Goiás tem alerta para 46 casos de hanseníase apenas em 2024

A hanseníase é uma doença infectocontagiosa, transmitida por uma micobactéria ‘parente’ da tuberculose, chamada de Mycobacterium Leprae

Postado em: 21-02-2024 às 09h00
Por: Ronilma Pinheiro
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Nos casos mais agressivos da doença pode haver deformidade de face, face leonina, perda dos membros periféricos e acometimento nervoso que pode levar a amputação de membros como mãos, pés, dedos e perda da região nasal | Foto: Divulgação

Somente nos dois primeiros meses de 2024 já foram registrados 46 casos de Hanseníase em Goiás, de acordo com dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES). Os números mostram ainda que em 2023, houve 793 confirmações da doença. Em 2022 o total de casos foi de 927.

A hanseníase é uma doença infectocontagiosa crônica, transmitida por uma micobactéria ‘parente’ da tuberculose, chamada de Mycobacterium Leprae. Antigamente era conhecida por Lepra, mas teve o nome modificado em razão do estigma social que possui, uma vez que dentro das culturas judaico-cristãs, a infecção foi vista muitas vezes como uma penitência divina para os seus portadores. A explicação é do médico geriatra do Hospital Estadual de Dermatologia Sanitária Colônia Santa Marta (HDS), Cristhiano Augusto de Oliveira.

O diagnóstico da hanseníase é essencialmente clínico, onde o paciente, ao procurar um médico de assistência básica de saúde ou dermatologista, passa por algumas observações. “É verificado se existem manchas na pele, que são manchas normalmente esbranquiçadas ou até avermelhadas, e se há perda de sensibilidade”, explica o especialista.

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Esse tipo de diagnóstico é também chamado de diagnóstico ‘neuro dermatológico’, segundo o médico. Nesse processo, verifica-se as manchas, a formação de nódulos e a força dos locais acometidos. Nos              casos onde não é possível identificar a doença a partir desse tipo de abordagem pode ser feita ainda a baciloscopia, onde há coleta da linfa, que é um transudato do sangue da região da lesão.

Além disso, é possível descobrir a doença por meio de uma biópsia de pele e até pelo exame de PCR – tecnologia que consiste na amplificação de uma região específica de DNA, por meio da qual é possível produzir uma quantidade enorme de cópias de pequenas porções do DNA que se deseja estudar.

Como mencionado acima, a causa de todo o quadro de hanseníase é a infecção pela Mycobacterium Leprae. Esse tipo de infecção se dá por vias respiratórias, diferente do que muitos pensam, não é transmitida pelo contato físico. “Antigamente os pacientes eram reclusos e socialmente afastados, mas ela não se dá pelo contato físico, ela se dá sim pelas vias respiratórias”, reitera.

Oliveira compara a transmissão da doença com a Covid-19, porém com uma diferença, pois enquanto no caso do coronavírus onde basta a pessoa tossir  para o lado, a hanseníase precisa de um tempo prolongado de exposição. Assim, no geral, as pessoas que contraem essa doença são familiares que permanecem nos mesmos espaços durante meses e anos.

Tratamento

O tratamento é realizado através da poliquimioterapia – um conjunto de antibióticos usados no tratamento da hanseníase. Esses remédios são oferecidos de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e podem ser encontrados em postos básicos de saúde. A retirada é feita pelo paciente de forma mensal.

O geriatra salienta que é preciso que o paciente fique atento quanto ao período do tratamento que é prolongado, diferente de outras enfermidades como a pneumonia que é tratada em cinco ou dez dias. “Esse tipo de tratamento pode durar meses e o que vai definir o tempo do procedimento é a apresentação da hanseníase”, afirma o médico.

Essa doença se apresenta basicamente em duas formas, a forma paucibacilar – com poucos bacilos – caracterizada por poucos sintomas, em muitos casos nem aparecem as manchas podendo aparecer apenas pequenas manchas esbranquiçadas e ocorrer a perda da sensibilidade. Além disso, essa forma é caracterizada por uma baixa carga de bactéria, podendo o tratamento se dar por seis meses apenas.

No caso da multibacilar – com muitos bacilos – a carga bacteriana é mais ‘pesada’ e exige um tratamento prolongado com antibióticos que pode chegar até 1 ano com esses mesmos antibióticos, haja vista que é um tipo mais agressivo. “Ela causa lesões nos neurônios de forma mais agressiva e pode também acometer os órgãos, os tecidos do paciente, levando a deformidades e outras alterações”, destaca o especialista.

Como a doença pode se apresentar de diferentes formas, os sintomas também variam de acordo com cada uma delas. No entanto, de modo geral, os primeiros sinais da hanseníase são as manifestações térmicas da pele, como as manchas brancas e avermelhadas, a formação de nódulos, das alterações do trato nervoso, perda de sensibilidade, espessamento dos neurônios, até as formas virchowianas da multibacilar, que são mais graves, de acordo com o geriatra.

Nesses casos mais agressivos, há o acometimento dos órgãos que causam deformidade de face, face leonina, perda dos membros periféricos, acometimento nervoso que pode levar a amputação de membros como mãos, pés, dedos e perda da região nasal.

Assim, o diagnóstico precoce é um importante meio para evitar maiores complicações pela doença, é o que alerta o médico. “O diagnóstico precoce pode contribuir para um tratamento mais brando”, salienta, ao afirmar que assim, o acometimento local na pele não tem a disseminação entre os vários órgãos. De acordo com o especialista, à medida que os tratamentos são postergados a carga bacteriana se torna maior, a bactéria se espalha por diversos tecidos e órgãos, até chegar em situações mais graves como é o caso das deformidades.

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