Apoio de Temer é mal visto

Para analistas, alto índice de rejeição de presidente, apontado na pesquisa Datafolha, pode respingar em candidato apoiado por ele

Postado em: 18-04-2018 às 06h00
Por: Sheyla Sousa
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Para analistas, alto índice de rejeição de presidente, apontado na pesquisa Datafolha, pode respingar em candidato apoiado por ele

Lucas de Godoi*

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O alto índice de rejeição do presidente Michel Temer pode ser um fator de preocupação para candidatos ás eleições de outubro próximo ligados a ele. Pesquisa do Datafolha divulgada nesta terça-feira mostra que 70% dos brasileiros consideram o governo do presidente Michel Temer (MDB) ruim ou péssimo. Apenas 6% aprovam sua gestão e outros 23% a consideram regular. Outro levantamento do Datafolha, divulgado no fim de semana, mostra que apenas 3% dos pesquisados votariam com certeza em um candidato apoiado por Temer.

Para o professor e cientista político Robert Bonifácio, qualquer candidato ligado à base experimentará nas urnas o resultado dessa desaprovação. Nesse sentido, aponta Robert, “qualquer que seja o candidato do governo ele terá insucesso na eleição, porque é um governo que poucas pessoas gostam, não tem nada para apresentar de diferente ao eleitorado e a última cartada do governo, que foi a intervenção militar do Rio de Janeiro, não deu em nada”, sentencia. 

Isso se refletiria, inclusive, em uma eventual candidatura do ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que se filiou recentemente ao MDB e tem se lançado como pré-candidato. “Ele é o candidato dos empresários, mas está ligado umbilicalmente ao governo Temer. A única chance de ele ter algum sucesso na eleição seria se a economia prosperasse, mas isso não vai acontecer, porque o período é muito curto para que a economia seja transformada em vitrine para ele”, reflete o Bonifácio. 

Já o professor e consultor político Marcos Marinho não acredita que o próprio Temer banque uma candidatura à reeleição. Nesse cenário, caberia a ele viabilizar o candidato certo para ter espaço no governo e manter o foro privilegiado. “Para mim, o que ele está tentando fazer agora é só manter uma nesga de poder que o liberte de uma situação mais grave e mais complicada no próximo ano”, avalia, emendando que “o momento não é nada propício para ele, porque não tem o mínimo de imagem capaz de fazer convergência de votos, apoios populares e de outros partidos também. Ele é uma pessoa que afasta muito mais do que aglutina”. 

Em uma escala de 0 a 10, o desempenho de Temer à frente do governo até o momento tem nota média 2,7, com 41% atribuindo nota zero ao presidente. Com esses números, aponta Marinho, o que resta ao presidente é pleitear algum cargo no próximo governo. “Principalmente agora com o (ex-ministro da fazenda Henrique) Meirelles se lançando como o potencial candidato do MDB, a tendência mais forte é que o Temer negocie algum tipo de atuação no cenário político, de repente tentar um ministério”, acredita. 

Para ele, os dados de pesquisa devem ser ponderados, já que a insatisfação coletiva muitas vezes não é respaldada por uma opinião crítica, mas sim pelo desconhecimento da situação real do funcionamento do processo político. “Geralmente, em linhas gerais, as pessoas não entendem o processo político e não participam ativamente. Elas percebem que não estão funcionando, não gostam de como as coisas estão acontecendo, mas não sabe muito bem como mudar”, observa o consultor, exemplificando que algumas pessoas não conseguem definir quais são as responsabilidades do poder municipal, estadual e federal. 

Os índices mostrados pela pesquisa também tratam da aprovação Temer, que é de 6%, o mesmo índice do levantamento anterior. Além disso, 23% das pessoas o consideram regular. Um ponto percentual a mais do que do levantamento de janeiro deste ano. Já 2% não opinaram sobre o tema. “É óbvio que a figura do Michel Temer é absurdamente rejeitada pela população brasileira hoje, em qualquer pesquisa que você for verificar, vai te dar isso”, enfatiza Marinho.  

Insatisfação nacional não influencia no Estado 

Embora a indicação de Temer à Presidência seja mal percebida pela ampla maioria de eleitores, em Goiás é diferente. Esse apoio não seria considerado de todo ruim, porque as pessoas usam filtros diferentes para escolher candidatos de nível nacional e estadual. Além disso, poderiam ser utilizados recursos de campanha para desfocar a presença de Temer na campanha. No Estado, seu aval seria para seu companheiro de partido, o pré-candidato Daniel Vilela (MDB). 

“O que é importante a gente perceber é que cada eleição, de acordo com cada cargo, existe uma paleta de filtros que as pessoas vão utilizar para julgar os candidatos e quando a gente traz isso para mais perto, esses filtros podem se alterar”, analisa o consultor político e professor universitário Marcos Marinho. 

Marinho vai além. Para ele, ter Michel Temer como apoiador não representa efetivamente um risco, mas sim a possibilidade de desfrutar dos recursos por traz da máquina do governo e minimizar as questões negativas. “Ele tem que utilizar o contato com Temer, sem ser necessariamente em cima da imagem do Temer. Durante a campanha, isso é tranquilo de ser desfocado. Tem muito artifício retórico, tem muita possibilidade de campanha que permite tirar esse peso todo da campanha do Daniel”, conclui. 

Para Robert Bonifácio, o que poderia ocorrer é ter essa ligação explorada pelos adversários, situação que exigiria jogo de cintura e discurso acertado. “Eu acho que isso pode ser um fato a ser explorado pelos adversários do Daniel Vilela. Invariavelmente Daniel terá de se posicionar sobre essa relação”, aponta, sinalizando que o candidato ainda não conseguiu aglutinar o apoio de muitas siglas partidárias. De acordo com o último levantamento do Instituto Serpes, Daniel Vilela possui 6,2% das intenções de voto no estado, empatado tecnicamente com o governador e pré-candidato José Eliton (PSDB).  

Pesquisa aponta corrupção como principal problema 

A corrupção voltou ao topo dos problemas citados pelos brasileiros, depois de ter ocupado o terceiro lugar em levantamentos realizados no final do ano passado pelo Datafolha. De maneira espontânea, 21% dos entrevistados citaram a corrupção como o principal problema do país. Em seguida aparecem a área da Saúde, com 19%, e a preocupação com o desemprego e a violência, que representam 13% cada. 

Em novembro do ano passado, 25% consideravam a saúde o principal problema brasileiro. Na sequência vinha o desemprego, com 19%. Só então era lembrada a corrupção, que representava 15%. Três meses antes, em setembro de 2017, 24% viam a saúde como maior problema do país, seguida por desemprego (18%) e corrupção (18%). Na série histórica sobre o tema, a corrupção alcançou o ápice na agenda de principal preocupação dos brasileiros em março de 2016 (37%, ante 17% da saúde e 14% do desemprego).

No levantamento atual, aparecem ainda como principal problema do país a violência (13%, ante 8% em novembro de 2017), educação (10%), a economia/crise econômica (4%), a má administração (2%), a desigualdade social (2%), a fome/miséria (2%), a política (1%) e a inflação (1%), entre outros menos citados espontaneamente.

Entre os brasileiros mais pobres, com renda familiar mensal de até 2 salários, 20% citam a saúde como principal problema. No mesmo patamar aparecem desemprego (18%) e corrupção (18%). Na fatia dos mais ricos, com renda familiar superior a 10 salários, a corrupção atinge 32%, 19% mencionam a violência, 15%, a educação, e só então aparecem saúde (9%) e desemprego (4%). (*Especial para O Hoje) 

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