Caiado fortalece União Brasil e esvazia partidos aliados por 2026

“Partido mais capilarizado em 2026 para fazer campanha para presidente”, avalia cientista político

Postado em: 24-04-2024 às 08h30
Por: Francisco Costa
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Manobra é vista como uma forma de fortalecimento para 2026 | Foto: Reprodução

O governador Ronaldo Caiado (UB), que é o presidente estadual do União Brasil, tem conseguido filiar um número significativo de prefeitos e pré-candidatos às prefeituras em sua legenda. A manobra é vista como uma forma de fortalecimento para 2026.

Mas, para além disso, o gestor esvazia legendas de aliados, como o MDB do vice-governador Daniel Vilela. O partido de figuras tradicionais, como Iris Rezende e Maguito Vilela, ficará sem cabeças de chapa nas campanhas em Goiânia e Aparecida, por exemplo. 

A capital tem uma tradição de ter o MDB no páreo – ou apoiar um sucessor, como ocorreu com Paulo Garcia (PT), que era vice de Iris e teve o hoje presidente metropolitano do MDB, Agenor Mariano, como companheiro na chapa. Neste ano, é possível que nem da chapa a sigla participe.

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Isto porque o pré-candidato da base caiadista é o empresário Sandro Mabel, que deixou o Republicanos e se filiou ao União Brasil. Além disso, o presidente da Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), Bruno Peixoto (União Brasil), articula para indicar um vice de seu grupo, que tem Agir, Avante, PRD e PSB. 

Já em Aparecida de Goiânia, o governador filiou Vilmar Mariano, que já estava no MDB, no União Brasil. O município vem de duas gestões de Maguito e duas de Gustavo Mendanha – que renunciou em 2022 para disputar o governo -, ambos eleitos como emedebistas. 

De fato, as quatro maiores cidades da região metropolitana têm pré-candidatos do União Brasil na cabeça da chapa. Goiânia e Aparecida, com, respectivamente, cerca 1,4 milhão de habitantes e 530 mil, além de Senador Canedo (155 mil) e Trindade (142 mil).

Em Senador Canedo, o prefeito Fernando Pellozo deixou o PSD do padrinho político Vanderlan Cardoso e foi para o União Brasil. Já em Trindade, Marden Júnior, que foi eleito pelo Patriota (hoje PRD, após fusão com o PTB), também migrou para a legenda de Caiado. 

Filiados

É preciso dizer que, em número de filiados, o União Brasil ocupa a quarta colocação em Goiás. São 51.530 membros na sigla, no Estado, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em 2023. A legenda é superada, justamente, pelo MDB, que soma 115.508. 

Ainda à frente da legenda do governador Ronaldo Caiado, está o PSDB, com 69.179 filiados, e o PP, com 51.960. Depois, vem o PT com 44.704. 

2026

O governador Ronaldo Caiado trabalha, desde o pós-reeleição, para se viabilizar como pré-candidato da direita ao Palácio do Planalto, em 2026. O gestor tenta desbancar nomes do espectro, como os também gestores estaduais, Tarcísio de Freitas (São Paulo), Romeu Zema (Minas Gerais) e Ratinho Júnior (Paraná). O goiano tenta garantir, também, a preferência e apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está inelegível.

Conforme a pesquisa Genial/Quaest, inclusive, Caiado tem a maior aprovação entre os governadores que também são presidenciáveis. O levantamento é da primeira quinzena de abril e o goiano aparece com 86% de aprovação contra 12% de desaprovação. Ratinho Júnior (PSD-PR) tem 79% e 17%; Romeu Zema (Novo), 62% a 31%; e Tarcísio de Freitas (Republicanos), 62% a 29%.

Análise

Segundo o professor e cientista político, Marcos Marinho, essa estratégia do Caiado pode ser enxergada por vários ângulos. Ele aponta que o gestor quer tornar o União Brasil o partido mais forte do Estado e tenta criar uma capilaridade, inclusive, que sempre foi do MDB. “Talvez, na perspectiva de que, fortalecendo a União Brasil, vai ter o partido mais capilarizado em 2026 para fazer campanha para presidente”, avalia.

Para Marinho, existe um problema de coligação. “Quando o partido é muito grande, ele não tem com quem coligar.” Ele acredita, ainda, que esta seria uma preocupação para o presidente nacional do MDB, deputado federal Baleia Rossi, pois “Daniel está vendo isso acontecer e está deixando, anuindo às estratégias do governo de esvaziar o próprio MDB”.

O professor questiona se isso ocorre por nove meses de governo – Daniel deve assumir em 2026 para que Caiado dispute à presidência – ou por mais quatro anos? “Ele acha que ele vai ser eleito depois, de qualquer forma, com o União Brasil? Mas o União Brasil lançando um candidato à presidência, o normal não seria lançar também a governo?”, pondera.

Para ele, ainda existe a possibilidade de Caiado migrar para o PL com o intuito de se viabilizar na disputa. Neste cenário, o senador Wilder Morais (PL), que tem interesse na disputa, também poderia concorrer ao governo, em 2026. “O Caiado está pensando no jogo dele, trazendo prefeitos e enfraquecendo aliados. O MDB sempre teve histórico de protagonismo”, cita o cientista político ao lembrar de Iris e Maguito.

“O que Daniel vai fazer daqui para frente é o que vai dar o tom. Quais lugares o MDB é protagonista, de fato? Hoje, o Caiado joga para ele, sem pensar no conjunto. Mas quem tem que se preocupar com isso é o Daniel e os demais presidentes de partido”, arremata.

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