Joelma, aquela mulher

Estreia em Goiânia a peça premiada que conta a história real de uma das primeiras transexuais do Brasil

Postado em: 14-04-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Estreia em Goiânia a peça premiada que conta a história real de uma das primeiras transexuais do Brasil

Júnior Bueno

Ipiaú é uma cidadezinha no sul da Bahia, que vive da exploração cacaueira. De lá saiu o catador de carvão Joel Patrício, aos 15 anos, com destino a São Paulo. Mostrou ao mundo a mulher que trazia dentro de si, casou-se, cantou, dançou e matou. Passou por cabarés e tribunais, teatros e delegacias. Fundou uma igreja. Fez história e tornou-se Joelma, a mulher que sempre foi. 

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Essa história vem sendo contada pelo Brasil, desde 2011, quando o diretor Edson Bastos lançou um curta-metragem contando a saga de uma das primeiras transexuais do Brasil. O filme se desdobrou para os palcos e o espetáculo Joelma estréia amanhã em Goiânia. “É uma personagem real, que tem uma história rica, pois além da questão da sexualidade, tem um lado de religiosidade muito forte,” diz o ator Fábio Vidal, que estrela o monólogo e também é co­autor e diretor do espetáculo.

Produzida também para circular por espaços alternativos, haverá performance pública hoje, às 17h, na Avenida Tocantins, atrás do Teatro Goiânia. A intervenção Joelma Circula conduz a personagem a um passeio de bicicleta, convidando o público para assistir o espetáculo. O projeto também prevê a realização de workshop de teatro e produção audiovisual, além de bate-papo com o público. 

A peça é fruto do premiado curta-metragem homônimo, que serviu de inspiração para o espetáculo dirigido pelo autor e diretor Edson Bastos, com quem Fabio divide a direção e a adaptação para o teatro. “Eu tive contato com o Edson, através do Camilo Fróes, preparador de elenco do curta. E depois que o filme ficou pronto eu pensei em como seria montar Joelma no teatro,” diz Fábio.

Segundo ele, na peça há a projeção de cenas do cur­ta, de modo que ele “contracena” com os atores do filme. “É outra criação que traz o cinema para o palco, uma criação de dramaturgia, que tem no trabalho do Edson toda a base. O roteiro do curta é similar ao da peça,” explica ele. No palco, é encenada a história de uma mulher que viveu e lutou contra o preconceito, em busca de viver com dignidade.

Na história de Joelma, identidade, sexo e espiritualidade são elementos que se misturam. Catadora de carvão durante a infância partiu para São Paulo para escapar do preconceito do pai. Na cidade grande, passou a viver com um mendigo, que a convenceu a enfrentar uma cirurgia de redesignação sexual. Voltou a Ipiaú três décadas depois, casada e assumindo sua con­dição de mulher. 

Para além dos aspectos sobre sexualidade e gênero, a narrativa também apresenta a trajetória religiosa da personagem, que hoje, aos 71 anos vive numa casa, que é um misto de centro espiritualista e igreja. Mística e emblemática, afirma ter sido visitada por almas durante a infância, tendo fundado a Igreja das 13 Almas, da qual é, ao mesmo tempo, membro e sacerdotisa. 

Outro elemento marcante do espetáculo é o assassinato que estabelece a trama policial na história. Sua trajetória ainda foi marcada por um crime que cometeu em legítima defesa, quando foi vítima de violência transfóbica em sua casa e acabou inocentada, por entenderem que ela agiu em legítima defesa. 

Fábio conta que a peça dialoga com a sociedade quanto à questão urgente do respeito à diversidade. “A gente tem tido cada vez mais convites, porque a peça gera uma aproximação do público com essa pessoa que é a Joelma. Um dos traços dela é que ela nasceu em um corpo masculino, mas isso é apenas um detalhe. A personagem tem uma ligação muito forte com o misticismo, um universo envolto em religiosidade. E tem esse lado da mulher que é trans, que se afirmou, nunca se escondeu.” Ele diz que há uma resposta do público que se encanta em descobrir que existe essa poética das pessoas que estão na periferia. 

Além da peça, Joelma se abre em outras possibilidades. No sábado haverá dois workshops gratuitos. Às 9h o público aprenderá sobre Teatro Físico e às 14h, haverá uma aula de Técnicas de Produção Audiovisual. São 25 vagas para cada workshop e as inscrições são realizadas 30 minutos antes de cada atividade. O local dos workshops é o mesmo da peça, o Espaço Sonhus, dentro do Colégio Lyceu de Goiânia. 

Hoje à tarde, haverá uma intervenção de Fá­bio/Joelma pelas ruas do Centro, a partir do espaço atrás do Teatro Goiânia, às 17h. E além das duas apresentações do espetáculo, haverá uma sessão gratuita para escolas da rede pública. As ações alcançam também pessoas com necessidades especiais, pois foram incluídos nas apresentações tradução em libras e legendas para um acesso mais democrático e uma fruição maior de todos ao espetáculo Joelma.

Serviço

Peça ‘Joelma’

Data: 15 a 17 de Abril

Horário: 20h 

Local: Espaço Sonhus 

(Rua 21, esquina com Rua 18, Centro)

Performance ‘Joelma Circula’

Data: Hoje, 14 de Abril

Horário: 17h

Local: Avenida Tocantins, atrás do Teatro Goiânia

Workshops

Data: 16 de Abril

Horários: Teatro Físico às 9h e 

Técnicas de Produção Audiovisual às 14h 

Local: Espaço Sonhus 

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