos de uso controlado sem receituário médico e com preenchimento incompleto;
– descarte de injetáveis em lixo comum;
– realização inadequada da identificação dos internos;
– falta de manutenção de medicamentos em armários identificados e devidamente trancados.

Ainda, conforme relatado nos autos, os denunciados atendiam no estabelecimento, além de dependentes químicos, idosos e pessoas com transtornos mentais, o que é proibido em lei. O local foi tido como insalubre e inadequado à internação de pessoas.

Leia também: Clínica de reabilitação de dependentes químicos é interditada por cárcere privado, em Anápolis

Posicionamento

A reportagem entrou em contato com Fernando Fernandes, citado na denúncia como representante da comunidade. Segundo Fernandes, ele já não é mais dono do estabelecimento desde janeiro de 2021, quando vendeu o local para um dos denunciados.

Ao O Hoje, Fernando negou os maus-tratos relatados na denúncia. “Minha clínica era perfeita. Servíamos alimentação de qualidade, tínhamos profissionais que tratavam os internos muito bem. Fazíamos eventos, gincanas, churrascos, então fazíamos uma trabalho de qualidade. Tinha um ou outro interno que não tinha vontade de ficar, aí ficava revoltado, falava qualquer coisa e o promotor acredita”, disse o representante.

Sobre a irregularidade, Fernando admite que não havia documentação e que decidiu fechar o local pela impossibilidade de se adaptar às exigências legais. “Eu me reuni com os meninos [funcionários] e falei, ‘vou fechar a clínica’, porque do jeito que eles estão pedindo a gente não consegue adaptar”, relatou.

“Foi quando eu fiz o acordo para vende-la, mas falei [para o novo dono] que tem que regularizar. O problema é que quando a Polícia e o Ministério Público chegaram, já foi para fechar. Não houve notificação, nem orientação. Agora, transformar um trabalho bonito que fazíamos em crime é ridículo”, desabafa.

A reportagem não conseguiu contato com os demais denunciados.

Sede do Centro Terapêutico Luminnus, em Anápolis | Foto: Divulgação
Sede do Centro Terapêutico Luminnus, em Anápolis | Foto: Divulgação

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