Quase 9 milhões de abelhas morreram por suspeita de agrotóxicos

Delegado titular da DEMA acredita que a mortalidade dessas abelhas terá impactos na produção da agricultura e na economia

Postado em: 18-01-2024 às 12h00
Por: Alexandre Paes
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Além dos municípios de Bela Vista de Goiás e Silvânia, outras cidades relataram os mesmos casos | Foto: Polícia Civil

A Delegacia Especializada do Meio Ambiente (Dema) e a Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa) deflagrou na última terça-feira, 16, a Operação Proteção das Abelhas em Bela Vista de Goiás e Silvânia. Ao menos três casos de mortandade desses importantes polinizadores foram enviados para o Poder Judiciário, e a principal suspeita da morte de quase 9 milhões de abelhas é após o envenenamento devido a pulverização de agrotóxicos em lavouras.

A investigação, coordenada pelo titular da Dema, Luziano Carvalho, identificou mortes em dois locais em Bela Vista de Goiás, com total de 26 e 31 colmeias, respectivamente; e um caso em Silvânia, que soma 32 colônias. Segundo ele, cada lote tem média de 3 milhões de abelhas. O policial disse que três agricultores foram indiciados. 

“São apicultores registrados e abelhas que estão mapeadas. O piro é quando pensamos no total de abelhas que não estão mapeadas. Isso não se tem registro”, ressalta, lembrando também que houve registros de mortes desses insetos também em Orizona. “Lá, a mortandade foi de 5 milhões de abelhas. Para nós da DEMA esse é um dos maiores crimes ambientais do estado de Goiás. Sem as polinizações não temos a sobrevivência da fauna e da flora”, destacou.

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Além do papel importante para a polinização de culturas, ou seja, para a agricultura, a maior parte dessas abelhas são de manejos da apicultura, para a produção de mel e comercialização. “A mortandade dessas abelhas vai ter reflexo diretamente na produção da própria agricultura e na economia”, destaca o delegado Luziano Carvalho.

Para a bióloga Júlia Wilson Roriz, essa é ma perda significativa, que vem acontecendo com mais frequência. Para a natureza essas abelhas exercem uma função muito importante que é da polinização, um benefício tanto para as culturas comercializadas quanto para as plantas nativas, no nosso caso, do Cerrado, para poder conseguir uma reprodução de frutos”, pontua.

Em alguns casos, como o milho, trigo e arroz, o pólen é transportado pelo vento. Outros agentes polinizadores são a água (em certas plantas aquáticas) e a gravidade. “Cerca de 80% de todas as plantas com flores, alguns animais são os responsáveis pela polinização. Na grande maioria dos casos, entre os animais polinizadores, nenhum é mais eficiente do que a abelha”, destacou.

Graças ao trabalho de coleta de pólen e néctar, voando de flor em flor, as abelhas polinizam as flores e promovem a sua reprodução cruzada. Além de permitir a reprodução das plantas, esse trabalho também resulta na produção de frutos de melhor qualidade e maior número de sementes. Todo esse processo resulta na base de toda uma cadeia alimentar.

O principal dos agrotóxicos que vitimam as abelhas, mencionado pelo delegado Luziano Carvalho, é o Fipronil. Em novembro do ano passado, o presidente da comissão técnico-científica da Confederação Nacional de Apicultores, Ricardo Orsi, tratou em audiência pública sobre o uso deste pesticida. De acordo com ele, em dose normal o produto mata as abelhas imediatamente. Orsi contou que nos casos em que há diluição, o Fipronil mina as colônias.

“Fizemos várias diluições para chegar àquilo que queríamos (0,4 nanograma por abelha). Realmente, não matou nenhuma abelha imediatamente. Mas, em oito semanas, não tinha mais uma colônia dentro da colmeia: em quatro semanas, já não havia mais postura da rainha; em seis semanas em área de cria fechada, pré-pupa e pupa reduziram significativamente; e, em oito semanas, perdemos todas”, alertou.

Luziano Carvalho explica que a comercialização e uso do Fipronil não são proibidos no País, mas apenas a distância da aplicação dele em regiões de apiculturas. “A proibição é para a utilização em uma determinada distância. Em Goiás, a média é de 5 quilômetros, da apicultura até a lavoura. Então, eu sempre falo: é o uso inadequado”.

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