Assessora vende diploma falso por R$ 100 no gabinete do vereador Kleybe Morais

Nubia Pereira da Silva Ribeiro trabalha no gabinete do vereador Kleybe Morais e providenciou documento fraudulento em menos de uma hora à reportagem do O HOJE 

Postado em: 19-05-2022 às 08h43
Por: Redação
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Nubia Pereira da Silva Ribeiro trabalha no gabinete do vereador Kleybe Morais e providenciou documento fraudulento em menos de uma hora à reportagem do O HOJE | Foto: Pedro Pinheiro

Sem nenhum constrangimento, a assessora parlamentar Nubia Pereira da Silva Ribeiro cobrava R$100 por diploma falso de pós-graduação dentro do gabinete 10 do vereador Kleybe Morais (MDB) na Câmara Municipal de Goiânia. A venda foi feita principalmente nas últimas semanas depois que aprovados no processo seletivo simplificado 001/2021 da Secretaria Municipal da Educação (SME) foram ao local em busca de ajuda para obter, às pressas, horas correspondentes a uma pós-graduação exigida pelo edital do certame.

O vereador Kleybe Morais,é investigado pelo Ministério Público e pela Polícia Federal por conta de ter liderado suposto esquema de compra de votos utilizando influência na prefeitura na renovação de contratos temporários em 2017. O processo é conduzido lentamente e, enquanto isso, o parlamentar continua repetindo o modus operandi para ter apoio político e se reeleger. Ano passado, a reportagem do jornal O Hoje flagrou o parlamentar em uma reunião convocada pelas redes sociais prometendo ajudar pessoas a conseguirem uma vaga justamente no processo seletivo 001/2021 da SME.

Na tarde de sexta-feira (13), último dia para entrega de documentos para que os 1.230 convocados assumissem as vagas de servidores efetivos afastados, a reportagem gravou negociação com a servidora. Na ocasião, ela reconheceu ter “vendido” o diploma no dia anterior para um professor de Educação Física que não tinha o título de pós-graduação. O ponto de partida da investigação foram denúncias de uma fonte anônima.

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Jeitinho

Quando chegou ao gabinete, o repórter perguntou como conseguiria um certificado. Diante de dois menores aprendizes, Nubia chamou o repórter a uma sala, fechou a porta, pediu documentos e R$100. “O que eu consigo pra você é fazer o curso de 360 horas que é o que eles estão pedindo. Preciso entrar e fazer seu curso, link por link e fazer a prova”, disse, prometendo entregá-lo em 1 hora.

Nubia ainda explica que “mudaria” a data de conclusão do curso. “Precisa colocar especialização e a data tem que ser anterior à sua convocação.” Na conversa, a servidora sugere outra pessoa envolvida na fraude. “Eu faço a transferência pro menino [pessoa que edita o certificado] e ele faz o que precisa fazer e depois eu te mando o documento pronto no WhatsApp.”

A negociação continuou pelo celular. A reportagem enviou dados aleatórios – nomes e números de RG e CPF – para comprovar a fraude e, depois de enviar, via PIX, o valor exigido, recebeu o certificado do Instituto Nacional de Aperfeiçoamento Profissional, que oferece cursos livres no site Só Educador, com sede em Barbalha, no Ceará. O código do certificado, no entanto, correspondia à conclusão de curso de uma outra pessoa.

“É falso”

Procurado pela reportagem, o diretor da unidade escolar cearense, Carlos Henrique de Sousa Barros, confirmou que o documento é falso. “A pessoa usou uma especialização em Educação Física e Psicomotricidade, que é o primeiro ponto de falsificação porque a nossa empresa não disponibiliza esse tipo de graduação.”

Ainda conforme Carlos, o código de autenticidade tem letras e números que somente funcionários da empresa podem verificar. “E a pessoa pegou um código de autenticidade real e todas as outras informações são falsas. Ela está falsificando uma pós-graduação usando o nome da nossa empresa, sendo que nossa empresa não trabalha nesse segmento de pós-graduação’’, completa.

Em nota, a SME disse que vai abrir um procedimento para apurar o caso e identificar certificados emitidos pela Só Educador. A pasta também deverá tomar providências administrativas e jurídicas.

No início da tarde de quarta-feira (18), a servidora Nubia Pereira voltou a procurar a reportagem. Ela queria saber se o repórter havia tomado posse na vaga de professor na rede municipal de ensino. Sobre o outro candidato que havia se beneficiado da artimanha no dia anterior à visita da reportagem, ela disse que “deu tudo certo [tomou posse]”, mas que “muitas escolas não têm vagas”.

Outro lado

No gabinete ainda na quarta-feira, Núbia foi questionada sobre a cobrança e falsificação do documento. Inicialmente, negou qualquer participação. Em seguida, após ser indagada, respondeu, com a voz trêmula: “Você acha que eu sou boba de responder e depois me prejudicar?’’. Sobre o valor recebido, ela volta a se defender: “Você tá querendo que eu me denuncie, me entregue?”.

Outro assessor, Laerte Borges Mesquita Júnior, disse que a reportagem deveria procurar o vereador Kleybe Morais. Nervoso, pedindo para o repórter sair do gabinete, chegou a procurar agentes da Guarda Municipal. Laerte foi flagrado pela reportagem em novembro do ano passado recepcionando pessoas em reunião para falar justamente do processo seletivo 001/2021.

Em mensagem enviada a grupos na internet, o vereador pedia que pessoas acima de 35 anos comparecessem à sala 28, no térreo do Parthenon Center, na Rua 4, no Centro de Goiânia, com caneta azul, comprovante de endereço e documentos pessoais. Não era exigida, dizia a mensagem, qualquer experiência. Foi na mesma sala que ocorreram reuniões que desencadearam denúncias que levaram o Ministério Público e a Polícia Federal a investigar o vereador. Kleybe foi procurado na Câmara e por telefone, mas não respondeu aos questionamentos, principalmente se sabia o que ocorria no gabinete 10, onde exerce o cargo de vereador desde 2017. (Especial para O Hoje)

Ilustração Jornal O Hoje

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