Da depressão aos exercícios físicos: “Abandonei os remédios”

Mulher que era dependente de remédios para dormir parou de usar os medicamentos após começar a treinar na academia

Postado em: 11-11-2023 às 07h30
Por: Ronilma Pinheiro
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Carmen Maria de Paula, 49 anos, teve a vida transformada pelos exercícios físicos | Foto: Arquivo Pessoal

O ano de 2020 foi o mais difícil da vida de Carmen Maria de Paula, 49 anos, como foi para todos que tiveram que lidar com a pandemia. O período deixou marcas profundas na vida da vendedora, que desenvolveu sérios problemas psicológicos no período em que ficou confinada com o marido.

Carmem conta que levava uma vida tranquila até o marido, Ataliba Rodrigues da silva, contrair o vírus da Covid e precisar ficar internado cerca de 21 dias, com 75% do pulmão comprometido. “Meu emocional ficou muito abalado”, conta ela, que também foi infectada pelo vírus.

A partir desse momento, tudo mudou para a mulher. Ela desenvolveu depressão e passou a ter crises de ansiedade com frequência. Foi quando resolveu procurar ajuda médica e passou a tomar remédios para poder dormir. Porém, depois de um tempo, nem os remédios eram capazes de fazê-la pegar no sono. “Eu passei uma semana sem dormir. De 65 quilos, passei a pesar 49”, conta.

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A história da vendedora ganha um novo rumo, quando a médica psiquiátrica que acompanhava o seu caso, a orientou a fazer exercícios físicos para diminuir o estresse e a ansiedade. A mulher seguiu a orientação e atualmente faz dois anos que pratica exercícios diariamente. A prática mudou a vida da vendedora, que, depois de um tempo, não precisou mais usar os medicamentos. “Hoje graças a Deus eu não tenho nenhuma medicação para dormir”.

O Professor de Fisiologia do Exercício da Universidade Federal de Goiás (UFG), Cláudio André Barbosa de Lira, que realiza pesquisas sobre exercícios físicos e saúde mental, diz que é importante destacar que não há uma “briga” entre a atividade física e o tratamento farmacológico. No entanto, ressalta que existem pesquisas que comprovam que a atividade física, quando feita regularmente, evoca um efeito antidepressivo similar ao tratamento farmacológico. “Em alguns casos é possível que o médico psiquiatra diminua a dosagem do medicamento, bem como suspendê-lo”.

André Barbosa de Lira é Professor de Fisiologia do Exercício da Universidade Federal de Goiás (UFG) e realiza pesquisas sobre exercícios físicos e saúde mental | Foto: Arquivo Pessoal

Segundo o professor, é função do especialista em psiquiatria, aconselhar o paciente a adotar as atividades físicas para um melhor resultado nos tratamentos. Cláudio afirma que a prescrição do exercício físico é um atributo previsto na lei do profissional de educação física, ou seja, aquele profissional que fez uma graduação em educação física e possui a habilitação legal para a prescrição dos exercícios. No entanto, “isso não impede, evidentemente, que outros profissionais da saúde aconselhem os seus pacientes a manterem o estilo de vida regular”.

“O exercício físico regular traz felicidade”, é o que afirma Cláudio André, ao dizer que a prática proporciona ajustes no sistema nervoso central que estão relacionados com a neurotransmissão de substâncias que têm a função de regular o humor, como a dopamina ou a serotonina, por exemplo. Segundo ele, a sensação de prazer que é advinda logo após uma sessão de atividade física regular, é atribuída a uma substância conhecida como endorfina.

Segundo o especialista, existem regiões específicas do sistema nervoso central que são responsáveis por aspectos relacionados à cognição, ou seja, memória e aprendizado, que também estão relacionados com as emoções. “É um conjunto de estruturas que a gente conhece como sistema límbico e o exercício físico consegue de fato atuar positivamente nessas regiões”, afirma.

Vítor Alves Marques, mestre e doutor em Ciências da Saúde, com formação em educação física, acrescenta que o exercício é fundamental para o tratamento de depressão. “ A atividade física estimula a produção de dopamina e a produção de BNDF, pelo sistema nervoso. O aumento desse neurotransmissor diminui os níveis de depressão”, afirma.

De acordo com Vítor, todos os exercícios são eficazes nos benefícios à saúde mental, desde que tenha esforço, ou seja, que sejam feitos com alta intensidade. “Além disso, atividades coletivas trazem enormes benefícios para essa população”, pontua.

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A Organização Mundial de Saúde e a American College of Sports Medicine orientam que a pessoa deve fazer no mínimo 150 minutos de exercícios de intensidade moderada, semanalmente. Carlos acrescenta que caso não seja possível seguir essas orientações, é preciso fazer 75 minutos de exercício no mínimo três vezes por semana, mas o exercício tem que ter uma intensidade maior. “Tem que ter uma intensidade vigorosa”.

Cláudio acrescenta que a grande maioria das pesquisas que investigam exercício e depressão, apontam os exercícios aeróbios, como caminhada e corrida, como os mais eficazes. Ele destaca ainda que, isso não significa dizer que não existam evidências científicas mostrando o efeito positivo de outras modalidades, e que não há um tipo ideal de exercício.

Uma pesquisa voltada para  os benefícios das atividades físicas da UFG, mostra que existem alguns tipos de exercícios e modalidades esportivas que dão mais prazer do que outros, segundo o professor. De acordo com a pesquisa, os  Exergames – videogames que exigem um esforço físico maior quando comparados com os videogames tradicionais e que possibilitam ao jogador ter a experiência motora e esforço físico similar a um esporte ou atividade física –  são considerados mais divertidos do que atividades físicas tradicionais.

Cláudio André destaca ainda o Nintendo Wii, o Xbox 360 com Kinect, da Microsoft, também são exemplos de aparelhos que permitem à pessoa fazer exercício físico enquanto joga e trazem mais felicidade do que as atividades convencionais.

Para a psicóloga Virgínia Suassuna, existe uma conexão entre mente e corpo, dessa forma é possível que haja distúrbios psicossomáticos na medida em que a pessoa fantasia algo na mente, como uma dor, por exemplo, e passa a sentir essa dor no corpo. “É comum as pessoas sentirem por exemplo, ataque cardíaco, mas quando vão ao médico, os exames não mostram nenhuma anomalia, já que se trata de um distúrbio emocial”, exemplifica.

A especialista afirma que os tratamentos dos problemas mentais, quando associados à prática de atividade física, têm maiores resultados. “Na minha prática clínica eu oriento que os pacientes façam uma avaliação orgânica para que eles possam se submeter a uma prática para diminuição do estresse e ansiedade”, afirma.

“Lembro de uma paciente que estava prestando vestibular, precisou cancelar uma atividade física para ter mais tempo para estudar, mas o efeito foi catastrófico, ela passou a ter crises de ansiedade e até crise de pânico. Quando ela voltou com a atividade, que no caso era o balé, desenvolveu o mesmo rendimento que tinha antes”, finaliza.

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