Ailton Krenak eleito como primeiro membro indígena da ABL

Ambientalista e filósofo, Krenak traz pluralidade e compromisso com línguas nativas para a instituição, representando um avanço na valorização dos saberes indígenas no Brasil

Postado em: 08-04-2024 às 10h40
Por: Luana Avelar
Imagem Ilustrando a Notícia: Ailton Krenak eleito como primeiro membro indígena da ABL
A esperança de Krenak é que o Brasil compreenda a importância dessa mudança de paradigma na relação entre a ABL e os povos originários | Foto: Divulgação

Após 126 anos de trajetória, a Academia Brasileira de Letras (ABL) marcou um novo capítulo em sua história ao eleger seu primeiro membro indígena. O ambientalista e filósofo Ailton Krenak foi escolhido na última quinta-feira (5) para ocupar a cadeira 5, vaga desde o falecimento do historiador José Murilo de Carvalho, em agosto do ano passado.

Em declaração o  líder indígena expressou sua esperança de que o Brasil, junto com seus cidadãos, compreenda o significado dessa mudança de paradigma na relação entre a ABL e os povos originários. Ele enfatizou seu compromisso em trazer para o âmbito acadêmico as línguas nativas do Brasil, contribuindo assim para a ampliação da lusofonia. 

“Ailton Krenak na ABL significa uma reparação, representa um avanço muito grande no reconhecimento dos nossos saberes, das nossas formas próprias de organização e das nossas cosmologias”, diz Edson Kayapó, escritor premiado pela cátedra de Leitura da Unesco.

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Krenak ressaltou a vasta pluralidade representada por sua posse na cadeira número cinco da instituição. Com referências à sua própria identidade e à riqueza cultural de seu povo, ele expressou sua admiração pela diversidade, declarando-se como não apenas um, mas capaz de evocar a presença de mais de 300 povos indígenas. “Eu não sou mais do que um, mas eu posso invocar mais do que 300. Nesse caso, 305 povos, que nos últimos 30 anos do nosso país, passaram a ter a disposição de dizer: ‘Estou aqui’. Sou guarani, sou xavante, sou caiapó, sou yanomami, sou terena”, afirmou. Sua fala ressoa não apenas como um testemunho de sua própria identidade, mas também como um convite para reconhecer e valorizar a riqueza e a diversidade das culturas indígenas do Brasil.

O evento contou com a presença dos ministros dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, e da Cultura, Margareth Menezes. Nos rituais de posse, estiveram presentes os membros veteranos da ABL Heloísa Teixeira, Arnaldo Niskier, Fernanda Montenegro e Antonio Carlos Secchin. A comissão responsável pela entrada de Krenak na instituição foi composta por Edmar Lisboa Bacha, Joaquim Falcão e Ruy Castro, enquanto a comissão de saída, formada por Ana Maria Machado, Geraldo Carneiro e Antônio Torres, encerrou o ciclo anterior da cadeira.

Sobre Krenak 

Ailton Krenak, nascido em 1953 em Minas Gerais, é um ativista socioambiental e defensor dos direitos indígenas. Ele participou da fundação da Aliança dos Povos da Floresta e da União das Nações Indígenas (UNI). Além disso, é filósofo, poeta, escritor e doutor honoris causa pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Ele teve um papel ativo na defesa dos direitos de seu povo durante a Assembleia Constituinte de 1987. Seus livros foram traduzidos para mais de treze países, e ele atualmente vive na Reserva Indígena Krenak, em Minas Gerais. Entre 2003 e 2010, Krenak foi assessor especial do Governo de Minas Gerais para assuntos indígenas. Em 2014, foi palestrante em um seminário internacional no Rio de Janeiro. Em 2020, recebeu o Prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano e, em dezembro de 2021, foi nomeado Professor Doutor Honoris Causa pela Universidade de Brasília.

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