‘Ophelia’: universo feminino

Personagem de William Shakespeare ganha profundidade na nova montagem da Anthropos Cia. de Arte

Postado em: 14-12-2017 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Personagem de William Shakespeare ganha profundidade na nova montagem da Anthropos Cia. de Arte

GABRIELLA STARNECK*


O espetáculo Ophelia será apresentado pela Anthropos Cia. de Arte, nesta quinta-feira (14), no Centro Cultural Octo Marques. Em Hamlet, William Shakespeare apresenta a personagem ­Ophelia, embora com pouca profundidade.  Com o intuito de explorar mais o universo feminino e a representatividade da mulher na sociedade, a peça dá mais destaque a essa figura feminina. “Com este espetáculo, trazemos Ophelia em cena, e deixamos que ela se expresse”, comenta Aline Isabel, uma das atrizes. 

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“Aprofundar (o espetáculo) nessa personagem nos permitiu aprofundarmos em nós mesmas – enquanto mulheres e artistas – para nos provocar e incomodar. A partir desses questionamentos, construímos o que se tornou hoje nossa dramaturgia”, completa Lizandra Olavrak, que também é atriz. Lizandra ainda destaca que, em princípio, o espetáculo objetivava tratar de questões sobre Hamlet pela visão de Ophelia. Contudo, ao estudar o texto, outras ideias foram surgindo até que o enfoque foi redirecionado para o que se passa na mente da personagem. “Então, ao invés de discutirmos o enredo de Hamlet, seguimos o caminho dessa mulher”, ressalta a atriz. 


Ophelia

O dramaturgo William Shakespeare apresenta Ophelia – mulher da corte que se vê privada do amor e mergulha em sua própria loucura. “No texto original, Shakespeare não se aprofunda muito na personagem. Ela é quase como uma figura mítica. É o desenho de uma moça perfeita, mas que no final o que parecia perfeito acaba a levando ao suicídio”, comenta Aline Isabel. 

A Anthropos Cia. de Arte propõe uma nova montagem da personagem Ophelia. O enredo se entrelaça na história de várias mulheres ao redor do mundo – interpretadas por Lizandra Olvrak, Juliana Junqueira e Aline Isabel. Cada atriz dá vida a uma mesma personagem, cada qual carregando consigo experiências e questionamentos diversos sobre desafios, dores, angústias e prazeres do universo feminino. 

Lizandra conta que tudo começou no ano de 2004, quando as atrizes, ainda como alunas, dividiram a personagem Ophelia em cena. Dez anos depois, ao fazer um ensaio fotográfico de Juliana, em Pirenópolis, Lizandra fez uma foto da colega, na água, como se fosse a morte de Ophelia. Quando a imagem foi postada, Constantino, que foi professor e diretor da peça Hamlet, comentou: “Ophelia, isso me dá uma ideia”. Foi a partir desse episódio que nasceu a possibilidade de se fazer o espetáculo.

“Resolvi escrever o projeto e convidar as atrizes para que vivêssemos a Ophelia novamente. Constantino foi chamado para ser o diretor – já que não poderia ser outra pessoa para nos dirigir. No início deste ano, nos reunimos para fazer a leitura do texto e levantar propostas de roteiro para que pudéssemos desenvolver uma dramaturgia. Discutimos qual seria a linha que seguiríamos e qual seria a estética, já que partiríamos do zero. Após todo esse processo, passamos por três workshops que serviram de base para a construção do que estamos fazendo hoje em cena”, ressalta Lizandra. 


Reflexão

Embora a personagem Ophelia tenha sido apresentada em 1599, ela traz uma relação com as mulheres nos dias atuais, assim como afirma Lizandra. “É justamente essa relação entre Ophelia de Hamlet e a mulher de hoje que tentamos mostrar no espetáculo. Apesar de estarmos no século 21, a mulher, muitas vezes, ainda é tratada como se vivesse a séculos atrás.  Vivemos em uma sociedade patriarcal, e a luta pela igualdade de gênero – quando paramos para pensar – é algo relativamente jovem. Existem países em que isso nem é possível de se pensar, onde as mulheres são impedidas de estudar, de viver sua sexualidade, sua liberdade”, destaca Lizandra.

A atriz ainda complementa que falar sobre igualdade e sobre os direitos da mulher é algo que, em si, sempre gera certa polêmica e desconforto. “Por isso fazemos esse gancho. A partir de estudos, podemos ver que a mulher do século 21 e a relação dela com a sociedade possuem muitas semelhanças com a mulher dos séculos passados – por mais absurdo que isso possa soar”, ressalta Lizandra. Por esse motivo, o espetáculo objetiva que o espectador possa refletir sobre questões referentes à mulher. “O intuito é fazer com que as pessoas, de alguma forma, sejam sensibilizadas, passem por essa experiência junto conosco e que voltem para casa pensando e refletindo sobre o que viram”, completa a atriz. 


Desafios

Lizandra ressalta que a principal dificuldade na estruturação do espetáculo está relacionada à construção conjunta do projeto. “Por sermos pessoas com desejos e temperamentos diferentes, reunir ideias para construir uma obra que fosse legal para todos é sempre a coisa mais difícil a se fazer. Claro que em um determinado momento a gente tem que ceder para que as coisas possam fluir e, também, porque estamos construindo juntos esse trabalho”, acrescenta a artista. 

O espetáculo une teatro, dança, performance e artes visuais. Segundo Lizandra, a ideia em transformar o cenário da peça em uma instalação artística veio por parte da direção. “O nosso diretor, Constantino Isidoro, comentou que queria fazer uma coisa diferente do que já havia feito, queria outro espaço. Foi então que surgiu a ideia da galeria de arte, de colocar as atrizes no meio de instalações, de criar um caminho para que a Ophelia caminhasse. Cada uma das linguagens foi surgindo de acordo com as necessidades que tínhamos”, ressalta a atriz. 

*Integrante do programa de 

estágio do jornal O HOJE sob orientação da editora Flávia Popov


SERVIÇO

Espetáculo ‘Ophelia’

Quando: quinta-feira (14)

Horário: 20h

Onde: Centro Cultural Octo Marques (Ed. Parthenon Center, Rua 4, Centro – Goiânia)

Entrada gratuita 

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