Postura de Caiado na reunião dos governadores tem a ver com 2022

Objetivos são preservar possibilidade de aliança com o presidente Jair Bolsonaro e marcar posição contra Ibaneis Rocha, do DF

Postado em: 24-08-2021 às 08h34
Por: Marcelo Mariano
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Objetivos são preservar possibilidade de aliança com o presidente Jair Bolsonaro e marcar posição contra Ibaneis Rocha, do DF | Foto: Reprodução

O governador Ronaldo Caiado (DEM) participou, na segunda-feira (23), de uma reunião com 22 governadores e dois vice-governadores de outros estados e do Distrito Federal com o objetivo de apaziguar os ânimos entre poderes, além de debater o alto preço dos combustíveis.

A reunião ocorreu após o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) confrontar o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a segurança das urnas eletrônicas e apresentar um pedido de impeachment contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. Só não participaram os governadores do Tocantins, Mauro Carlesse (PSL), e do Amazonas, Wilson Lima (PSC).

Inicialmente, a ideia era preparar uma carta cobrando uma mudança de tom de Bolsonaro. No entanto, Caiado sugeriu uma reunião presencial com o presidente, o que acabou prevalecendo – haverá, ainda, reuniões com os chefes de outros poderes.

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Segundo o governador de Goiás, é preciso ter “insistência no diálogo com o presidente” para evitar, em referência à carta, “interpretações que provocam desentendimento e acirramento entre extremos”.

Nos bastidores, a avaliação é de que a postura de Caiado, além do interesse em de fato acalmar os ânimos no Brasil, tem a ver com as articulações políticas para as eleições de 2022.

Bolsonaro

O primeiro objetivo de Caiado é preservar a possibilidade de aliança com Bolsonaro, algo que poderia ficar mais difícil com uma carta nos moldes em que foi proposta.

No fundo, o governador de Goiás não queria assiná-la. Por isso, tomou a liderança para encontrar uma saída e propôs a reunião com o presidente como alternativa.

Caiado e Bolsonaro começaram seus mandatos em sintonia, mas houve distanciamento a partir de diferentes medidas adotadas por eles no contexto da pandemia de Covid-19.

O governador reconhece a importância da União para obter recursos e também o peso da base bolsonarista em Goiás, de quem não quer perder votos. Não é à toa que, nas negociações da vaga ao Senado em sua chapa, a aproximação com o governo federal é um fator determinante.

O presidente do Progressistas em Goiás, Alexandre Baldy, e o deputado federal João Campos (Republicanos) – dois dos principais cotados para disputar mandato de senador na chapa de Caiado –, têm trânsito facilitado junto a Bolsonaro.

A recente visita a Goiânia de dois ministros – João Roma, da Cidadania, e Gilson Machado, do Turismo – sinalizam que o interesse na aproximação é recíproco. “Já era seu admirador quando o conheci pessoalmente”, disse João Roma a Caiado.

Por sua vez, Gilson Machado transmitiu um recado direto de Bolsonaro: “Ele disse que sempre que o senhor, governador, precisar, deve se sentir agasalhado em casa. Porque, se não houver recursos, nós vamos lutar para ter”.

Ibaneis

Nas entrelinhas, lê-se que o segundo objetivo de Caiado na reunião era confrontar o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB).

A reunião, a propósito, foi realizada na sede do governo do DF. A maioria dos governadores preferiu participar de forma remota, inclusive Caiado, apesar da curta distância entre Goiânia e Brasília.

Nos últimos tempos, Caiado e Ibaneis acumularam uma série de desentendimentos em  diversas áreas, como a gestão da saúde referente a moradores da região do entorno do Distrito Federal e até mesmo as buscas pelo assassino Lázaro.

Além disso, Ibaneis defende abertamente a candidatura a governador do prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (MDB), possivelmente o maior adversário de Caiado em 2022.

E o fator Bolsonaro também se faz presente. O presidente está cada vez mais distante de apoiar a reeleição de Ibaneis, que, sabendo disso, passou a articular em outras frentes, como a própria reunião entre governadores.

Portanto, ao recusar a carta e propor diálogo com o presidente, Caiado não quis fechar pontes com Bolsonaro e, ao mesmo tempo, marcou posição contra o governador do Distrito Federal.

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