Ney Matogrosso se apresenta hoje em Goiânia

O show será a partir das 21h, no Teatro Rio Vermelho

Postado em: 20-08-2016 às 08h00
Por: Renato
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O show será a partir das 21h, no Teatro Rio Vermelho


Júnior Bueno

O patamar a que Ney Matogrosso chegou em sua carreira o coloca entre os grandes – e poucos – artistas a quem qualquer elogio é raso e redundante. Porque o artista de 75 anos é superlativo. E o que torna ainda mais interessante de acompanhar é que ele é o grande profeta do presente. Não é ele que está à frente de seu tempo. Na verdade, sua existência denuncia o atraso com que o mundo avança. E isso se dá na música e na vida.
O cantor, que se apresenta em Goiânia hoje à noite, é dono de uma carreira marcada pela irreverência e por ousadia em suas performances. Com mais de 30 discos gravados, se impôs como intérprete de palco por excelência graças à sua interpretação marcante, capacidade de reinvenção e voz única. Ney é um artista inclassificável, que mantém durante esses quase 45 anos de carreira a versatilidade como principal característica.

Trajetória
Ney de Souza Pereira nasceu em 1º de agosto de 1941, na cidade de Bela Vista, no Mato Grosso do Sul. Cedo, demonstrou vocação artística: cantava, pintava, interpretava. Até completar 17 anos, sua família morou, além de Bela Vista, no Recife, em Salvador, no Rio de Janeiro e em Campo Grande. Quando deixou a casa da família para entrar na Aeronáutica, Ney ainda não fazia ideia do que faria de sua vida. Gostava de teatro e cantava esporadicamente, mas acabou indo trabalhar no laboratório de anatomia do Hospital de Base de Brasília. Depois, passou a fazer recreação com crianças.
Nessa época, foi convidado a participar de um festival universitário e chegou a formar um quarteto vocal. Depois do festival, fez de tudo um pouco – até atuou em um programa de televisão. Também concentrou suas atenções no teatro, decidido a ser ator. Atrás deste sonho, ele desembarcou no Rio de Janeiro, em 1966, onde passou a viver da confecção e venda de peças de artesanato em couro. Ney adotou completamente a filosofia de vida hippie.
Neste período, viveu entre Rio, São Paulo e Brasília, até conhecer João Ricardo, que procurava um cantor de voz aguda para um conjunto musical e convidou Ney para ser o cantor do grupo. Ele mudou-se para São Paulo e começou a se revelar, então, Ney Matogrosso, nome artístico que resgatou na própria família: seu pai tinha Matogrosso no sobrenome. 
O Secos e Molhados tornou-se um fenômeno da MPB. Em apenas um ano e meio, o grupo foi de um show em uma casa pequena para a fama nacional dos espetáculos em grandes ginásios, superando a marca de um milhão de discos vendidos. Ney virou destaque na banda que, ao final de um ano, já vivenciava uma série de problemas internos. Na semana em que saiu o segundo LP, o Secos e Molhados acabou. 
Com maquiagem marcante, roupas e requebros, Ney partiu para a carreira solo. Sua atitude, postura e a voz fina continuaram levantando polêmicas, através de músicas como o fado Barco Negro e Homem com H. O cantor tinha vocação para a afronta e a transgressão. “É um posicionamento que eu sempre tive”, diz ele em entrevista ao Essência.
No decorrer da carreira, Ney aperfeiçoou-se como intérprete, passando a acrescentar uma carga tão intensa de estilo pessoal a uma música, praticamente tornando-se coautor do que canta. E é esse traço marcante que o acompanha no palco do Teatro Rio Vermelho, no show Atento aos Sinais, show que tem uma roupagem clássica e contemporânea com a interpretação singular de Ney Matogrosso para compositores novos e consagrados, como Paulinho da Viola, Caetano Veloso, Itamar Assumpção, Criolo e Vitor Ramil, dentre outros. 
No palco, Ney Matogrosso estará acompanhado por Sacha Amback (direção musical e teclado), Marcos Suzano e Felipe Roseno (percussão), Dunga (baixo), André Valle (guitarra), Aquiles Moraes (trompete) e Everson Moraes (trombone). Nos palcos, Ney é a voz de todo grito, e exacerba de todas as formas a sua expressão artística. Fora deles, foi outro Ney, contido, suave, que conversou com o Essência sobre carreira, a sociedade atual e Elke Maravilha. Confira.

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Entrevista Ney Matogrosso

Como é o show ‘Atento aos Sinais’?
É o mesmo show que eu venho fazendo, há três anos, e viajado pelo Brasil com ele. Eu vou levá-lo completo, com a mesma estrutura, iluminação, o mesmo setlist.

Você ainda fica nervoso antes de um show? 
Naquele momentinho que precede, me bate, sim, um medo, porque é um show ao vivo, e qualquer coisa pode acontecer. Mas, na hora em que eu entro mesmo, já me desarmo, já relaxo.

A discussão sobre gênero sempre esteve presente no seu trabalho e está muito presente em novos cantores, como Johnny Hooker, Liniker e Filipe Catto, que beberam na sua fonte.
Eles falam que não (risos).
Mas qual a sua opinião sobre esse debate e sobre esta geração?
Essa discussão é uma discussão atrasada, as pessoas têm que existir, têm que se manifestar. Esse é um tema que já devia ter sido superado. O fato de tantos artistas trazerem isso à tona é sinal de que, enfim, encontraram um espaço para isso, porque, antes, era só eu, sozinho, fazendo isso.

Você já afirmou que a sociedade brasileira está muito careta. Como desencaretá-la?
Eu não faço ideia. Mas ao mesmo tempo estão surgindo todos esses artistas que você citou, com essas músicas. 

Enquanto muitas pessoas evocam o passado, você é um artista do presente, sempre gravando compositores atuais. Já é possível prever seus próximos passos?
Eu estou fazendo esse show há três anos, e eu nunca fiquei mais de um ano sem pensar no que eu faria logo em seguida. Bateu um desespero, mas depois eu pensei ‘se ainda não veio, virá a ideia’. E ela está chegando, vagarosamente, que eu estou bem despreocupado de tempo. Eu tenho contratos para esse show até 2017, e estou bem tranquilo em relação ao que vem depois.

Você sempre foi associado à transgressão e ao exagero nos palcos, mas fora deles você é uma pessoa comedida. Essa dualidade já foi um problema para você?
Fora dos palcos eu sou uma pessoa normal. Há muito tempo que não é um problema, mas já foi. Eu tinha medo, porque eu temia que não tivesse nenhum controle sobre esse lado artístico. Eu achava que era um problema de dupla personalidade, até. Mas, aos poucos, fui percebendo que a minha manifestação artística é mais exarcebada. Eu, no palco, tenho essa necessidade, e, fora do palco, eu não tenho a menor necessidade de ser observado. Pelo contrário: eu gosto de observar as outras pessoas.

E ainda há espaço para provocar e transgredir na música?
Sempre haverá. No momento em que temos as igrejas evangélicas dentro do Congresso. Quando temos um País de Constituição laica, mas que mistura igreja com política, tem de haver espaço para provocar.

A música é um instrumento político para você?
Sempre foi. É um posicionamento que eu sempre tive.

Por falar em provocar e transgredir, nós perdemos a Elke Maravilha recentemente. Que lembranças você tem dela?
Eu conheci a Elke, sempre a encontrava. Ela tinha um altíssimo astral, um otimismo. E uma visão muito crítica. É bom que não se perca esse lado crítico dela. Era uma pessoa de ideias muito avançadas, que enfrentou a ditadura. É uma grande perda. Embora a gente não perca, pois ela sempre vai estar aí. Mas o Brasil vai ficar mais careta sem ela.

SERVIÇO 
Show com Ney Matogrosso
‘Atento Aos Sinais’
Quando: 20 de agosto (sábado)
Onde: Teatro Rio Vermelho (Rua 4, nº 1.400, Centro)
Horário: 21h
Ingressos: De R$ 120 a R$ 360

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