Agro vê com desconfiança questão orçamentária na gestão Lula

Entidades do setor pisam em ovos diante da falta de comunicação com o governo federal

Postado em: 25-03-2023 às 08h06
Por: Yago Sales
Imagem Ilustrando a Notícia: Agro vê com desconfiança questão orçamentária na gestão Lula
Entidades do setor pisam em ovos diante da falta de comunicação com o governo federal | Foto: Divulgação/ Confederação Nacional da Agropecuária

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores, ainda é um incógnita para o agronegócio, um dos sustentadoras da economia brasileira. Entidades do setor ainda andam sobre ovos a partir da falta de comunicação com o governo federal. Lula, no entanto, tem se esforçado para dar recados ao setor, como a ida dele à China, onde poderia estreitar relações para a exportação de grãos, por exemplo. 

Acostumados com a grande influência nos outros tempos do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL), onde o agro era parte integrante do governo com o ministério da Agricultura sob a ministra Tereza Cristina. É tão claro isto que ela, deputada federal licenciada, elegeu-se senadora pelo Mato Grosso do Sul. 

Já no governo de Lula da Silva, que tem um relacionamento historicamente conflituoso com o agro – basta lembrar que o Movimento dos Trabalhadores sem Teto é um braço político do lulopetismo -, houve uma mudança no organograma ministerial. 

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Antes apenas uma pasta, desmembrou-se em três diferentes ministérios (Agricultura, Desenvolvimento Agrário e Pesca). Embora tenha sido alvo de mentiras na internet de que haveria um orçamento pífio, a partir do que era discutido na transição, o setor vai ter em 2023 R$ 15,3 bilhões. 

O valor foi acertado durante elaboração de proposta aprovada pelo Congresso Nacional em 22 de dezembro. O parlamento, no entanto, previa R$ 13,3 bilhões. O valor, no entanto, teve aumento de R$ 2 milhões na lei orçamentária divulgada pela Comissão Mista de Orçamento. 

As reclamações fazem sentido. O valor orçamentário, contudo, é menor do que era na gestao de Bolsonaro, quando havia, para 2022, R$ 15,6 bilhões, uma redução de menos de 2%. Uma mentira espalhada nas redes sociais, no entanto, afirmava que o valor previsto pelo orçamento chegaria a R$ 1,5 bilhão. 

O valor aprovado e que deve ser aplicado em todo 2023, deverá ser dividido com as duas pastas recriadas por Lula. Ou seja, Pesca & Aquicultura e Desenvolvimento Agrário & Agricultura Familiar. Os ministérios funcionam no mesmo prédio na Esplanada dos Ministérios, em Brasília. 

E eis o ponto, Agricultura Familiar, é a chave para compreender a desconfiança do agro com a gestão de Lula. O setor acredita que o valor que poderá ser repassado para os agricultores familiares pode fazer falta àqueles que monopolizam a produção, sobretudo, de grãos. 

O Brasil caminha para se tornar o maior produtor de grãos do mundo, mas existe um problema até lá que preocupa o setor: a falta de lugar para o armazenamento da produção. O assunto vem à tona sobretudo porque é esperado para a próxima safra um recorde. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima um déficit de 100 milhões de toneladas em 2023. Para ficar mais claro: simplesmente não há onde guardar todo esse grão. No Brasil, segundo estimativas, há uma estrutura de armazenamento em torno de 67% da produção. Dez anos atrás, no entanto, essa porcentagem era 3% maior. Sem condições de financiamento, muitos produtores não têm como construir novos silos.

Essa é uma das pautas levantadas pelo setor e que tem chegado ao presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, que, à primeira vista, era rejeitado pelo agro, mas tem aberto diálogos promissores. 

O problema de armazenagem, no entanto, ocorre desde a década de 1970 e é uma demanda do agronegócio em todos os governos desde lá. É o que lembrou, em reportagem do O Hoje, o engenheiro agrônomo Enio Ernandes. Expert no assunto, ele é consultor de mercados de milho e soja, presidente da Associação dos Produtores de Matérias-Primas (APMP), Enio explicou que o que diminui o problema é o modelo de exportação. “Conseguimos exportar soja, milho e açúcar tudo no mesmo momento”, exemplifica. 

“Em agosto fazemos a exportação desses três grãos. O problema no Brasil é que o custo operacional é muito maior do que o americano, do argentino”. Ele ainda comenta sobre o fato de o setor brasileiro ter uma menor competitividade, o que tira a renda do produtor.

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