Das 130 premiações do Nobel da Paz, 17 foram para mulheres

Elas ficaram atrás dos 88 homens e das 26 organizações que já levaram o prêmio para casa

Postado em: 08-03-2017 às 15h00
Por: Toni Nascimento
Imagem Ilustrando a Notícia: Das 130 premiações do Nobel da Paz, 17 foram para mulheres
Elas ficaram atrás dos 88 homens e das 26 organizações que já levaram o prêmio para casa

A última personalidade a receber o Nobel da Paz foi o
atual presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, em 2016, por seus esforços
para acabar com a guerra civil instaurada no país há mais de 50 anos. Foram 130
laureados com a premiação em 97 anos — entre 1901 e 2016. Entre todos os que
puderam receber o reconhecimento por seu trabalho pela paz mundial, 17 são
mulheres. Elas ficaram atrás dos 88 homens e das 26 organizações que já levaram
o prêmio para casa. Além disso, a maioria delas dividiu o prêmio com outros
homens ou organizações.

A historiadora e pesquisadora em história das mulheres e
estudos de gênero pela Universidade de Brasília (UnB), Ana Vitória Sampaio,
explica que o prêmio visa ao reconhecimento e à publicidade internacional de
indivíduos que marcaram sua época. Sobre o número muito inferior de mulheres
laureadas, Ana Vitória afirma não encontrar outra razão que não seja a
permanência e a naturalização do sexismo. “A história das mulheres já nos
mostrou que elas não estiveram ausentes do mundo da ciência, das artes, da
tecnologia, da política e até mesmo das guerras. No caso do humanitarismo, a
presença de mulheres foi maior ainda, já que elas se lançaram, sem o menor
temor, como voluntárias em guerras, zonas de conflito e países arrasados pela
miséria, pela fome e pela doença”, explica a pesquisadora.

Ana Vitória lembra que 
Madre Teresa de Calcutá tornou-se símbolo da luta contra a pobreza na
Índia. Algumas são mais desconhecidas, mesmo tendo sido laureadas com o Prêmio
Nobel, como Rigoberta Menchú Tum, ativista indígena da Guatemala, e Betty
Williams e Maired Corrigan, ativistas da paz e dos direitos humanos da Irlanda
do Norte. “Mas, muitas outras ficaram esquecidas. Como disse Virginia Woolf:
‘por muito tempo na história, ‘anônimo’ era uma mulher’”, destaca.

Continua após a publicidade

Quando se trata de mulheres esquecidas pela organização
do Nobel, Ana Vitória destaca o trabalho de Zilda Arns. “Como brasileira,
defendo que ela merecia o prêmio. Seu trabalho com a Pastoral da Criança é
reconhecido no mundo inteiro e, como médica sanitarista, ela parecia não poupar
esforços para se deslocar a outra parte do mundo e colocar a própria vida em
risco. Sua morte no terremoto do Haiti foi uma perda mundial”, afirma.

De acordo com a historiadora, outra mulher que não
recebeu o Nobel da Paz, mas teve uma atuação relevante para a paz mundial, foi
a queniana especialista em tecnologia, Juliana Rotich. “Ela desenvolveu um
conjunto de plataformas com a finalidade de conectar diversos países africanos,
difundindo informações sobre guerras e conflitos armados. No século 21, a comunicação
é uma arma poderosa, tanto para a segurança das pessoas, quanto para a
construção de medidas capazes de prevenir e erradicar a violência”, acrescenta
Ana Vitória.

O Prêmio Nobel da Paz foi criado pelo inventor sueco,
Alfred Nobel, no fim do século 19, sendo que a primeira premiação foi feita no
ano de 1901, no início do século 20. As categorias originais eram física,
química, fisiologia/medicina, literatura e paz. Desde então, o Nobel da Paz já
foi concedido 97 vezes a indivíduos e organizações.

Os primeiros ganhadores do prêmio, em 1901, foram o suíço
Jean Henry Dunant e o francês Frédéric Passy. Dunant foi o fundador do Comitê
Internacional da Cruz Vermelha. Passy fundou a Sociedade Francesa de Arbitragem
entre as Nações. De acordo com a historiadora, no caso de Henri Dunant, a Cruz
Vermelha é, até os dias atuais, uma organização internacional atuante em zonas
de conflitos, tendo participado das duas grandes guerras nundiais e outras
guerras que marcaram a história.

Conheça algumas das homenageadas com o Nobel da Paz: 

1905 – Baronesa Bertha Sophie Felicita von Suttner (nome
de solteira: Condessa Kinsky von Chinic und Tettau)

Escritora, pacifista e compositora, Bertha nasceu em
Praga, no então império austro-húngaro, hoje conhecido como República Tcheca. Ela
recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 1905 como escritora e presidente honorária do
Gabinete Internacional Permanente para a Paz.

Bertha era amiga de Alfred Nobel, depois de ter virado
sua secretária em 1875 por um breve período. A baronesa dedicou a vida à luta
pela a paz. Ela escreveu o livro Lay Down Your Arms (Abaixe Suas Armas), que
influenciou Albert Nobel a criar um prêmio anual para honrar pessoas que se
dedicassem a atingir a paz. Ela se tornou a primeira mulher a receber o prêmio.

De acordo com artigo publicado na Universidade Federal de
Campina Grande (UFCG), Bertha ajudou a organizar o primeiro Congresso
Internacional de Paz, em Viena (1891), e fundou a Sociedade Austríaca dos
Amigos da Paz. Foi eleita vice-presidente do Escritório Internacional da Paz,
durante o 3º Congresso Mundial da Paz, em Roma, e fundou o jornal Die Waffen
nieder! (1892), dedicado à paz. Essa publicação foi substituída pelo jornal
Friedenswarte (1899), para o qual continuaria fazendo contribuições até sua
morte. Viúva em 1902, continuou a trabalhar pela paz mundial, viajou
constantemente por vários países e se tornou a primeira mulher a receber o
Prêmio Nobel da Paz em 1905. Morreu de câncer durante os preparativos do 23º
Congresso Mundial da Pazantes, dois meses antes do começo da 1ª Guerra Mundial.
De acordo com seu desejo, foi cremada em Gotha e suas cinzas espalhadas ao
vento. 1931 – 

Jane Addams (em conjunto com Nicholas Murray Butler)

A segunda mulher a vencer o Prêmio Nobel da Paz fundou o Women’s International League for Peace and Freedom (Liga Internacional das Mulheres para a Paz e a Liberdade) em 1919. Jane Adams foi assistente social, filósofa, feminista, pacifista e reformadora estadunidense. De acordo com o site oficial do Nobel da Paz, ela lutou por muitos anos pela pacificação e o desarmamento das grandes potências mundiais.

Nos Estados Unidos (EUA), Jane Addams trabalhou para ajudar os pobres e acabar com o trabalho infantil. Em Chicago, administrou um centro que acolhia refugiados.

Durante a 1ª Guerra Mundial, Jane tentou convencer o então presidente dos Estados Unidos Woodrow Wilson a mediar a paz entre os países, mas os americanos entraram na guerra. Por lutar contra isso, foi considerada perigosa para a segurança dos Estados Unidos. A atuação de Jane Addams foi crucial para o acordo de paz assinado pela Alemanha em 1919. Ao fim de sua vida foi honrada pelo governo norte-americano por seus esforços pela paz. 

1946 – Emily Greene Balch (em conjunto com John Raleigh
Mott)

A próxima vencedora do Nobel da Paz veio somente 15 anos
depois, quando Emily Greene Balch ganhou o prêmio por ter dedicado a vida ao
desarmamento e à paz. Os EUA, no entanto, apesar do prêmio, continuaram
tachando Emily de radical.

Formada em sociologia, Emily Balch estudou as condições
de vida de trabalhadores, imigrantes, minorias e mulheres. Durante a 1ª Guerra
Mundial, trabalhou com a vencedora do Nobel de 1931, Jane Addams, para
persuadir líderes de nações neutras a intervir pela paz. Quando os
norte-americanos entraram na guerra, foi declarada dissidente junto com Jane.

Em 1935, Emily Greene Balch se tornou líder da
organização Women’s International League for Peace and Freedom (Liga
Internacional das Mulheres para a Paz e a Liberdade). Lutou ainda contra o
fascismo e criticou nações que não enfrentaram as políticas agressivas de
Hitler e Mussolini. 

1979- Madre Teresa de Calcutá

A religiosa, cujo nome verdadeiro é Agnes Gonxha
Bojaxhiu, nasceu em uma comunidade albanesa no Sul da antiga Iugoslávia.
Ordenou-se freira na Índia, onde recebeu o nome de Teresa. Em 1946, decidiu
abandonar o convento e viver para os pobres. Sua atuação como missionária em
Calcutá, na Índia, lhe rendeu o Prêmio Nobel da Paz em 1979.

Madre Teresa de Calcutá morreu em setembro de 1997 – seis
anos antes de ser beatificada pelo papa João Paulo II. Conhecida em vida como
“a santa das sarjetas”, Madre Teresa foi transformada em santa pela
Igreja Católica 19 anos após sua morte, quando o papa Francisco a declarou
santa em 2016.

Madre Teresa criou as Missionárias da Caridade (M.C.),
uma congregação religiosa católica concebida com o objetivo de viver a caridade
no dia a dia, assistir e auxiliar os mais desvalidos e pobres. As Missionárias
da Caridade tiveram origem em uma pequena congregação, que se transformou em
uma rede que hoje conta com mais de 4 mil religiosas trabalhando em cerca de
700 casas, dedicadas a ajudar os mais desfavorecidos em mais de 130 países. 

2004 – Wangari Muta Maathai

A queniana Wangari Muta Maathai foi professora e ativista
política do meio ambiente. Primeira mulher africana a receber o Prêmio Nobel da
Paz, ela venceu “pela contribuição ao desenvolvimento sustentável, a democracia
e a paz”.

Maathai fundou o Green Belt Movement, uma organização não
governamental ambiental voltada à plantação de árvores, conservação ambiental,
e direitos das mulheres. Maathai foi eleita membro do Parlamento queniano e era
ministra dos Recursos Ambientais e Naturais no governo do presidente Mwai
Kibaki, de 2003 a 2005. Além disso, era conselheira honorária do World Future
Council. Em 2011, Maathai morreu de câncer de ovário. 

2014 – Malala Yousafzai (com Kailash Satyarthi)

A paquistanesa Malala Yousafzai dividiu o prêmio Nobel em 2014 com o ativista indiano Kailash Satyarthi. Os dois foram premiados “pela luta contra a opressão de crianças e jovens e pelo direito de todas as crianças à educação”. Com 17 anos, Malala Yousafzai tornou-se a pessoa mais jovem a receber o prêmio.

A jovem se tornou conhecida em 2012, após ser baleada na cabeça por talibãs ao sair da escola. O ataque ocorreu no dia 9 de outubro daquele ano. Malala seguia em um ônibus escolar. Seu crime foi se destacar entre as mulheres e lutar pela educação das meninas e adolescentes no Paquistão. O país é dominado pelos talibãs, que são contra a educação das mulheres.

Em 2008, o líder talibã local determinou que todas as escolas interrompessem as aulas dadas às meninas por um mês. Na época, Malala tinha 11 anos. Seu pai, que era dono da escola onde ela estudava e sempre incentivou sua educação, pediu ajuda aos militares locais para continuar dando aulas às meninas. Mas a situação no país era de muita tensão.

Ao discursar na cerimônia, Malala prometeu lutar até que a última criança seja escolarizada. “Vou continuar essa luta até que eu veja todas as crianças na escola”. 

  

Veja Também