Turismo religioso: Lazer com espiritualidade

Visitar cidades com caráter religioso pode ser muito interessante. Não é à toa que o turismo religioso, aquele voltado para locais de peregrinações, ganha cada vez mais adeptos. No Brasil, são muitos os locais que proporcionam essa modalidade de passeio, mas, nessa época do ano, o foco se volta para a região do Vale do Paraíba, em São Paulo, onde está a cidade de Aparecida. Ali, está abrigada a Basílica de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, padroeira do Brasil, cujo dia é comemorado em 12 de outubro. Daí a possibilidade de um passeio que une lazer e espiritualidade.
Aparecida é uma cidade pequena, tem cerca de 36 mil habitantes – conforme censo do IBGE de 2010 – é cercada por colinas e banhada pelo rio Paraíba do Sul. No período da festa da padroeira, recebe milhares de pessoas, diariamente, para as dezenas de missas, novenas e eventos em homenagem à Nossa Senhora Aparecida. A imagem, encontrada em 1717 por três pescadores, mede 39 centímetros e está instalada em um nicho especial, fixado numa das paredes da Basílica. Por um corredor, o devoto passa próximo a ela. Inegável a energia diferente que emana dali.
O suntuoso templo, o maior do Brasil entre os católicos, tem 18 mil metros de área, 107 metros de altura – incluindo o mirante –, acabamento em granito, vitrais e rosáceas em estilos moderno e sacro, que remetem à vida de Jesus Cristo. Os tons de azul da maioria dos vitrais valorizam a iluminação e destacam o altar central e as quatro naves.
No subsolo da Basílica, está a Sala dos Milagres/Promessas, onde é possível conferir – por meio de fotos, objetos pessoais, relatos, etc. – o testemunho de milhares de pessoas anônimas e famosas sobre as graças alcançadas por intercessão de Nossa Senhora Aparecida. Ali também está o estúdio da TV Aparecida, uma das livrarias oficiais e uma cafeteria ampla e confortável para atender o romeiro.

Do lado de fora
Já na área externa do Santuário, há muito o que aproveitar. O Museu de Cera, o Morro do Presépio, o Teleférico, a Capela das Velas, o Aquário e um shopping com dezenas de lojas e uma extensa área de alimentação são pontos de parada obrigatória. Então, depois da oração, há passeios interessantes a se fazer com segurança e infraestrutura – há banheiros, ambulatório médico, centro de atendimento ao romeiro e um amplo estacionamento.
Vale muito a pena uma visita ao morro do Presépio. Dá para fazer fotos lindas. Inaugurado em 2006 e concebido pelo missionário redentorista padre Ronaldo Pelaquin, o presépio tem cerca de 60 imagens espalhadas pela gruta, o lago e a cascata, além do mirante que permite vislumbrar o Santuário do alto e de mais perto. Cenas como o anúncio dos  anjos, o nascimento de Jesus e a canoa com os três pescadores que encontraram a imagem – Domingos Garcia, João Alves e Filipe Pedroso, no Paraíba do Sul – estão representadas, lá, em meio a muita água e muito verde de plantas e flores. Há rampas de acesso e piso apropriado a cadeirantes para que ninguém deixe de passar por lá.
O Museu de Cera Nossa Senhora Aparecida está localizando dentro do estacionamento também. Conta com 20 cenários e 70 estátuas para lá de realistas. É um passeio pela trajetória histórica do lugar, desde a aparição da imagem aos milagres e fatos dos dias atuais. Cada estátua em cera demorou cerca de quatro meses para ser confeccionada. A entrada custa R$ 10.
O teleférico pode ser a melhor atração depois da igreja. Inaugurado em 2014, liga a área externa do Santuário à Torre de Mirante, no alto do morro do Cruzeiro do outro lado da rodovia presidente Dutra – BR 116. São 47 bondinhos com capacidade cada para seis pessoas sentadas. O percurso até o morro dura oito minutos, e do alto dos 1.100 metros é possível ter uma vista maravilhosa do Santuário (e seu formato de cruz grega), de toda a cidade e da natureza que a cerca. Na torre, de 30 metros de altura, há dois elevadores panorâmicos que proporcionam uma visão 360 graus da região, além das 14 estações da Via Sacra.  O ingresso para o teleférico custa R$ 24 para adultos e R$ 12 para crianças com idade entre 6 e 12 anos.
Na hora em que ‘bate’ aquela fome, a área de alimentação oferece opções variadas mesmo – desde lanches das melhores redes de sanduíches aos restaurantes self service ou à la carte de comidas típicas de todas as regiões do País, além de pizzarias e confeitarias. O local é limpo, organizado e arejado. Quanto ao preço, é quase um padrão, mas considerado muito acessível e justo pela maior parte dos romeiros. Dezenas de lojas oferecem artigos religiosos, imagens sacras, livros e CDs, camisetas e inúmeros artigos para levar de lembrança da viagem ou presentear os amigos. Os preços variam pouco de uma para outra e são bastante convidativos.
No ano que vem, o Santuário ganhará mais uma atração. Um campanário está sendo construído e ficará pronto para a festa de 2017, quando se comemorarão os 300 anos do aparecimento da imagem. A obra em concreto e metal tem 20 metros de altura por nove de largura e imita mãos postas, ladeando 13 sinos em bronze, desenhados pelo artista plástico Claudio Pastro, responsável também pelo projeto dos vitrais. Juntos, os sinos pesam mais de 280 toneladas.

Pela cidade
Na cidade, a rede hoteleira também é variada, sendo possível escolher entre hotéis de alto padrão a hospedagens mais simples, estilo pensão. Os preços consultados variam de R$ 95 a R$ 400 em média. Praticamente todas as diárias oferecem café da manhã. Mas, como tudo em Aparecida está voltado para a devoção, independente do lugar em que escolher se hospedar, tenha a certeza de que será muito bem tratado e, de certo modo, estará perto do Santuário.
Ainda nas imediações do Santuário, outros pontos turísticos são a antiga Basílica matriz e o porto do Itaguaçu, às margens do rio. O acesso à Basílica é pela passarela da fé, que liga as duas igrejas – antiga e a nova. São cerca de 390 metros de comprimento e 5,85 de largura, em formato de “S”, de santa. A matriz está sendo restaurada, mas as visitas não foram suspensas. Já o porto é apontado exatamente como o local onde a imagem foi encontrada. Em 1997, teve as instalações modernizadas e passou a oferecer um passeio de balsa pelo Paranaíba. Fica a 2,5 quilômetros da Basílica, então dá para o romeiro ir a pé. Os horários de missas e bênçãos, em qualquer uma das igrejas, podem ser consultados  pelo site www.a12.com. 

Frei Galvão
A poucos minutos de Aparecida, pela BR 488, está Guaratinguetá. A cidade é uma graça, limpa, arborizada e tem boa sinalização, o que facilita muito a vida do turista. Guaratinguetá tem sido muito visitada por abrigar a Igreja de Frei Galvão, o primeiro santo brasileiro. Santo Antônio de Sant’Ana Galvão foi canonizado pelo papa Bento XVI em 11 de maio de 2007. Desde então, a cidade onde nasceu o frei tornou-se importante ponto de turismo da região, ainda que incomparavelmente menor do que Aparecida.
O Santuário Frei Galvão de Guaratinguetá é simples, justamente por isso proporciona uma aura de paz e estimula a contemplação. Ao final das celebrações das missas, os visitantes recebem um envelope com a novena e as pílulas da fé preparadas pelas Irmãs Concepcionistas da Ordem da Imaculada Conceição, no Mosteiro da Luz, conforme as orientações de Frei Galvão.
Em frente à Igreja, está uma estátua do frei. Mais uma pausa para a foto. Não vale deixar de passar na lojinha, onde souvenirs como ímãs, imagens, porta Bíblias (e outros) são atrativas lembranças de viagens. O Santuário para Frei Galvão será ampliado e oferecerá mais conforto e segurança aos visitantes. A área ao lado da Igreja atual foi doada pela prefeitura de Guaratinguetá, e, no último mês de junho, o órgão firmou um convênio com a SOS Mata Atlântica para a criação do Bosque Laudato Si, que significa “Louvado Seja Deus”, ao lado do Santuário, onde serão plantadas 8 mil mudas de árvores nativas da Mata Atlântica.
O Santuário é aberto todos os dias. Para consultar os horários de missas e novenas basta consultar o sitewww.santuariofreigalvao.com. 
Na cidade, está também a casa onde Frei Galvão nasceu. Hoje, como museu, guarda as relíquias do santo. É possível vê-las: um cordão franciscano, um fragmento de um de seus ossos e de seu hábito, medalhas e tecidos que envolveram seu corpo após sua morte, em 1822, dentre outros objetos.
Mais adiante, pela mesma rodovia – a aproximadamente 25 quilômetros de Guaratinguetá e a 30 quilômetros de Aparecida –, vale a pena uma parada em Cachoeira Paulista. O município é conhecido por ser sede do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mas também está lá a Comunidade Católica Canção Nova. Fundada em 1978 pelo padre Jonas Abib, a comunidade é, na verdade, um grande projeto de evangelização, atualmente pelos meios de comunicação – rádio, TV e internet – com alcance em outros países.
Na comunidade, um rincão, auditórios, capelas, posto médico, escola, restaurante, postos bancários, lojas de artigos religiosos, área de camping e obras sociais formam uma grande estrutura. Lá, são promovidos anualmente dezenas de shows, retiros, acampamentos de oração para as famílias, os casais e os jovens. Com sorte, durante a visita é possível conferir a gravação de alguns programas e cruzar com os cantores parceiros da obra como o diácono Nelsinho Correa, Dunga, Ricardo Sá, Luzia Santiago e até o padre Fábio de Melo. No local, está abrigado também o Santuário da Misericórdia, título oficializado em 2012, pelo Bispo da Diocese de Lorena (SP), e onde são celebradas missas diárias. O clima é de muita paz e tranquilidade.

Cançao Nova
A poucos metros da Canção Nova, há dezenas de pousadas bem estruturadas e que oferecem, a exemplo das demais cidades, preço muito em conta na diária com café da manhã. Tanto em Aparecida quanto em Guaratinguetá e Cachoeira Paulista, é possível encontrar peregrinos de todos as partes do Brasil e muitos estrangeiros, encantados com o que veem ou vivenciam.
Qualquer que seja a opção de transporte – aéreo ou rodoviário – o acesso a qualquer uma dessas cidades é fácil, rápido e relativamente seguro para quem parte de São Paulo, capital. Há três opções de aeroportos – Guarulhos, Congonhas e São José dos Campos, o mais perto. Quem prefere ir de ônibus pode escolher ingressar em alguma excursão, muito comum para esses destinos, e que, geralmente, incluem outras cidades das imediações, tais como Campos do Jordão, Ibitinga e outras, prolongando e diversificando o passeio. Levantamentos realizados em 2014 pelo Departamento de Estudos e Pesquisas do Ministério do Turismo apontam que cerca de 17,7 milhões de brasileiros viajaram pelo País levados pela fé.E pode acreditar: viajar por lugares cuja história é baseada na religião certamente é uma experiência pessoal muito interessante e renovadora.