Chapa de Caiado terá influência até na oposição

Projeto eleitoral do governador está aberto para aceitar aliados fora dos partidos da base, com destaque para o MDB de Daniel Vilela | Foto: Reprodução

Postado em: 05-05-2021 às 08h13
Por: José Luiz Bittencourt
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Projeto eleitoral do governador está aberto para aceitar aliados fora dos partidos da base, com destaque para o MDB de Daniel Vilela | Foto: Reprodução

O cenário final das eleições de 2022 em Goiás terá alguma influência da política nacional, mas será produzido em sua maior parte pelas variáveis internas dos partidos e dos políticos que atuam no Estado – com alguns poucos, como sempre, exercendo um papel preponderante, nenhum, absolutamente nenhum, mas do que o governador Ronaldo Caiado e o seu projeto de reeleição.

A montagem da chapa de Caiado deve ocupar todos os espaços, extrapolando os limites para até mesmo influir nas definições da oposição – hoje ostensivamente enfraquecida e dependente do posicionamento de uma única liderança ainda indecisa, o exdeputado federal e atual presidente do MDB Daniel Vilela, herdeiro político do seu falecido pai, o prefeito eleito de Goiânia Maguito Vilela.

Daniel Vilela representa um partido com potencial majoritário, embora tenha perdido força em matéria de cargos proporcionais, sob controle rigoroso nas mãos. não há quem, na classe política estadual, não especule sobre o rumo que ele vai tomar em 2022: lançar-se novamente para o Palácio das Esmeraldas (aventura que terminou em desastre em 2018), contentar-se com uma candidatura a deputado federal ou aceitar uma composição com o DEM para figurar na chapa de Caiado e, em sendo assim, na vaga de vice ou na de postulante ao Senado.

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Ressalte-se que se trata de um político impulsivo e voluntarioso, que sempre faz o que lhe dá na telha, desprezando as consequências – agindo com uma certa irreflexão. Foi assim que ele, logo após ser derrotado para governador em 2018, vingou-se expulsando os principais prefeitos do MDB, sob a alegação de infidelidade partidária por apoiar a eleição de Caiado. De uma só tacada, sob o silêncio conivente do pai Maguito, naquele instante nem um pouco conciliador, esfarinhando os alicerces emedebistas no interior e resumindo a legenda a Goiânia e Aparecida, de qualquer forma colégios eleitorais respeitáveis.

Mas Goiânia foi-se. O rompimento com Rogério Cruz isolou ainda mais Daniel Vilela e o MDB, agora restrito a Aparecida, onde viceja uma cobiça pelo seu espaço. Quer dizer: montado em uma máquina administrativa de poderio razoável, o prefeito Gustavo Mendanha alimenta o sonho de sair da paróquia e saltar para a política estadual, movimento que, pelo menos por ora, é obrigado a conter ou a disfarçar no aguardo das decisões do filho de Maguito.

Mendanha é rodeado por um grupo atrasado de articuladores egressos da pequena política aparecidense, 100% pendurado nas fartas tetas da prefeitura, cuja folha de pagamento abriga 21 partidos, os 35 vereadores e todas as lideranças de expressão mínima em diante no município, garantindo uma espécie de unanimidade artificial para o seu nome. O prefeito é crucial para o futuro político de Daniel Vilela, seja qualfor a candidatura a arriscar em 2022, pelo peso da estrutura de poder que comanda e pelo tamanho do colégio eleitoral de Aparecida, hoje passando dos 320 mil inscritos para votar.

Entre um e outro, aparentemente, reina a harmonia. O problema é conciliar, no futuro, os interesses dos dois. Muitos acreditam que ambos estão jogando de forma combinada, com Mendanha ganhando liberdade para visitar municípios, como fez na semana passada ao se reunir com prefeitos e o deputado federal Célio Silveira em Luziânia, enquanto Daniel Vilela finge que não vê e permite que à sua sombra prospere um eventual substituto para as alternativas que poderão estar disponíveis no ano que vem, como suporte para os seus planos pessoais.

Daniel carrega nas costas uma responsabilidade adicional: é amicíssimo do presidente nacional do MDB Baleia Rossi, que tem como prioridade a ampliação da bancada federal na próxima eleição e a recuperação do espaço nacional do partido, ainda mais caso o ex-presidente Lula venha a se candidatar e a vencer o pleito presidencial. Lula e o MDB já comeram um saco de sal juntos. Estando no Palácio do Planalto e dependendo, obviamente, da expressão que os emedebistas tiverem no Congresso, o melhor dos mundos se abrirá para Baleia Rossi e a sua turma.

Onde Goiás entra nessa equação? O calcanhar de Aquiles de Daniel Vilela é que, sob a sua presidência, o MDB goiano não elegeu nenhum depu tado federal. É um vexame que não pode se repetir em 2022, quando o Estado está intimado a contribuir com ao menos duas cadeiras na Câmara, senão três. A chapa proporcional, para isso, precisaria de um puxador de voto (Daniel Vilela, quem mais?) e de mais nomes consistentes, valorizando a seção emedebista de Goiás e no limite colocando o presidente regional da sigla em condições de ocupar um ministério, dentro da cota que estaria reservada a Baleia Rossi no hipotético governo Lula. um salto e tanto para o jovem Daniel.

não é exagero. Baleia Rossi, como líder da bancada na época em que Daniel Vilela foi deputado federal, o escalou para presidir comissões de destaque e para relatar matérias de importância, garantindo para o colega goiano uma visibilidade excepcional e o inserindo em articulações que perduram até agora, como, por exemplo, o debate sobre a telefonia 5G, que tem em Daniel um portavoz credenciado como elemento de ligação no país da multipoderosa Huawei chinesa – aliás com negócios em Aparecida.

Provavelmente, é para ocupar o espaço de Daniel Vilela que Gustavo Mendanha está se preparando, sintonizado ou não com ele. Sabendo do que corre nos bastidores do MDB, o prefeito de Aparecida ou está sendo estimulado por aquele que chama de “irmão” e a quem declara repetidamente lealdade ou se mexe por conta própria, matreiramente se colocando para aproveitar uma oportunidade que de repente pode aparecer.

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