Burocracia em processo eleitoral gera dúvidas e recuos
Em meio ao início das convenções partidárias, legendas vão decidindo seu rumos e disputa eleitoral começa a ganhar cada vez mais corpo. Reportagem ouviu pessoas envolvidas no processo da corrida deste ano
Com o início das convenções partidárias, que este ano começaram no último sábado, 20, as legendas começam a discutir quais decisões irão tomar para o pleito em outubro. Coligações, lançar candidatura própria ou reforçar uma chapa através de um acordo, as possibilidades são muitas. Em meio a tudo isso, existe toda a burocracia por trás do processo eleitoral e todas as dificuldades que uma campanha eleitoral apresenta.
As decisões a respeito das coligações e de quem será o candidato do partido precisa ser tomada até o dia 5 de agosto, quando se encerra o prazo das convenções partidárias. Os registros dos nomes dos candidatos podem ser feitos até o dia 15 de agosto, junto à Justiça Eleitoral. A respeito das cotas eleitorais, de gênero e raciais, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) precisa divulgar o percentual de candidaturas de mulheres e pessoas negras por partido até o dia 20 de agosto.
Essas são algumas das importantes datas para o eleitorado ficar atento e acompanhar os passos do processo que irá eleger prefeitos (seus respectivos vices) e vereadores. Porém, as burocracias jurídicas das campanhas vão muito além disso. É o que explica a pré-candidata à vereadora em Goiânia, Ludmila Rosa, do PSB. Formada em Direito pela Universidade Federal de Goiás, Ludmila conversou com o jornal O Hoje para falar um pouco dessas dificuldades jurídicas.
“Geralmente candidaturas a vereança encontram muita dificuldade com esses entendimentos jurídicos, justamente por conta dos custos. A seara eleitoral aqui no Estado de Goiás, ainda é muito restrita. São poucos os nomes que são efetivamente especialistas em Direito Eleitoral, e isso constitui, via de regra, advogados e advogadas bem remunerados”, diz ela.
O jeito é se contentar com a equipe jurídica que o partido disponibiliza, que é a realidade da maioria dos vereadores, segundo Ludmila. Mesmo graduada em Direito, a pré-candidata do PSB fala como o apoio de uma equipe jurídica qualificada está fazendo a diferença na sua pré-campanha, em contra mão do que foi em 2020, quando disputou pelo Avante uma vaga na Câmara Municipal da capital.
“Fui abordada por um bom escritório de Direito Eleitoral. Eles se colocaram à disposição para fazer esse acompanhamento de pré-campanha comigo. Considero que esse tenha sido um grande upgrade da minha pré-campanha até aqui em relação a 2020, porque via de regra é um limbo de informações truncadas, muitas dúvidas e isso sempre acaba beneficiando do ponto de vista do cumprimento da legislação”.
A política vê sua situação como “extremamente privilegiada” e entende que isso não se dá em todas as candidaturas. Os perrengues jurídicos são só um dos desafios enfrentados por aqueles que almejam conquistar um cargo político. As articulações, principalmente em ano eleitoral, são uma das principais formas de angariar votos. As coligações partidárias ajudam – e muito – a alavancar as candidaturas dos políticos envolvidos.
É o que fala Wilson Carvalho, de 24 anos, pré-candidato a vereador em Águas Lindas de Goiás. “As maiores dificuldades, numa candidatura para prefeito, são as articulações para se formar um bom time de pretensos candidatos a vereador” , explica ele. Afinal, para montar uma base de apoiadores é necessário ceder, o famoso ir e vir, ou no português claro, rir para fazer rir.
“Até as convenções (partidárias), ainda pairava sobre o ar quais eram os partidos que viriam a somar conosco. Os presidentes dos partidos ficam observando qual candidato tem a maior possibilidade de vitória. Graças a Deus eu tive alguns partidos do nosso lado, que agregaram muito na nossa campanha onde nós chegamos a quantidade de 32.179 votos, ficando em uma diferença de 35 votos para o prefeito atual Dr. Lucas.”, disse Wilson à reportagem.
Quando questionado sobre as partes burocráticas, o jovem político trata de forma mais geral. “Eu acredito que faz parte do próprio dia-a-dia no Brasil. O Brasil é um país muito burocrático, algumas regras nos foram impostas na época. Eu lembro que, por exemplo, eu não poderia ser visto em aglomerações, sem máscara. Se fosse pego sem máscara, em aglomerações, poderia ser penalizado de alguma forma”, diz ele, lembrando das partes burocráticas na campanha do período pandêmico.
Desafios políticos
O momento político que vivemos – principalmente se levarmos em consideração as últimas eleições presidenciais – é de polarização. Da presidência à vereança, quando o fenômeno político polarizado toma conta da situação, vivida por um país, os pleitos são quase que divididos ao meio.
“O maior desafio que nós tivemos na campanha de prefeito foi essa polarização. Querendo ou não, a polarização traz para o município uma divisão muito grande. O eleitor fica dividido sem saber para qual lado vai, então, você tem que fazer uma campanha muito próxima do eleitorado, ali no tête-à-tête mesmo. Você não consegue fazer uma campanha macro somente no marketing, tem que ir pra rua, tem que entrar dentro das casas, tem que conversar”.
Wilson foi candidato a prefeito em 2020, pelo Democratas. Não venceu o pleito por uma diferença de 35 votos para o Dr. Lucas da Santa Mônica, do Podemos. Em 2022, tentou ser deputado estadual, dessa vez pelo Partido Social Democrata, o PSD. Novamente, sem sucesso. Wilson ficou como suplente.
Para este ano, Wilson é pré-candidato para um cargo menor, o de vereador. Desperta a curiosidade, o caminho natural seria uma nova candidatura à prefeitura, mas ele justifica. “Quatro anos sem poder, o povo perde o interesse em você”. A fala reflete um pouco como funcionam os meandros políticos, afinal, o que decide o rumo de nossas vidas enquanto sociedade, é cercado de interesse, quem está fora quer estar dentro, e quem está lá, luta pela permanência.