Quando eles soltarem suas vozes

Quatro grandes nomes da MPB vêm a Goiânia em show homenageando Gonzaguinha

Postado em: 08-07-2016 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Quatro grandes nomes da MPB vêm a Goiânia em show homenageando Gonzaguinha

JÚNIOR BUENO

‘Quando eu soltar a minha voz, por favor, entenda. É apenas o meu jeito de viver o que é amar”. Os versos de Sangrando, de Gonzaguinha, poderiam muito bem ser o lema de vida de cada um dos quatro artistas que subirão ao palco do Teatro Rio Vermelho amanhã (9) à noite. Zélia Duncan, Zeca Baleiro, Lenine e Maria Gadu são cantores e compositores que têm importante papel na história da música brasileira, nos últimos 30 anos, e possuem carreiras próximas à de Gonzaguinha, morto em 1991 e homenageado neste ano no Prêmio da Música Brasileira.

Zélia Duncan começou a cantar profissionalmente, no início dos anos 80, e sua estreia como solista foi, em 1987,  quando ainda adotava o nome artístico Zélia Cristina. Em 1990, lançou o LP Outra Luz, mas, insatisfeita, passou um semestre nos Emirados Árabes, cantando em um hotel. Voltou em 1992 e gravou uma faixa no songbook de Dorival Caymmi produzido pela editora Lumiar. Mudou o nome para Duncan (nome de solteira da mãe) e passou a ser incluída numa nova safra de cantoras que surgiu na década de 1990 ao lado de Adriana Calcanhoto, Cássia Eller e Marisa Monte. Seu repertório passeia pelos mais variados estilos, tanto que, neste ano, foi campeã desta edição do Prêmio da Música com três vitórias na categoria Samba (Canção, Álbum,  Cantora de Samba).  

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Lenine nasceu Oswaldo Lenine Macedo Pimentel. Cantautor, produtor musical e arranjador, é um recifense-carioca, brasileiro do mundo, e traz em suas composições influências de manifestações culturais de seu País e de inúmeros gêneros musicais, desconsiderando rótulos ou classificações. Com mais de 30 anos de carreira, dez discos lançados, dois projetos especiais e inúmeras participações em álbuns de outros artistas, Lenine já teve suas canções gravadas por nomes como Elba Ramalho, Maria Bethânia, Milton Nascimento, Ney Matogrosso e O Rappa. 

José Ribamar Coelho Santos, mais conhecido como Zeca Baleiro, é cantor, compositor e cronista. Nascido no Maranhão, transferiu-se para São Paulo onde lançou sua carreira. Zeca canta, toca violão e já teve suas composições interpretadas por Simone, Gal Costa, Elba Ramalho, Rita Beneditto – dentre outros cantores. Em 2011, lançou um livro de crônicas intitulado Bala na Agulha.

Caçula do quarteto, Maria Gadu é um fruto da geração de músicos surgidos no fim dos anos 2000, e chama a atenção com sua voz peculiar e suas letras, maduras, para uma compositora tão jovem. Paulista de nascimento, foi introduzida à prática musical ainda na infância. Fez poucos meses de aulas de violão, longe do suficiente para ler partituras, mas o necessário para criar suas próprias canções. Aos os 13 anos, fazia shows em bares e festas de família. Mudou-se para o Rio de Janeiro, em 2008, quando começou a tocar em bares. Lançou seu primeiro álbum aos 22 anos, e seu talento foi reconhecido em todo o Brasil.

Premio e turnê

Após realizar sua 27ª edição no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, o Prêmio da Música Brasileira terá, pelo sexto ano consecutivo, uma versão itinerante. Amanhã, Zélia Duncan, Zeca Baleiro, Lenine e Maria Gadú apresentam repertório de Gonzaguinha – o homenageado deste ano – em turnê que passa pela cidade de Goiânia, além de Porto Alegre, Brasília, Salvador e Rio de Janeiro. Tanto a turnê quanto o Prêmio são patrocinados pelo Banco do Brasil.

Desde o ano de sua criação, quando homenageou Vinicius de Moraes, o Prêmio homenageia um artista brasileiro, que serve como fonte para o roteiro e o repertório do show da cerimônia de entrega. Já estão na galeria de artistas enaltecidos Dorival Caymmi, Maysa, Elizeth Cardoso, Luiz Gonzaga, Ângela Maria & Cauby Peixoto, Gilberto Gil, Elis Regina, Milton Nascimento, Rita Lee, Jackson do Pandeiro, Gal Costa, Ary Barroso, Lulu Santos, Baden Powell, Jair Rodrigues, Zé Keti, Dominguinhos, Clara Nunes, Dona Ivone Lara, Noel Rosa, João Bosco, Tom Jobim e Maria Bethânia.

O idealizador do Prêmio da Música Brasileira, José Maurício Machline, convidou artistas que tivessem uma relação afetiva com a obra e cantassem com propriedade as canções do compositor.  “Você tem que pensar em cada artista e na música que pode mais combinar com o estilo de cada um, mas, no final das contas, felizmente as minhas propostas foram aceitas de primeira por todos”, conta José Maurício, que assina a direção geral da turnê.

Zélia Duncan terá Explode Coração e Recado no repertório. Lenine e Zeca Baleiro, que gravaram músicas em Presente, álbum de duetos póstumos com Gonzaguinha, cantarão Comportamento Geral e Lindo Lago do Amor, e Sangrando e Infinito Desejo, respectivamente. Já Maria Gadú empresta sua voz a outros sucessos do artista, como Diga lá, Meu Coração e Redescobrir. 

O Essência bateu um papo com Lenine e Zélia Duncan sobre a obra de Gonzaguinha. Confira abaixo.

SERVIÇO

Show da turnê do 27º Prêmio da Música Brasileira

Quando: 9 de julh (sábado)

Onde: Teatro Rio Vermelho (Rua 4, nº 1.400 – Centro) / Horário: 20h

Ingressos: R$ 150 (plateia inferior) e R$ 120 (plateia superior)

 Entrevista Lenine

Qual a sua relação com a obra de Gonzaguinha?

Gonzaguinha foi uma de minhas maiores influências, aliás, de toda a minha geração. Nos impregnou de curiosidade com seu trabalho autoral, de cantar o que se compõe. Ele, junto com João Bosco, Aldir Blanc, Ivan Lins, Taiguara e Djavan, com suas respectivas assinaturas, me definiram.

Qual música dele te faz pensar “puxa, eu queria ter composto essa!”?

Seria uma temeridade escolher só uma, até porque Gonzaguinha foi um criador que eu acompanhei durante um bom tempo, a cada lançamento, a cada projeto novo. E foram vários os discos dele que me marcaram.

Em sua opinião, como o compositor veria o atual cenário político e social do Brasil? 

Certamente ele não fugiria da luta.

Se você pudesse escolher um único verso de uma música de Gonzaguinha, qual seria? 

Ah, o repertório do Gonzaguinha é repleto de sucessos. Fiquei muito feliz com as escolhas que vou cantar no Prêmio da Música, e não foram minhas: Galope, Festa, Sangrando…

Quando você solta sua voz, o que você gostaria que o público entendesse?

Que música vai muito além do entretenimento. É educação.

E o que definitivamente não dá mais para segurar?

A impunidade e a corrupção.

   Entrevista Zélia Duncan 

Qual a sua relação com a obra de Gonzaguinha?

Até então, relação de fã: ouvia muito quando adolescente, sonhando em cantar. Depois, cantei várias por aí, mas nunca gravei.  

Qual música dele te faz pensar “puxa, eu queria ter composto essa!”?

Um monte! Diga lá meu coração, É, Recado.

Em sua opinião, como o compositor veria o atual cenário político e social do Brasil?

Com a mesma veia cirúrgica com que enfrentou os militares; estamos num momento muito similar, em termos de absurdos.

Se você pudesse escolher um único verso de uma música de Gonzaguinha, qual seria?

“Não adianta cara feia, nem adianta se zangar, ela só vai parar quando essa fome passar”

Quando você solta sua voz, o que você gostaria que o público entendesse?

O que quiser; quero que se emocionem do jeito que cada um puder e conseguir.

E o que definitivamente não dá mais para segurar?

Intolerância, preconceito e machismo.

 

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