Anselmo diz que sociedade “terá resposta” sobre venda de diplomas falsos na Câmara

Presidente da Câmara, Romário Policarpo, disse esperar que Parlamento seja notificado para que as medidas “necessárias” sejam adotadas.

Postado em: 20-05-2022 às 05h30
Por: Redação
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Presidente da Câmara, Romário Policarpo, disse esperar que Parlamento seja notificado para que as medidas “necessárias” sejam adotadas | Foto: Pedro Pinheiro

Felipe Cardoso e Francisco Costa

O clima na Câmara Municipal de Goiânia na manhã da última quinta-feira (19/5) foi marcado por um sorriso amarelo. A atmosfera era de festa, haja vista a presença dos servidores da Guarda Civil Metropolitana (GCM) e procuradores interessados na aprovação de um projeto para reestruturação dos planos de carreira. Por outro lado, porém, pairava no ar um certo ‘desconforto’ desencadeado a partir da publicação do jornal O Hoje na manhã daquele mesmo dia. A reportagem revelou a venda de diploma falso, por R$ 100,00, no gabinete do vereador Kleybe Morais (MDB).

Diversos vereadores chegaram a procurar a reportagem para comentar o assunto. “Que bomba em?!”, disse um deles. Outro, por sua vez, disparou: “mais uma para estremecer as bases da Casa [disse em alusão a matéria divulgada em Setembro do ano passado que revelou um esquema de rachadinha no gabinete do vereador Paulo Henrique da Farmácia”. Em on, claro, ninguém comentou o assunto, exceto aqueles que ocupam as maiores posições dentro da Casa — leia-se: Romário Policarpo, presidente da Casa, e Anselmo Pereira, presidente do Conselho de Ética. 

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O titular da Comissão de Ética da Câmara de Goiânia, Anselmo Pereira (MDB), comentou a venda de diplomas no gabinete do vereador Kleybe Morais (MDB) na Câmara Municipal de Goiânia pela assessora parlamentar Nubia Pereira da Silva Ribeiro e disse que o colegiado irá apurar se o parlamentar tem relação com o caso. O esquema foi revelado em primeira mão pelo jornal O Hoje, nesta quinta-feira (19). 

“Vou verificar as peças que vão chegar à Casa. Nosso poder é provocado e a publicação em jornal é uma provocação.” Segundo ele, a comissão fará o levantamento das denúncias, “sempre buscando a presunção de inocência antes de qualquer condenação”. Em caso de confirmação, existem as possibilidades de advertência, suspensão de mandato e cassação. 

Segundo Anselmo, a comissão não “passará a mão na cabeça” e sociedade terá uma resposta. Ele nega qualquer chance de corporativismo neste caso. “Fiquem tranquilos. A comissão tem trabalhado, tem dado a demonstração que observa aquilo que preceitua o comportamento de parlamentar não só aqui dentro, como lá fora”, disse. 

Por sua vez, o presidente da Câmara, Romário Policarpo (Patriota), frisou que o Parlamento ainda não foi notificado. “O que a Câmara vai fazer é o que é protocolar, como já fizemos em outros casos com outros vereadores. A gente encaminha para o Conselho de Ética e averigua se isso  tem a ver com o papel parlamentar do agente envolvido. Esperamos que isso chegue oficialmente à Câmara Municipal. Assim que chegar, faremos o que entendemos como necessário. Óbvio que o vereador também precisa ser ouvido para que possamos entender o que está ocorrendo”. O vereador Kleybe Morais não foi encontrado. O espaço continuará aberto para manifestação da defesa. 

Relembre

Conforme mostrado em reportagem exclusiva assinada pelos repórteres Lorenzo Barreto e Yago Sales, a assessora parlamentar Nubia Pereira da Silva Ribeiro cobrava R$ 100 por diploma falso de pós-graduação no gabinete de Kleybe Morais. A venda ganhou impulso nas últimas semanas, uma vez que alguns aprovados no processo seletivo simplificado 001/2021 da Secretaria Municipal da Educação (SME) dependiam de uma pós-graduação exigida no edital do certame.

Segundo apurado, Núbia cobrava para emitir um certificado do Instituto Nacional de Aperfeiçoamento Profissional, que oferece cursos livres no site Só Educador, com sede em Barbalha, no Ceará. O código do certificado, no entanto, correspondia à conclusão de curso de uma outra pessoa. Para isso, pedia, além do PIX, nomes e números de RG e CPF.

A reportagem chegou a emitir um diploma. Ao O Hoje, o diretor da unidade escolar cearense, Carlos Henrique de Sousa Barros, confirmou que o documento é falso. “A pessoa usou uma especialização em Educação Física e Psicomotricidade, que é o primeiro ponto de falsificação porque a nossa empresa não disponibiliza esse tipo de graduação.”

Ainda conforme Carlos, o código de autenticidade tem letras e números que somente funcionários da empresa podem verificar. “E a pessoa pegou um código de autenticidade real e todas as outras informações são falsas. Ela está falsificando uma pós-graduação usando o nome da nossa empresa, sendo que nossa empresa não trabalha nesse segmento de pós-graduação’’, completa.

Posicionamentos

Em nota, a SME disse que vai abrir um procedimento para apurar o caso e identificar certificados emitidos pela Só Educador. A pasta também deverá tomar providências administrativas e jurídicas.

Núbia, procurada pela reportagem, negou qualquer participação. Em seguida, após ser indagada, respondeu, com a voz trêmula: “Você acha que eu sou boba de responder e depois me prejudicar?’’. Sobre o valor recebido, ela volta a se defender: “Você tá querendo que eu me denuncie, me entregue?”.

Outro assessor, Laerte Borges Mesquita Júnior, disse que a reportagem deveria procurar o vereador Kleybe Morais. Nervoso, pedindo para o repórter sair do gabinete, chegou a procurar agentes da Guarda Municipal. Laerte foi flagrado pela reportagem em novembro do ano passado recepcionando pessoas em reunião para falar justamente do processo seletivo 001/2021.

Em mensagem enviada a grupos na internet, o vereador pedia que pessoas acima de 35 anos comparecessem à sala 28, no térreo do Parthenon Center, na Rua 4, no Centro de Goiânia, com caneta azul, comprovante de endereço e documentos pessoais. Não era exigida, dizia a mensagem, qualquer experiência. 

Foi na mesma sala que ocorreram reuniões que desencadearam denúncias que levaram o Ministério Público e a Polícia Federal a investigar o vereador. Kleybe foi procurado na Câmara e por telefone, mas não respondeu aos questionamentos, principalmente se sabia o que ocorria no gabinete 10, onde exerce o cargo de vereador desde 2017.

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