“Pistolagem”, diz Caiado sobre incêndio em casa do presidente do UB

Episódio expõe maior crise da sigla desde a eleição de Antônio Rueda; governador afirma que partido vai pedir cassação de Bivar por suspeita de envolvimento no caso

Postado em: 13-03-2024 às 08h30
Por: Gabriel Neves Matos
Imagem Ilustrando a Notícia: “Pistolagem”, diz Caiado sobre incêndio em casa do presidente do UB
Em entrevista coletiva nesta terça-feira, Bivar foi questionado sobre as acusações de Caiado e o chamou de “pigmeu moral” | Foto: Divulgação/Secom

O governador Ronaldo Caiado (União Brasil) apontou o ainda presidente do União Brasil, deputado federal Luciano Bivar, como suposto responsável pelo incêndio na casa de Antônio Rueda, que foi eleito para comandar o partido a partir do dia 1º de junho. “Pistolagem. Crime político. Ameaça”, afirmou Caiado à jornalista Daniela Lima, da GloboNews, na terça-feira (12).

Na noite de segunda-feira (11), as casas de praia de Rueda e de sua irmã, a advogada Maria Emília de Rueda, que é tesoureira do União Brasil, foram incendiadas. Os imóveis ficam em um condomínio no litoral do Pernambuco, onde Bivar também tem uma propriedade.

Rueda publicou uma nota na qual não descarta a hipótese de atentado político. “O recém-eleito presidente Nacional do União Brasil, Antonio de Rueda, e a tesoureira do partido, Maria Emília de Rueda, lamentam profundamente o incêndio que atingiu as duas casas da família no litoral de Pernambuco na noite desta segunda-feira”, diz o texto. “Os Rueda pediram à Polícia Civil do Estado de Pernambuco célere e rigorosa investigação dos fatos. A família não descarta a possibilidade de um atentado motivado por questões político-partidárias.”

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O governador goiano, que é presidente estadual da sigla, também afirmou nesta terça-feira que o incêndio na casa de Rueda foi um “atentado contra o partido, um crime político”. “Luciano Bivar agiu como um desqualificado ao fazer ameaças à família e ao novo presidente do partido”, disse Caiado em publicação no X (ex-Twitter).

Ainda de acordo com o governador, o União Brasil fará uma representação junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que o crime seja investigado e pedirá, ainda, a cassação do mandato parlamentar de Luciano Bivar. Caiado também disse que falou com a governadora do Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), que o informou que “toda a polícia do estado está dedicada em esclarecer o caso”. “Nenhum crime ou ameaça ficará impune”, escreveu.

Em entrevista coletiva nesta terça-feira, Bivar foi questionado sobre as acusações de Caiado e o chamou de “pigmeu moral”. “Caiado não reflete o tamanho que ele é. Ele é um pigmeu moral. Até o próprio Bolsonaro falou que ele é desprezível, há pouco tempo, no Rio Grande do Sul”, afirmou.

O União Brasil vive conflitos internos desde sua criação, resultado da fusão entre DEM e PSL, em 2021. As divisões na legenda são entre essas duas alas. Bivar presidiu o PSL por mais de 20 anos. Com a eleição de Rueda — que obteve apoio da maioria dos dirigentes da legenda —, há duas semanas, o clima de racha interno escalou e chegou a sua pior crise até agora, com o incêndio nas casas dos Rueda.

Às vésperas da eleição do União Brasil, o líder da bancada na Câmara, Elmar Nascimento (BA), afirmou que Bivar havia tentado intimidar Rueda com uma suposta ameaça de morte, conforme informou o colunista Lauro Jardim, de O Globo. A sigla elegeu 69 deputados e é hoje o terceiro maior partido do país. De acordo com o TSE, o União Brasil tem fundo partidário de R$ 108 milhões por ano.

O governador Ronaldo Caiado foi um dos principais apoiadores da eleição de Rueda. Parte do entusiasmo do goiano gira em torno de fortalecer o projeto presidencial para 2026. Na semana em que Bivar foi derrotado no pleito partidário, o mandatário fez críticas ao ainda presidente da legenda em entrevista aos jornalistas no Palácio das Esmeraldas, em Goiânia. “Ele nunca soube dirigir o partido”, afirmou Caiado.

Vice-presidente do diretório estadual do União Brasil e presidente do Detran Goiás, Delegado Waldir afirmou ao jornal O HOJE que não é momento de precipitação, ao ser questionado sobre respingos que o episódio poderia ter na esfera local. “Eu sou defensor da pacificação dos dois grupos políticos do União”, afirmou. “O PT tem cinco grupos políticos que se matam dentro de uma sala, mas quando saem, saem todos unidos. Eu acho que o União tem que seguir pelo mesmo caminho.”

“O único remédio que todo grupo político tem é a decisão judicial”, disse, a respeito da apuração policial sobre os incêndios nas casas dos Ruedas. “O restante, a gente precisa esperar a investigação.” Waldir ainda classificou o fato como “atípico” e que “caberá à polícia apurá-lo”.

Segundo o eleitoralista Bruno Pena, a possibilidade de o deputado federal Luciano Bivar ser cassado apenas com base em suspeitas é praticamente nula. Pena diz ao jornal O HOJE que as investigações da polícia em torno da hipótese de Bivar ser ou não o pivô do incêndio na casa de Rueda precisam ter andamento para decisões judiciais posteriores.

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