Em quatro meses, desmatamento no Cerrado derrubou área equivalente a duas cidades do Rio de Janeiro

Os estados da Bahia, Tocantins, Maranhão e Piauí responderam por volta de 69% do desmatamento do Cerrado entre janeiro e abril de 2023

Postado em: 15-05-2023 às 11h28
Por: Ícaro Gonçalves
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Os estados da Bahia, Tocantins, Maranhão e Piauí responderam por volta de 69% do desmatamento do Cerrado entre janeiro e abril de 2023 | Foto: Juan Doblas/IPAM

O desmatamento do Cerrado avançou em 2023 e ultrapassou 257 mil hectares de janeiro a abril, área equivalente a duas cidades do Rio de Janeiro. Os dados são do SAD Cerrado (Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado), ligado ao Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), e foram divulgados nesta sexta-feira (12/5).

Os estados da Bahia, Tocantins, Maranhão e Piauí responderam por volta de 69% do desmatamento do Cerrado nesse período, com cerca de 177,8 mil hectares derrubados.

Somente no mês de abril foram 69 mil hectares de mata nativa derrubados. Esse número representa um aumento de 36% em relação a abril do ano passado, quando foram registrados quase 51 mil hectares desmatados.

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Pesquisadoras do SAD alertam para a influência do período de chuvas nas imagens de satélite e que os desmatamentos confirmados em abril podem ter ocorrido em outros meses de 2023, em áreas cobertas por nuvens nos meses anteriores. Regiões do sul do Maranhão, como o municípios de Balsas, e do Tocantins são especialmente afetadas pelo fenômeno.

“A alta cobertura de nuvens nas imagens de satélite por sensores ópticos durante a época de chuva é um grande desafio para o monitoramento do desmatamento nesta época. Os alertas detectados neste último mês não necessariamente ocorreram no mês de abril, mas podem ter ocorrido em qualquer momento desde o início da época chuvosa”, aponta a pesquisadora do IPAM, Fernanda Ribeiro.

A pesquisadora também destaca que a chegada da estação seca traz também uma menor cobertura de nuvens, além de um clima mais propício para o desmate de novas áreas. Juntos, esses fatores podem contribuir para números ainda maiores para o desmatamento do Cerrado, que costuma atingir seu ponto mais crítico nos meses de junho, julho e agosto.

“Durante o mês de abril, que é o começo da transição para a época de seca, já foi possível detectar novas áreas desmatadas que antes estavam possivelmente cobertas por nuvens. É esperado que esse número de alertas aumente durante a época de seca, principalmente entre junho e agosto, devido às condições climáticas favoráveis nas imagens de satélite e também ao calendário agrícola, que tem mais atividade nessa época do ano.”

Imagem: Divulgação/IPAM

Sobre o SAD Cerrado

O Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado é um sistema de monitoramento mensal e automático utilizando imagens de satélites ópticos do sensor Sentinel-2, da Agência Espacial Europeia. O SAD Cerrado fornece alertas de supressão de vegetação nativa para todo o bioma, trazendo informações sobre desmatamento no Cerrado desde agosto de 2020.

A confirmação de um alerta de desmatamento é feita a partir da identificação de ao menos dois registros da mesma área em datas diferentes, com intervalo mínimo de dois meses entre as imagens de satélite. A metodologia é detalhada no site do SAD Cerrado.

O objetivo do sistema é fornecer alertas de desmatamentos maiores de 1 hectare, atualizados mês a mês. Pesquisadores entendem que o SAD Cerrado pode se constituir como uma ferramenta complementar a outros sistemas de alerta de desmatamento no bioma, como o DETER Cerrado, do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), otimizando o processo de detecção em contextos visualmente complexos.

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