Paraquedismo como ferramenta de inclusão e conscientização

Com entrada gratuita, 5ª edição do Projeto Salto Azul rompe barreiras e leva o autismo literalmente para as alturas

Postado em: 24-04-2024 às 10h00
Por: Letícia Renata
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O Salto Azul é uma rede de apoio, um espaço seguro de troca, acolhimento e conexão entre autistas, seus familiares e profissionais que trabalham em prol da causa | Foto: Divulgação

Neste mês se celebra o Dia Mundial de Conscientização do Autismo e com o objetivo de promover a inclusão e a importância sobre o Transtorno Espectro Autista (TEA), uma condição de saúde caracterizada por déficit na comunicação social e comportamento, o Projeto Salto Azul, realiza sua 5ª edição, no dia 28 de abril, na Escola de Paraquedismo Skydive Cerrado, às 9h, com entrada gratuita. 

O evento veio para romper barreiras, ultrapassar os limites e, principalmente, provar que o esporte do paraquedismo é para quem quiser se desafiar, inclusive aqueles que possuem o TEA. “O projeto atraiu mais público com o espectro autista, para esse esporte radical. Há paraquedistas na área de Anápolis, inclusive, que foram encorajados a falar sobre o diagnóstico que tiveram na vida adulta, através do Salto Azul”, destaca Mariana, uma das idealizadoras do projeto. 

O Salto Azul nasceu há dois em Goiás e é fruto da parceria entre a terapeuta ocupacional e paraquedista Rejane Damaceno e a advogada Mariana Fernandes. “Muito se fala de autismo hoje, mas ainda há muito a falar a respeito, porque ainda existe muito preconceito em relação à causa. Inclusive, o projeto fala muito sobre isso, que nós colocamos os protagonistas, aqueles que realmente estão envolvidos na causa, não apenas os autistas, mas os pais, a família”, explica Mariana, que levou o projeto para a área de extensão da UFG em 2022. “Se fala muito sobre inclusão, mas não é apenas incluir. Nós também precisamos integrar essas crianças. E o Projeto Salto Azul a gente inclui e integra”, continua.

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As profissionais explicam que muitas vezes as famílias param de sair e socializar, porque não têm um local preparado para receber os seus filhos autistas, e que se sentem desconfortáveis pela troca de olhares que mais parecem ‘convites para se retirarem’, o que gera ainda mais medo, incerteza e insegurança.

Programação

Na ocasião, os visitantes poderão acompanhar atrações como shows, apresentação de DJ, simulação de salto de paraquedas em realidade virtual, pula-pula, pipoca, algodão doce, brindes, arte interativa, pintura facial, flash tattoo, e inúmeros sorteios. Além disso, a organização do evento separou uma área de acomodação e regulação sensorial.

As idealizadoras do projeto explicam que no dia ainda vai acontecer pela primeira vez o lançamento de uma estrutura em realidade 3D. “Nós sabemos que o paraquedismo não é um esporte muito barato, mas com o projeto nós envolvemos essa estrutura em realidade 3D, com o salto de paraquedas em Anápolis através de um óculos. E ainda tem a questão da ventilação para sentir um pouco do vento, e essa estrutura vai dar a ideia do abrir o paraquedas”, afirma.

Espaço de acolhimento

O Salto Azul é uma rede de apoio, um espaço seguro de troca, acolhimento e conexão entre autistas, seus familiares e profissionais que trabalham em prol da causa. Momento oportuno para compartilhar histórias de desenvolvimento e superação de limites, para muito além de um salto.

As pessoas com TEA são os verdadeiros protagonistas do projeto quando estão no ar, cantando, dançando, brincando e interagindo. Cada área do espaço é preparada com amor, sinceridade e gentileza, contando com a colaboração de todos, até mesmo de outros seres, como pets. O projeto destaca que incluir pessoas do espectro autista não é apenas ocupar espaço, mas também compreender as diferenças e as diferentes formas de como ocupam esse espaço. O ambiente deve estar preparado e possuir estruturas adequadas para acomodá-lo.

“E o que eu falo que é o diferencial deste projeto é que a gente traz essa questão da inclusão e da integração do indivíduo mesmo. Essa sala de acomodação e regulação sensorial é pensada em cada detalhe. A criança que tem uma sensibilidade auditiva, a gente tem lá abafador de ouvido, a criança que está com agitação motora, correndo de um lado para o outro, lá tem balanço, tem lycra, tem almofadões, todos os recursos que a criança pode usar para essa auto regulação”, explica Rejane.

As idealizadoras comemoram o crescimento do evento, que está em sua 5ª edição e já passou por outro estado com duas edições em Piracicaba e Boituva, interior de São Paulo, para elas é uma alegria imensa perceber mais peças sendo encaixadas nessa causa. “Como gostamos sempre de mencionar que chegam as peças certas, pessoas engajadas em levar a causa autista para todos os lugares, inclusive levantá-la no céu. Aliás, se levarmos em consideração que ‘o céu é o limite’ o Salto Azul desde o seu surgimento já rompeu barreiras” acrescenta Mariana.

Liberdade para mães atípicas

A terapeuta Lina Cruz, mamãe e vovó atípica, topou o desafio de saltar. Ela conta que conheceu o projeto em um evento anterior e sentiu imediatamente o carinho e cuidado com as famílias atípicas.

“Muitas vezes famílias atípicas não têm a oportunidade de vivenciar momentos como o que o projeto proporciona. A conscientização da causa é um passo extremamente importante para diminuir preconceitos”, pontua.

Ela conta que hoje, já sobreviveu a muitas situações difíceis, vive a fase mais plena da maternidade, o diagnóstico do filho veio já na fase adulta, só começou a entender sobre o autismo após o nascimento do neto, e hoje como mãe e avó atípica esclarece que “consegue acompanhar de perto cada desenvolvimento tanto do filho como do neto, atualmente com 5 anos.

Lina enfatizou a importância de projetos que une cultura, lazer e informação, como forma de quebrar barreiras e superar desafios. Está ansiosa para o dia do evento que irá saltar e explica que o diagnóstico já trouxe muita dor, e que o salto com certeza será “uma representação de se sentir livre de todas as inseguranças que o autismo já me fez sentir”, acrescenta ela.

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